Não existe filho deficiente. - O Mundo Autista
O Mundo Autista

Não existe filho deficiente.

Desenhos estilizados de cachorro, mão, galinha, balões, gato e ponto de interrogação

Somos muitos e diferentes

Não existe filho deficiente. Então, quando eu era criança, estranhava ouvir: “Meu filho é deficiente.” Mais tarde, bem mais tarde, ouvi também: “Qual aluno? O de inclusão?” Aliás, havia mãe que dizia: “Eu tenho 3 filhos, um deles é adotivo. Nunca entendi. Certamente, se era filho, era filho e ponto. Assim, qualquer especificidade de qualquer um desses filhos que fosse relevante, só deveria surgir com o avançar da conversa. Agora, advertir para a especificidade significava o quê? Algum tipo de não aceitação ou, no pior das hipóteses, preconceito.

Mas a verdade é que ninguém deseja ter um filho atípico. Contudo, não há como escolher. Desse modo, o mesmo acontece com o aluno. Por exemplo, eu nunca soube de um conselho de classe para determinar qual professora ficaria com todos os alunos atípicos. Na verdade, nascemos para conviver juntos e misturados. Afinal, a diferença, como disse outras vezes, é uma provocação à nossa criatividade enquanto sociedade. Dessa forma, não existe maior riqueza do que um povo diverso (todos somos, ninguém é igual a ninguém) e plenos em nossas diferenças. Já adotar filhos é uma escolha. Mais um motivo para não haver distinção entre os biológicos e os adotivos.

Não existe filho deficiente. É filho e só!

As diferenças são convite à adição. Jamais à divisão. Quando perdemos alguém, pessoa diferente ou não há, certamente, uma perda à sociedade. Mais uma vez: não existe filho deficiente, aluno de inclusão ou filho adotivo. Se não percebemos isso, ainda não entendemos sobre amar a nós mesmos e ao próximo. O amor é filho da esperança e a esperança amorosa é o que nos motiva à ação construtiva.

Determinado pai de três filhos, dois homens, de 30 e 27 anos e uma mulher de 25 anos, com síndrome down, perdeu o filho do meio, um pouco antes do começo da pandemia. Ainda houve o velório entre os familiares e uns poucos amigos. Aconteceu de um desses amigos mais íntimos, vendo o sofrimento daquele pai e, sentindo ele próprio, vulnerável àquela dor, abraçou o amigo e disse: “Como podemos entender as coisas. Se a morte é inevitável, ela pelo menos poderia ter levado sua filha deficiente.”

Pobre homem. Quanta ignorância. Que fala infeliz dita ao amigo, na tentativa de consolá-lo. Pela dor e a surpresa explícitas no olhar do pai desolado, ele percebeu, da pior maneira possível que, o pai amoroso tem apenas filhos. E é o que basta para amá-los.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal UAI.

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