Sophia Mendonça e Maria Luísa Nogueira
Maria Luísa Magalhães Nogueira, ou simplesmente, professora Malu fala sobre o autismo como coordenadora do Programa de Atenção Interdisciplinar ao Autismo (Praia) e como mãe do Chicão, uma linda criança de 8 anos.
Maria Luísa e Sophia Mendonça no Canal Mundo Autista https://youtu.be/oTQgQXhZe1o
Sophia Mendonça: O papo de hoje é com a pesquisadora e mãe, a Maria Luísa Nogueira.
A Malu é professora e pesquisadora do departamento de psicologia da UFMG e tem uma história ligada à pesquisa e vivência no autismo que a torna uma pessoa diferenciada. Quando você começou o seu trabalho com psicologia social? E como é que você se especializou no autismo?
Maria Luísa Nogueira: A psicologia social é um campo da psicologia que não estabelece o território de uma prática. Ela é uma proposta que constrói uma perspectiva com relação ao mundo e é uma forma crítica de ver o mundo, que envolve os aspectos políticos da vida que atravessam o nosso cotidiano.
Sophia Mendonça: Muito importante.
Maria Luísa Nogueira: A diferença dos seres é um elemento central na história desse processo de construção de nós mesmos como seres humanos, nesse processo de subjetivação. Eu já trabalhava nesse campo da diferença ao ser psicólogo social no mestrado, quando trabalhei com moradores de comunidades. No doutorado, fui estudar um pouco dessa relação entre as diferenças no campo do espaço urbano, como nos shoppings, nos condomínios fechados. O estudo era sobre a relação entre essas formas de organização no espaço que gera segregação, enfim, como é que isso funciona. Eu trabalhava no campo da intervenção artística na cidade e estava muito divertido e interessante. Foi quando eu virei mãe e o Francisco nasceu.
Então, quando eu estava no doutorado, defendendo a tese, veio o diagnóstico de autismo. Francisco tinha menos de dois anos. Claro que, apesar de eu já estar no campo do estudo da diferença, conviver o tempo todo com essa experiência é muito mais potente do que viver a diferença apenas na narrativa e no discurso. Hoje, vivo isso na prática 24 horas.
Atualmente, Francisco tem oito anos, mas há seis anos o Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) já havia muita controvérsia, direcionamentos para tratamentos inadequados, uma indústria perigosa, muito charlatanismo, e eu acabei tendo que estudar muito para tomar as decisões com relação ao tratamento do Francisco. Ele é uma criança muito feliz, que eu considero o mais importante, mas ele tem muitas comorbidades, sendo um caso complexo. Eu acabei tendo que estudar muito pois percebi que a nossa formação do curso de psicologia, na UFMG, não contemplava, adequadamente, tudo o que era importante para os psicólogos que eu gostaria que o meu filho tivesse. Então, eu comecei a trazer isso para dentro do curso. Procurei as professoras e professores que atuavam na psicologia no autismo, e professores de fora também, me aproximei deles e fui construindo essas redes dentro da universidade até que esse tema dominou o meu currículo Lattes.
Então, acabei construindo, junto com a professora Cláudia Cardoso, o Laboratório de Estudo e Extensão em Autismo e Desenvolvimento (Lead), onde a gente faz pesquisas sobre intervenção precoce, sobre o autismo e fazemos extensão também com crianças e pais. Também me aproximei da professora Ana Amélia Cardoso na Terapia Ocupacional (EEFFTO- UFMG) e estou lá junto com ela no projeto *PRAIA para a divulgação científica, mas também de extensão. Com a queridíssima Adriana Borges, da Faculdade de Educação (FAE-UFMG), e mais dois professores, uma professora e um professor, acabamos de construir um outro grupo que chamamos de Infinito, que é inovação e inclusão.
O autismo foi um convite, a vida me fez esse convite de atuar nessa área e eu não me furtei disso, entendendo que o que eu faço é, sobretudo, psicologia social. A proposta é fazer o que é socialmente relevante e o autismo precisa disso, de discussões científicas e, também, de discussões que vão além só da técnica, e é o que faz a diferença mesmo.
Sophia Mendonça: O autismo traz questões que vão muito além dos parâmetros das ciências médicas, vamos dizer, das ciências duras. Mas isso é um assunto para um próximo programa. Uma questão que você falou e eu acho muito pertinente é a questão da criação de uma rede. O pacifista Daisaku Ikeda, que eu já biografei, fala que seja como for, a grandiosa revolução de uma única pessoa irá um dia impulsionar o destino de um país e, quem sabe, de toda a humanidade.
**O Programa de Atenção Interdisciplinar ao Autismo (PRAIA/UFMG) é um projeto de extensão que visa levar conhecimento de qualidade sobre o autismo para pais e profissionais interessados no assunto O programa é composto por profissionais de diferentes áreas. http://medicina.ufmg.br/como-um-arco-iris-autismo-e-neurodiversidade/
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal UAI.