Arte e entretenimento

Crítica: Infiltrado na Klan (2018)

O filme “Infiltrado na Klan”, vencedor do Grande Prêmio do Júri no Festival de Cannes, é bastante forte e oportuno em sua mensagem. Afinal, a obra nos leva a refletir sobre a perigosa sensação de superioridade de determinado grupo social e étnico disfarçada dos valores tidos como “corretos” e do medo. Este receio, muitas vezes infundado, gera a violência. Além disso, acaba por ampliá-la em um círculo vicioso que atinge até mesmo outros setores da sociedade.

Infiltrado na Klan é poderosa reflexão sobre racismo e violência

Em 1978, Ron Stallworth (John David Washington), um policial negro do Colorado, conseguiu se infiltrar na Ku Klux Klan local. Ele se comunicava com os outros membros do grupo através de telefonemas e cartas e quando precisava estar fisicamente presente enviava outro policial branco no seu lugar. Depois de meses de investigação, Ron se tornou o líder da seita, sendo responsável por sabotar uma série de linchamentos e outros crimes de ódio orquestrados pelos racistas.

Em “Infiltrado na Klan”, o diretor e co-roteirista Spike Lee não é nada sutil na condução da narrativ. Porém, esta é uma decisão acertada para fortalecer o impacto da mensagem, atual até os dias de hoje, de como o racismo pode ser perigoso e mesmo mortal. Dessa forma, o cineasta coloca em xeque algumas ações da polícia na colaboração com o assassinato de negros. Isso pode ser verificado até hoje e não apenas nos Estados Unidos, visto os dados sobre este tipo de acontecimento na atualidade do Brasil.

Filme revela a incompreensão na humanidade do outro

Então, se os membros da Ku Klux Klan tem alguma complexidade, como pode ser observado na camaradagem entre eles, isso de forma alguma apaga ou ameniza as ações violentas e discursos de ódio. Afinal, Spike Lee demonstra compreender que o problema social não é uma batalha maniqueísta de bem versus mal, como enfatizam os membros da organização mostrados no filme. Porém, trata-se de uma incompreensão de ver a humanidade no outro, no diferente. Então, da ignorância disso, surgem a estupidez, o preconceito, a violência e a guerra.

Além disso, John David Washington está bem no papel principal. Ele interpreta um homem que quer lutar contra um sistema racista estando dentro dele. Assim, embora o filme não negue a importância do ativismo, caso dos Panteras Negras, o Ron Stallworth de Washington é um homem que não quer agir por impulso na corajosa luta contra a violência e opressão.

Também é importante a menção ao filme “O Nascimento de Uma Nação”. Esta obra teve lançamento em 1915 e direção por D.W. Grifith. Assim, o longa-metragem foi responsável por reviver a Ku Klux Klan. Dessa forma, Spike Lee mostra como os meios de comunicação tem o poder de disseminar ideias que podem ser danosas à sociedade.

Porém, além de bem filmado e com uma ótima trilha sonora, “Infiltrado na Klan” tem um quê de comédia e sátira em meio a temas tão densos. Assim, Spike Lee chega a um equilíbrio e entrega um belo e incômodo filme aos espectadores. Ele também é hábil ao trabalhar nosso senso de justiça apenas para transformá-lo em um sentimento de impotência frente a situações recentes.

Avaliação

Avaliação: 4.5 de 5.

Trailer

Infiltrado na Klan é poderosa reflexão sobre racismo e violência. Filme revela a incompreensão na humanidade do outro.

Autora da Crítica

Sophia Mendonça é uma youtuber, podcaster, escritora e pesquisadora brasileira. Em 2016, tornou-se a pessoa mais jovem a receber o Grande Colar do Mérito em Belo Horizonte. Em 2019, ganhou o prêmio de Boas Práticas do programa da União Européia Erasmus+.

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