Muitas pessoas desconhecem que a exaustão social é uma das características da pessoa no autismo. Ou se sabem, vão logo dizendo: “então, eu sou autista. Eu também sou assim.” Nessa hora, não há pessoa que esteja dentro do TEA – Transtorno do Espectro do Autismo que não se sinta muito irritada. Afinal, é possível que a outra pessoa tenha algo parecido. Mas quem é autista sabe que com a gente a intensidade dessa exaustão é elevada a enésima potência. Além disso, a pessoa no espectro tem perdas reais em sua vida diária por causa dessa exaustão.
Tenta, reaja contra essa exaustão social
Aliás, outra frase bem irritante que ouvimos sempre, quando se trata dessa exaustão é: “Tenta, reaja. Não se entregue à exaustão.” Minhas deusas amadas. Nada disso, pois é exatamente aí que apresentamos nossa limitação. Não depende de esforço, de reagir, de tentar ou não. Nós estamos sob forte impacto cerebral. Como um cadeirante se sentiria ao ouvir: “Reaja, não se entregue. Levanta daí.” É, basicamente, a mesma coisa. Portanto, muito irritante e frustrante.
Experiência particular de exaustão social
No fim de semana do dia 25 de agosto, eu saí de BH, pela manhã. Cheguei em São Paulo às 9h00. Então, fiquei no local reservado da Latam à assistência dos casos de prioridade e preferência para embarcar. Porém, meu voo só sairia à tarde, às 14h00. Assim, tomei um chá de aeroporto e já estava ansiosa, quando percebi que haviam se esquecido de mim.
A partir daí foi um show de horrores. Minha acompanhante parece que estava de mal com a vida e quase corria à minha frente. Não olhava para mim e eu, tentava acompanhá-la para não me confundir. Ao chegarmos no embarque, tivemos de esperar. O pessoal da Latam parecia meio perdido. Então, minha assistente disse que ia ao banheiro. Eu não podia acreditar.
É preciso saber sobre exaustão social no autismo
Ela demorou e quando voltou, o embarque já havia começado, ela passou direto e seguiu. Eu gritei desesperada e perguntei se ela era a acompanhante. Ela disse que sim. Eu não reconheço pessoas quando fico muito nervosa. Perguntei se ela sabia qual era minha limitação e ela disse que não. Mas também, completou que bastava saber que eu era caso de prioridade. Eu argumentei que não, pois eu não tenho senso de localização dentro do aeroporto.
Quando chegamos ao primeiro lugar da fila, antes de entrar no avião, todos aguardavam a autorização para embarque. Foi quando a acompanhante disse que não tinha de saber da minha limitação, afinal eu estava sem o cordão com girassóis. Tentei argumentar com ela e outra colega que se encaminhou para a comissária chefe e voltou dizendo que eu não iria embarcar.
Aliás, disseram que me levariam ao Posto de Saúde. Eu disse que não era doente, que era autista. Porém, neste momento a crise aconteceu. Nunca me senti tão humilhada. Acabei embarcando pois até os passageiros intervieram a meu favor. Mas foi uma sobrecarga daquelas. A partir daí, encontrei com Sophia em Florianópolis e gravamos participação no filme Humor Azul, com lançamento em abril de 2024. Foi muita correria, espera longa por motoristas, muito vento até que, no domingo à tarde retornei a BH. Conclusão: Passei uma semana de cama, num esgotamento real e uma gripe deflagrada pela espera do motorista por 40 minutos ao vento de Floripa.
Exaustão social e o despreparo da @latambrasil
Postei com mais detalhes minha saga no instagram. Vários seguidores solicitaram posicionamento da empresa. E eu também, claro!
Assim, a @latambrasil me enviou um direct, pediu meu telefone. Dias depois recebo um telefonema com um pedido de desculpas. A moça falava muito bonito e só. Eu solicitei que me enviassem uma resposta por escrito e que passassem meu contato para o passageiro que me ajudou. Gostaria de agradecer. Além disso, me disponibilizei a dar treinamento aos funcionários da @latamdobrasil pois diversidade é assunto sério. Não tem volta. É preciso conhecer sobre o assunto para ser uma empresa inclusiva. A moça das belas palavras amou a ideia, disse que me retornaria com as minhas demandas resolvidas e até hoje nada.
Recado para @latamdobrasil
O tempo do telefonema com pedidos de desculpas e só, fez sucesso no passado, pois havia pessoas que se sentiam ouvidas. Agora, somente as palavras não nos bastam. Diversidade e Inclusão é coisa séria. Não tem volta. E quem não dominar o assunto, continuará aparecendo nas redes sociais como uma empresa fria, sem preocupação social. Como aconteceu ontem/hoje, 12 e 13 de setembro, com este post abaixo. Lamentável, sério e frustrante, não é Juliana Caiaffa?
Selma Sueli Silva é criadora de conteúdo e empreendedora no projeto multimídia Mundo Autista D&I, escritora e radialista. Especialista em Comunicação e Gestão Empresarial (IEC/MG), ela atua como editora no site O Mundo Autista (Portal UAI) e é articulista na Revista Autismo (Canal Autismo). Em 2019, recebeu o prêmio de Boas Práticas do programa da União Europeia Erasmus+. Prêmio Microinfluenciadores Digitais 2023, na categoria PcD. É membro da UNESCOSOST movimento de sustentabilidade Criativa, desde 2022.
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal UAI.
Obrigada por postar e ajudar outras pessoas. Pesquisando pois meu filho de 15 anos acaba de ser diagnosticado.
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