Selma Sueli Silva e Andréa Werner
Selma Sueli Silva bate um papo com a jornalista Andréa Werner, do blog “Lagarta Vira Pupa”. Elas falam sobre a vida, a carreira e maternidade.
Selma Sueli Silva: Pela primeira vez, eu e a Andréa, vamos ter um papo direto. Eu já podia ter conhecido a Andréa há bem mais tempo, porque o diagnóstico do Victor é de 2008 e ela teve o diagnóstico do filho Théo, em 2010. O blog Lagarta Vira Pupa foi lançado em 2011.
Teria sido muito bom, mas eu ainda estava focada nas minhas coisas, no meu trabalho, no Victor e no autismo. Quando eu comecei a acompanhar a Andrea muita coisa na trajetória dela, nas descobertas, me encantaram. E, como eu e a Mariana Rosa, que é daqui da nossa terrinha, a Andréa também é jornalista. Praticamos o jornalismo social, com as crônicas do cotidiano recheadas de muitas informações. Esse tipo de jornalismo convida à reflexão e é isso que me encanta, aliás, isso é uma das coisas que me encantam nessa mulher.
Para ficar claro, quem é a Andréa Werner?
Andréa Werner: Nossa gente, eu sou tanta coisa: eu sou uma mulher de 44 anos que nasceu em Minas Gerais, que morou em muitos, muitos lugares. Meu Deus, quantos caminhões de mudança eu já passei nesta vida! Eu nasci em Belo Horizonte, morei em Divinópolis, morei em Governador Valadares. Minas Gerais é muito grande. Então, quando eu morei em Valadares e ia visitar a família do meu pai no Triângulo Mineiro eram mil quilômetros percorridos dentro do estado. Para dar conta dessa viagem, a gente ia até Belo Horizonte, dormia na casa da minha avó materna e continuava mais 500 km até a cidade de Frutal.
Mais à frente, eu vim para São Paulo e, depois de formada, morei três anos no exterior. Essa vivência toda em muitos lugares foi muito importante para mim. Eu cresci com o pé na terra, subi em árvore, joguei bola na rua, coisas que são tão difíceis hoje em dia, ainda mais morando em São Paulo, em um prédio. Ainda assim, eu gosto muito das coisas simples, café com pão de queijo, eu gosto muito desse clima de família, eu tenho dois irmãos e uma irmã. A gente é super próximo, a gente tem um grupinho de WhatsApp, estamos sempre em contato. Eu gosto dessa coisa do amor de família e que é o tem me salvado nesse momento de quarentena. Estou em casa com o meu filho, o meu marido e os meus dois cachorros. Sou super “cachorreira”. Desde pequena eu enlouquecia a minha mãe, porque eu sempre aparecia com um cachorro em casa. Eu consegui criar dois cachorros enormes dentro de um apartamento. Ainda bem que me casei com um cara que também gosta muito de cachorro. É isso, sou alucinada com cachorro, com bicho e acredito que a minha profissão alternativa provavelmente seria médica veterinária. Meu instagram é recheado de fotos dos cachorros, pois realmente é algo que mexe comigo.
Eu sou uma pessoa muito sensível e alguém me falou isso outro dia sobre a empatia, essa questão de sentir as dores do mundo. É que quando você abre o olhar, começa a entender como as coisas funcionam e não dá para ‘desver’, fingir que não viu. Aliás, fingir que você não viu só piora o que que você sente que é sentir o que está acontecendo de errado no mundo, sentir o que está acontecendo de errado com o outro. Eu tenho até que me controlar com o que eu sinto, de como eu me sinto por causa do que acontece com o outro. A grosso modo é isso. Acho que foi um bom resumo.
Selma Sueli Silva: Bom Andréa, e hoje, estamos mais voltados para o ponto primordial, para a nossa casa, para a nossa gente. E você não para. O que que te move?
Andréa Werner: Nossa, o que me move são as coisas que eu acredito. E eu acredito que a gente tem o poder de fazer a diferença no mundo. Basicamente, é isso. Isso não é uma coisa que eu sempre acreditei na vida. Eu era uma criança que, primeiro, eu queria ser professora. Depois, médica. Depois, advogada e por aí vai. Fiz jornalismo e nem cheguei a trabalhar com jornalismo, pois fui lançada diretamente na carreira do marketing, que dizem que não é um lado bom da força. Então, eu fui trabalhar em empresa com marketing. Assim, eu me desenvolvi no jornalismo mesmo, quando eu comecei com o blog. E quando eu comecei com o blog, as pessoas começaram a se abrir para mim, abrir suas vidas para mim. Isso me tocou muito e, aos poucos, eu comecei a perceber o quanto o acolhimento faz a diferença. Como que uma política pública faz a diferença. E eu fui percebendo que algumas coisas que, às vezes, consideramos pequenas, essas coisas podem fazer a diferença na vida das pessoas. E se cada um fizesse uma coisinha pequena, imagina a diferença que isso ia fazer. Então, se eu posso, de uma certa forma, mobilizar as pessoas para fazerem essas coisas pequenas e multiplicar isso, essa ação já vai fazer uma diferença enorme. Então, eu me movo muito pela vontade de que o meu filho tenha um mundo melhor para viver.
Selma Sueli Silva: Outro dia eu estava vendo uma postagem sua em que você reproduzia um email que falava assim: “nossa gente, como eu mudei”. Alguma coisa assim. Essa compreensão é uma riqueza do ser humano que pode dizer: “eu não sou assim, eu estou assim, e sigo me transformando”. E esse leque de possibilidades que você abriu é o que enriquece a gente.
Andréa Werner: eu estava até falando sobre isso com a Lau Patrón. Como que, às vezes, eu leio os textos antigos do blog, e penso assim: “meu Deus jamais escreveria assim, dessa forma, de novo”. Alguns capacitismos, algumas coisas que naquela época eu não tinha a menor noção de como funcionavam.
Eu sempre fui espontânea e sempre tive facilidade para falar de sentimento. Um exemplo clássico é um texto meu onde eu falava que o autismo escolheu você, meu filho? Hoje em dia, eu penso assim, eu não consigo separar o autismo do Théo. Meu filho é autista. Não tem “o autismo”? Um Théo sem o autismo seria outro Théo, teria outro cérebro. Isso foi algo que mudou e eu jamais escreveria um texto daquele de novo. Mas o fato é que o texto está lá, faz parte da minha trajetória e da minha evolução também. Mostra como eu fui mudando de pensamento. Isso é valioso também, ter esse registro é muito bom.
Selma Sueli Silva: Você, leitor, quer saber mais? A Andréa vai voltar. Daqui a quinze dias, você vai saber mais dessa mulher que, além do blog lagarta Vira Pupa, ela teve a ideia de se candidatar, nas últimas eleições, e teve 45 mil votos. Fora outros tantos projetos que você vai conferir aqui, nesse blog.
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal UAI.