Victor Mendonça
Este Setembro Amarelo é um período marcado como o mês da prevenção do Suicídio. Por isso, o tema de hoje no blog é tão delicado quanto importante de ser discutido. Dados apontam que autistas vivem 16 anos a menos que pessoas neurotípicas, sendo o suicídio a principal causa, ao lado da epilepsia. O autoextermínio é 9 vezes mais comum em autistas leves, pessoas que precisam lidar com as dificuldades de estarem no espectro e a cobrança por terem uma atitude próxima à “normalidade”.
Algumas das intervenções mais eficazes para o tratamento do TEA são as que mais se preocupam com as consequências dos atos de pessoas com essa neurodiversidade, em especial, nos casos de Síndrome de Asperger. Porém, quando esta consequência é uma tentativa de acabar com a própria vida, pode ser difícil ou mesmo impossível remediá-la. É preciso intervir antes que o problema, de fato, se concretize com um final trágico.
É importante salientar que precisamos estar atentos, desde o princípio, aos sentimentos de infelicidade ou inadequação das pessoas com TEA. Por causa da tendência dessas pessoas de terem pensamentos obsessivos, os gatilhos vão se tornando mais intensos e se fortalecendo com o tempo. É preciso exterminá-los pela raiz, assim que sejam detectados, e não subestimados como um simples comportamento ruim.
Falo isso com propriedade, porque já passei por situações desse tipo. Em 2017, fui parar num hospital por overdose de remédios, no que foi listado como uma tentativa de autoextermínio. Muitos fatores foram colaboradores, principalmente a falta de cuidado de determinados profissionais da área de saúde e as perseguições na Internet (e fora dela) às quais toda pessoa pública é exposta.
Já compreendi, muitas vezes, na minha própria mente e coração, o significado das palavras da personagem de Winona Ryder no filme “Garota, Interrompida”, que rendeu um Oscar a Angelina Jolie: “Sei exatamente como é querer morrer, como dói sorrir, como você tenta se encaixar e não consegue. Como você se fere por fora tentando matar o que tem dentro.”
Contudo, a minha vida segue e o mundo interno e externo seguem conturbados: embora eu me considere uma pessoa feliz, a depressão e a ansiedade, bem como possíveis gatilhos, estão lá à espreita. É por isso que eu preciso sentir-me suficientemente forte para lidar e controlar quaisquer dessas situações. Neste ponto, volto à atenção de que as emoções de uma pessoa com TEA devem ser bem cuidadas. Mesmo que tenhamos dificuldade em externá-las, elas existem e, muitas vezes, são tão intensas que acabam passando uma aparência de frieza que não é real.
Eu sei o que é quando o mundo parece estar contra você e o autista se sente impotente perante as tamanhas frustrações. No entanto, se eu quero deixar uma mensagem é que seguindo o principio da transitoriedade da vida, sempre podemos transformar qualquer realidade, por mais dolorosa e impossível de ser resolvida que a gente pense que seja.
Não há nada mais valioso do que a vida humana!
*O CVV – Centro de Valorização da Vida realiza apoio emocional e prevenção do suicídio, atendendo voluntária e gratuitamente todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo por telefone, email e chat 24 horas todos os dias. https://www.cvv.org.br/
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal UAI.
Ler suicidio no autismo
Muito bom conteúdo! Quando mais falar de autismo “leve” , melhor. É necessário que se saiba que autismo leve não é só um pouco de autismo.