No autismo não há regra de como será vivido o luto e empatia. Desde 2008, quando fui apresentada, oficialmente, ao autismo, já me deparei com diversas reações.
Variáveis do luto
Na minha jornada, houve pessoa autista que reagiu com naturalidade. Essa pessoa entendeu que a morte faz parte da vida. Então, era lógico que sua mãe partisse um dia. Certamente, a compreensão não eliminou a saudade nos anos subsequentes.
Outra pessoa sentiu-se traída, ao saber que a mãe havia partido. Houve raiva e dor. Outra, sofreu, percebeu-se sozinha. Então, resolveu honrar tudo que a mãe lhe ensinara. Segue a vida com a saudade da mãe, sempre presente.
O luto e empatia aqui em casa
Desde que perdi o primeiro ente querido, fico triste pela ausência física. Porém, entendo que a vida e a morte são unas. A morte seria uma espécie de sono reparador. E também, o preparo para o renascimento, numa outra existência.
Há dois anos perdi meu namorado. Estranhei a minha reação. Não conseguia parar de chorar. Nunca fui assim. Percebi, então, depois de muita oração, que para mim, aquela morte poderia ser evitada. Assim, ela não fez sentido, não havia lógica. Dessa forma, o cérebro neurodivergente fica confuso. Entretanto, não dependia de mim evitá-la. Aprendi que, nem tudo, podemos evitar. Ele não permitiu que eu o ajudasse. E eu respeitei a vontade dele.
Evidentemente, tenho receio da partida de meus pais. Eles tem mais de 80 anos. Entretanto, me conforta saber que aproveito a presença deles em minha vida. Agir assim, evita lamentarmos a partida inevitável. Seguimos honrado o legado da pessoa querida. Trazendo em nós, todo o aprendizado da relação vivida. E com uma saudade que vem da presença constante da ausência de quem não temos mais ao alcance de nossos olhos. Ficam as memórias afetivas, o calorzinho no coração…
Selma Sueli Silva é criadora de conteúdo e empreendedora no projeto multimídia Mundo Autista D&I, escritora e radialista. Especialista em Comunicação e Gestão Empresarial (IEC/MG), ela atua como editora no site O Mundo Autista (Portal UAI) e é articulista na Revista Autismo (Canal Autismo). Em 2019, recebeu o prêmio de Boas Práticas do programa da União Europeia Erasmus+. Prêmio Microinfluenciadores Digitais 2023, na categoria PcD. É membro da UNESCOSOST movimento de sustentabilidade Criativa, desde 2022.
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