ABA, violência e produção de conteúdo na Internet são tema da coluna da jornalista e escritora Sophia Mendonça para o Portal UAi.
Dizem que quem bate esquece, mas quem apanha jamais. E se tem uma coisa que eu sou experiente nessa vida é apanhar, seja no sentido literal ou figurado. Isso vai das crises na infância aos debates sobre TEA na produção de conteúdo na Internet. E como alguém que sofreu muito com violência física e psicológica por múltiplas questões, eu tive que batalhar muito para não revidar. E não me tornar agressiva quanto aqueles que me agrediram.
Como lidei com a violência e a produção de conteúdo na Internet
Então, busquei transformar cada uma dessas agressões em uma possibilidade de olhar PARA MIM e ver o que eu poderia melhorar na minha vida. Chega uma hora que a dor incessante se anestesia, mesmo que os agressores sejam implacáveis. Hoje, estou em um patamar muito diferente do prognóstico de total dependência que recebi aos onze anos de idade. Ainda tenho obstáculos e desafios, por vezes gigantescos. Mas posso dizer que transformei cada dor da minha vida em uma oportunidade de aprimoramento pessoal e, também, que sempre busquei incentivar muitas pessoas.
E alguns acontecimentos da comunidade do autismo nos últimos tempos, me despertaram fortes gatilhos. Tive que bloquear pessoas que já admirei, outras tinham me bloqueado sem nem que eu saiba o motivo. Mas, a discussão sobre ABA ainda é algo que me doi muito. Há vários aspectos que envolvem uma análise sobre a aplicação dessa ciência no Brasil, que vão do ego e despreparo profissional ao preconceito e à desumanidade, passando pela boa intenção de dar habilidades importantes a quem não as tem naturalmente.
Discussão sobre ABA
Mas, o que eu queria dizer é que talvez eu simplesmente esteja errada. Eu ter até hoje fortes momentos de auto agressão por pensamentos ruminativos e estresse pós-traumático por ter sido submetida a certas ‘técnicas’ abistas, e por profissionais de quem eu gosto tanto (eles näo eram maus), não vai mudar a escolha dos pais de autistas nem a experiência de quem passar por isso. Talvez seja muita pretensão, por causa da minha hiper empatia, querer impedir que algumas pessoas tenham um caminho menos doloroso do que eu tive. Então, talvez eu tenha que deixar apenas rolar o fluxo natural das coisas. Se é bom ou ruim, só o tempo dirá.
Sophia Mendonça é jornalista, professora universitária e escritora. Além disso, é mestre em Comunicação, Territorialidades e Vulnerabilidades (UFMG) e doutoranda em Literatura, Cultura e Tradução (UfPel). Ela também ministrou aulas de “Tópicos em Produção de Texto: Crítica de Cinema “na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), junto ao professor Nísio Teixeira. Além disso, Sophia dá aulas de “Literatura Brasileira Contemporânea “na Universidade Federal de Pelotas (UfPel), com ênfase em neurodiversidade e questões de gênero.
Atualmente, Sophia é youtuber do canal “Mundo Autista”, crítica de cinema no “Portal UAI” e repórter da “Revista Autismo“. Aliás, ela atua como criadora de conteúdo desde 2009, quando estreou como crítica de cinema, colaborando com o site Cineplayers!. Também, é formada nos cursos “Teoria, Linguagem e Crítica Cinematográfica” (2020) e “A Arte do FIlme” (2018), do professor Pablo Villaça.
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal UAI.
Eu entendo! Obrigada por explicar isso por mim.