Selma Sueli Silva e Dr. Luis Renato Areas
Selma Sueli Silva e Dr. Luis Renato Areas falam sobre a inclusão na sociedade e a promoção de uma sociedade com diversidade.
Selma Sueli Silva: Eu vou confessar uma coisa: eu estava doida para esse dia chegar porque lá, no segundo semestre do ano passado, eu e o Victor convidamos o senhor para uma roda de conversa e o senhor falou de um assunto e eu disse assim: “gente, o cara entende, o cara estudou isso e está muito bacana.”. Mas aí, eu pensei: “nossa, ele também trabalha nessa área, da defensoria, e deve ver tantas necessidades”. Eu queria que o senhor desse um panorama das dificuldades mais comuns que acompanha quando o assunto é deficiência. Quais são esses problemas que mais o senhor confere no dia a dia?
Dr Luis Renato Areas: Bem, são vários. Mas, o primeiro problema que a gente tem é um problema conceitual da população em geral. A população desconhece as deficiências. No caso do autismo, em específico, que é uma deficiência não aparente, há uma dificuldade imensa. Por exemplo: a prioridade. O direito à prioridade: seja dentro de um supermercado, seja em uma farmácia, em algum outro lugar, um comércio, seja em uma instituição de saúde. Já aconteceu comigo, com o meu filho, ele não ter sido respeitado na própria prioridade. Dentro de um hospital, não é prioridade passar na frente de urgência que se diga aqui, é prioridade dentro daquela categoria que ele foi colocado para atendimento. Quem estava lá falou que não tinha aquilo dentro do hospital. Por sorte, eu sou defensor público e eu fiz esse direito ser cumprido, essa lei com relação à prioridade, mas que não havia sido cumprida por desconhecimento.
Eu lembro e não me esqueço da fala de quem estava atendendo, dizendo assim: “a preocupação de outras famílias, olha, se eu te colocar na frente com o seu menino, eles não vão me compreender”. Então, é conceitual. Não só daquele que trabalha; todo mundo, enfim. Então, nós temos desde a necessidade da sociedade compreender as deficiências, compreender que não é ato de benevolência, não é caridade, que aquelas pessoas precisam daqueles mecanismos para exercer os mesmos direitos das outras. Quando eu preciso de um atendimento preferencial no caso de um supermercado mesmo, é para possibilitar que eu realize a compra, porque se eu não conseguir fazer a compra, eu vou ter que ir embora para a casa, ter que me resguardar dos mesmos direitos que as outras pessoas. E aí, nós vamos também para questões mais ampliadas, como dentro da própria saúde. Nós temos profissionais que não sabem lidar com as próprias deficiências, que não tem conhecimento técnico, que não sabem fazer aquela abordagem desde o início, desde a comunidade. Nós temos o mercado de trabalho, é muito complexa a situação, as empresas maiores cumprem a lei de cotas e, muitas vezes, nem trabalha, fica em casa recebendo ali só pelo ato da legislação. E é o inverso, o que a gente quer fazer: promover a dignidade dessa pessoa. Dizer que ela pode sim, contribuir, para a sociedade, contribuir para o seu sustento. E também, já entrando para o assunto dos outros direitos, eu coloquei o assunto da saúde, um pouco do trabalho, mas tem vários outros, tem cultura, em que, inclusive, nós temos casos em comum.
Enfim, são vários. E tem a educação. Chegando na educação, também é muito emblemático. Porque, dentro da educação, a gente forma valores. Então, a gente tem a oportunidade dessa nova geração, com a inclusão da pessoa com deficiência na escola, a gente mudar esse mundo. Mudar o rumo desse planeta através das pessoas que estão entrando agora. Por isso, eu coloco a educação como um dos principais desafios, dos principais nortes que nós temos que ter com relação à inclusão da pessoa com deficiência. Porque ali, nós não estamos apenas assegurando um direito, e não é um direito daquela pessoa que está estudando, daquela pessoa com deficiência, mas daqueles alunos de conviver com a diversidade. De ver que é possível aprender de outras formas, não só daquela forma tradicional, daquele professor ensinando ali no quadro negro. Isso que faz crescer a sociedade, crescer o ser humano como pessoa, não só em conhecimentos técnicos, conhecimentos programáticos, mas conhecimentos de vida. Então, acredito que hoje a educação seja um momento de desafio, ainda mais neste momento em que passamos a respeito desse vírus; acredito que todos os conceitos humanos serão revistos a partir deste momento que estamos vivenciando.
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