Crítica: "Eu vi o Brilho da TV" (2024) - O Mundo Autista
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Crítica: “Eu vi o Brilho da TV” (2024)

“Eu Vi o Brilho da TV” é uma alegoria perturbadora sobre a jornada de ser trans em meio aos embatess por uma sociedade intolerante.

"Eu Vi o Brilho da TV" é uma alegoria perturbadora sobre a jornada de ser trans em meio aos embatess por uma sociedade intolerante.

"Eu Vi o Brilho da TV" é uma alegoria perturbadora sobre a jornada de ser trans em meio aos embatess por uma sociedade intolerante.

“Eu Vi o Brilho da TV” é uma alegoria pungente e, por vezes, perturbadora sobre a jornada de ser trans em meio aos embates impostos por uma sociedade frequentemente intolerante. A obra de Jane Schoenbrun, ela própria uma mulher trans, mergulha em temas profundos e universais. Dessa forma, ressoa muito além da experiência trans em si.

Desvendando a Identidade Através da Tela e da Cultura

O filme tece uma trama onde o entretenimento e a cultura se tornam faróis na busca pela auto descoberta. Para os protagonistas, a televisão não é mero passatempo, mas um portal para a compreensão de si mesmos e do mundo ao seu redor. Assim, é nesse universo ficcional que encontram ecos de suas próprias identidades em formação. Esta é uma representação crucial para quem muitas vezes não se vê refletido na realidade que os cerca.

“Eu Vi o Brilho da TV”, A Coragem de Ser e a Violência de Negar

“Eu Vi o Brilho da TV” ilumina a bravura inerente ao ato de assumir a própria identidade trans. Contudo, a luz revela também a sombra cruel da violência social, que exige a negação dessa verdade essencial para a busca de uma aceitação ilusória. Com isso, o filme expõe a dor lancinante de ter que se moldar a padrões preestabelecidos, de sufocar a própria essência em nome de uma “vida comum” ditada pelo preconceito.

Em Tempos de Intolerância: Um Olhar Sensível e Necessário

Em um contexto global marcado pela crescente hostilidade e desumanização da população trans, este filme emerge como um farol de sensibilidade. Afinal, ele nos convida a testemunhar a complexidade da luta interna travada por essas pessoas, a batalha silenciosa contra as expectativas e os julgamentos externos. A obra se torna, assim, um contraponto essencial à retórica de ódio. Dessa forma, oferece uma perspectiva humana e empática.

Elenco, Metáforas e Estética: Uma Construção Inteligente e Perturbadora

A força da narrativa é amplificada por um elenco eficiente, que entrega performances carregadas de nuances e emoção. As metáforas, construídas com inteligência e referências perspicazes, enriquecem a interpretação e convidam a múltiplas camadas de leitura. A estética, que evoca o antigo e o esquisito, confere à narrativa um tom burlesco e, simultaneamente, aterrorizante, intensificando a sensação de estranhamento e deslocamento vivenciada pelos personagens.

Um Final Arrebatador: O Que Estamos Fazendo?

O desfecho de “Eu Vi o Brilho da TV” é um soco no estômago, carregado de tristeza e capaz de gerar uma profunda comoção. Ele nos confronta diretamente com as consequências de nossa intolerância, nos forçando a refletir sobre o preço que a sociedade impõe àqueles que ousam existir fora das normas. A pergunta que ecoa após os créditos é incômoda e urgente: o que estamos fazendo com essas pessoas ao insistirmos que suas vidas se encaixem em moldes predefinidos?

A Visão de Jane Schoenbrun: Um Terror Nostálgico e Visualmente Impactante

A direção de Jane Schoenbrun merece destaque pela criação de um universo visualmente singular. A paleta de cores e a ambientação remetem a um terror nostálgico. Dessa forma, evocam a estética de programas de televisão do final do século XX, o que contribui para a atmosfera onírica e inquietante da narrativa.

Eu Vi o Brilho da TV” não é um filme fácil, mas é necessário. Afinal, ele nos convida a olhar para além das nossas próprias bolhas e a confrontar o reflexo sombrio de nossa sociedade no espelho da experiência trans. Portanto, é um chamado à empatia, à reflexão e, acima de tudo, à urgência de construirmos um mundo onde a identidade de cada indivíduo seja não apenas tolerada, mas celebrada.

Avaliação

Avaliação: 5 de 5.

Canal Filmes Para Sempre

Sophia Mendonça é jornalista, professora universitária e escritora. Além disso, é mestre em Comunicação, Territorialidades e Vulnerabilidades (UFMG) e doutoranda em Literatura, Cultura e Tradução (UfPel). Ela também ministrou aulas de “Tópicos em Produção de Texto: Crítica de Cinema “na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), junto ao professor Nísio Teixeira. Além disso, Sophia dá aulas de “Literatura Brasileira Contemporânea “na Universidade Federal de Pelotas (UfPel), com ênfase em neurodiversidade e questões de gênero.

Atualmente, Sophia é youtuber do canal “Mundo Autista”, crítica de cinema no “Portal UAI” e repórter da “Revista Autismo“. Aliás, ela atua como criadora de conteúdo desde 2009, quando estreou como crítica de cinema, colaborando com o site Cineplayers!. Também, é formada nos cursos “Teoria, Linguagem e Crítica Cinematográfica” (2020) e “A Arte do FIlme” (2018), do professor Pablo Villaça.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal UAI.

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