Há muito quero falar sobre Diversidade e os TransParentes. Contudo, desde o fim do mês de junho, tem sido um verdadeiro desafio escrever. Antes, por falta de tempo. Agora, por excesso de informações, vivências e ideias. É que minha filha de 25 anos, finalmente, realizou em 25 de junho, a sonhada cirurgia de redesignação sexual. E eu, como uma boa mãe, parente próxima, me percebi agora TransParente. Isso porque tem muita informação distorcida nesta questão de disforia ou incongruência de gênero. Então, pacientemente, vou dia a dia, compartilhar com vocês, amantes da diversidade, o que tenho aprendido sobre o assunto. Não como uma pessoa trans. Mas, com certeza como Mãe TransParente.
O que é disforia ou incongruência de gênero em pessoas Trans?
Quando nascemos, o médico olha o órgão genital e anota masculino ou feminino, conforme a genitália do recém nascido. É dessa forma que o médico, no momento de nosso nascimento, designa nosso gênero. Contudo, com o passar dos anos, independente da forma em que somos criados, nosso cérebro passa a se identificar e a perceber o mundo de uma forma mais feminina ou mais masculina, ou neutra e até outras.
Quando essa relação que estabelecemos com o mundo acontece de acordo com a designação recebida ao nascer, a vida segue. Entretanto, há pessoas, os transgêneros, que se identificam com o sexo oposto ao designado pelo obstetra.
Neste caso, se não há uma disforia de gênero. Ou seja, a disforia de gênero envolve um sentimento forte e persistente de que o sexo anatômico da pessoa não corresponde ao seu sentimento interno de ser do sexo masculino, feminino, misto, neutro ou algo mais (identidade de gênero). Nesse caso, pode haver a redesignação de gênero.
A disforia de gênero é conhecida também, como incongruência de gênero. Ou seja, essa incongruência é definida como uma condição em que uma pessoa vive um conflito interno entre o gênero físico que apresenta e aquele com o qual se identifica. Nem toda pessoa transgênero tem incongruência de gênero. Nestes casos, podem se identificar com o gênero feminino, no cérebro, e usar o órgão genital masculino para exercer a sua sexualidade. Aliás, se for por outra mulher, será homossexualidade. Entretanto, se for por um homem, será a heterossexualidade. Tudo isso está dentro da ‘Diversidade e os TransParentes’.
A diversidade, os números e os Trans Parentes
Por exemplo, no TEA – Transtorno do Espectro do Autismo, há a possibilidade de 7,59% a mais de o autista apresentar a disforia do que acontece entre as pessoas típicas. Entretanto, para quem pensa que isso é uma safadeza ou modinha como apregoam alguns políticos mal informados e, claro, mal intencionados, esqueçam.
Matéria de ontem, domingo, 07 de agosto, no caderno Gerais do Estado de Minas, traz: “VIDAS EM TRANSIÇÃO – De Emília a David: a cirurgia que, há um século, desafiou a sociedade de BH – Série de reportagens resgata operação pioneira em Minas que redefiniu gênero de jovem de 19 anos e abriu caminho para outras, mas também para muito preconceito.“
Vocês podem acompanhar essa série que é “convite para uma viagem no tempo, mais exatamente à Belo Horizonte de 1917, cidade fundada duas décadas antes e então com cerca de 18 mil habitantes na zona urbana (perto de 55 mil moradores, no total) – atualmente, a capital dos mineiros, a caminho dos 125 anos, abriga cerca de 2,5 milhões de pessoas. A série “Vidas em transição – De Emília a David ” traz à tona uma história mineira que, encoberta pelo tempo, ilumina-se com depoimentos, informações e descobertas.”
Em cirurgia considerada pioneira no estado, feita pelo médico mineiro David Corrêa Rabello (1885-1939), a jovem de 19 anos Emília Soares, apelidada Miloca, tornou-se David – nome escolhido em homenagem ao cirurgião. Com mudança na “carteira de idade”, como se chamava o documento de identidade, e atualização do sexo.
Ilustração mostra o médico mineiro David Corrêa Rabello (1885-1937), cirurgião pioneiro em cirurgias plásticas em Minas Gerais e conhecido por cirurgias de redesignação genital em pacientes como Emília, que virou David em 1917 (foto: Academia Mineira de Medicina/Reprodução)
Os TransParentes na diversidade
Quase 105 anos depois, eu vivo na minha família, na mesma cidade de Belo Horizonte, um caso semelhante. Hão de pensar os otimistas ou desavisados que, um século depois, tudo aconteceu de maneira tranquila e sem nenhum preconceito ou discriminação. Qual o quê. As pessoas tecem seus conceitos antecipados, o preconceito diante do desconhecido. E, se procurassem se informar para formar um conceito baseado na ciência e no estudo, essas pessoas, ao se verem diante do fato, passam a discriminá-lo. Nada sabem, mas discriminam e se escondem por trás de suas tênues ‘certezas absolutas’.
Dessa forma, temos famílias desfeitas ao expulsarem de casa, o ser humano que passam a não enxergar. Aliás, quando agem assim, dão total aval para uma sociedade covarde, discriminatória e excludente para lançarem esses seres humanos à sarjeta ou, pior, à sina de morrerem pelas mãos covardes do ser humano vil. Temos de rever a diversidade e os TransParentes.
Então, estamos aqui. TransParentes, para o que der e vier. Vamos levar informações a você leitor, para que não passemos mais um século, relegados à escuridão do preconceito. Assim, nos próximos dias você vai acompanhar a história que começou lá atrás com o Dr. David Rabello e, atualmente, tem o ponto principal do Brasil, em Blumenau, Santa Catarina.
Quem são as pessoas que procuram a Transgender? Qual o caminho até chegar lá? Por que ainda os números de mulheres e homens trans assassinados em nosso país são tão altos? Há preconceitos entre os policiais que apuram esses casos? Entre a imprensa que faz a cobertura? Onde estão as famílias das pessoas trans, no Brasil?
É sobre isso que vamos conversar nos próximos dias. Diversidade e TransParentes. Fiquem comigo neste fascinante mundo da diversidade e inclusão!
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal UAI.