Sophia Mendonça e Ana Flávia Pascotto
Sophia Mendonça conversa com a psicóloga Ana Flávia Pascotto sobre a terapia ABA e o sucesso (ou não) desse método de Análise do Comportamento Aplicada. Apontada como a terapia com maior comprovação científica para autistas, mas contestada dentro da comunidade autista, a ABA sempre gera muita discussão e até dúvidas. Confira sua aplicação dentro da psicologia.
Sophia Mendonça: A gente estava conversando sobre um tema polêmico, que é a Análise do Comportamento Aplicada, a famosa ABA. Muitos autistas têm uma rejeição muito grande ao método, embora tenha comprovação científica sendo bem vista por vários profissionais que lidam com o autismo.
Ana, dentro dessas várias complexidades que envolvem o método ABA, qual seria sua percepção enquanto psicóloga clínica?
Ana Flávia Pascotto: Primeiramente, eu sempre falo que toda a ferramenta que envolve o uso da psicologia é válida, independentemente da área. Eu sou psicóloga comportamental e cognitiva. Esse método ABA tem a comprovação científica e, de fato, funciona como atestam pesquisas nos Estados Unidos e até no no Brasil. O ABA auxilia no processo de ensinar habilidades para os autistas, como já falamos aqui: habilidades básicas, higiene pessoal, olhar nos olhos, habilidades sociais. É um método importante e tem validação científica.
Diante das controvérsias, o que faz toda a diferença é a forma como o profissional se utiliza dessa ferramenta. Ela tem de ser individualizada, ou seja, para cada paciente que chega no consultório, eu tenho que fazer uma avaliação com família, com escola, com o paciente, para entender quais são os déficits, quais são os comportamentos que são considerados não-saudáveis. Mas, ao mesmo tempo, o profissional deve perceber a individuação do que a criança (ou adulto) é, para o desenvolvimento habilidades, que existem em cada um de nós, para que elas façam sentido façam sentido na vida dele. E nunca “moldá-lo” como a sociedade esperaria. Esse é o ponto mais importante da ferramenta ABA que tem muito a ensinar, mas nós temos que ter muito cuidado para não colocar as pessoas em caixinhas ao utilizar esse método.
Sophia Mendonça: Esse ponto que você tocou é muito importante e muito válido. ABA é uma ferramenta importante, mas como a gente vai utilizar? Vai depender muito da sensibilidade do profissional de perceber que aquilo não é para robotizar ou transformar a pessoa em “normal”. É para dar mais autonomia, mais habilidades a ela.
Ana Flávia Pascotto: Esse é o principal ponto, Sophia: dar autonomia e desenvolver habilidades para a pessoa viver bem, não para ela ser tirada do espectro. Uma vez autista, sempre autista, mas que vai ter uma vida mais saudável e sem tantos impactos, isso é o mais importante da terapia voltada para o método ABA.
Sophia Mendonça: A gente tem um histórico do ABA que é muito criticado. Você pode falar um pouco sobre isso?
Ana Flávia Pascotto: A análise do comportamento cabe em qualquer transtorno. A gente tem que entender como o comportamento acontece, o que antecede a ele e a consequência que vai ser o reforço ou não desse comportamento. Qualquer terapia que utiliza a ABA tem, na análise do comportamento, um importante instrumento para se entender o porquê de aquele comportamento se repetir, o porquê daquele sofrimento na vida daquela pessoa. Só que, ao longo do utilizaram o método como ferramenta para o condicionamento do comportamento ‘desejado’. Isso é muito criticado porque temos de ter muito cuidado para não induzir comportamentos “socialmente” aceitos e desejáveis. A reflexão é sobre comportamentos saudáveis para a pessoa se relacionar com o mundo.
Sophia Mendonça: Exatamente. Isso volta em um ponto em que a psicologia é uma área do conhecimento, uma ciência muito importante, que é justamente ter o senso crítico de saber o que a gente faz com esses conhecimentos e avanços que temos atualmente.
Ana Flávia Pascotto: A terapia é uma reflexão, uma ressignificação dos nossos traumas e dos nossos pensamentos para pensamentos mais saudáveis, de acordo com cada pessoa. Cada paciente é um ser individual e eu acho que esse é um ponto do método ABA. Ele é muito útil, ele é comprovado, mas a gente tem que tomar cuidado para usá-lo: com sabedoria e de forma individual, focando em cada paciente, porque dois autistas leves, por exemplo, são totalmente diferentes entre si.
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