Há alguns anos venho naufragando em mares que eu audaciosamente mergulhei. Explico que arrisquei oferecer remar junto contra algumas correntezas, dei 100% do meu fôlego, afinal se não for para ser assim, eu nem entro. Ocorre que no meio do percurso em que a bússola apontava para o lugar coletivo, a bandeira antes levantada no mastro da embarcação, representando todos os tripulantes, passava a ser sustentada apenas em cima de um ideal pessoal.
Lugar de fala
A expressão “lugar de fala” veio se popularizando e, ao mesmo tempo, ela foi sendo distorcida e substituída por discursos agressivos e nada assertivos. Ao invés de conscientizar e desmistificar preconceitos com dados e fatos, o que se viu foi um esvaziamento de narrativas. É triste perceber que entre o discurso e a prática há, por vezes, um abismo. A pandemia da Covid-19 potencializou o individualismo e, ao contrário do que se esperava no início dela, ainda presenciamos a resistência quanto ao uso de máscara, o descumprimento do isolamento social, os “fura filas” na campanha de vacinação e até a escolha por marca de imunizantes.
A empatia e a bandeira do interesse coletivo
Uma outra palavra, empatia, também foi vítima desse enfraquecimento de sentido social e cultural. Há quem defenda ser empático apenas quando o benefício ocorra dentro da sua “bolha” de relacionamentos. Acontece o mesmo com o bordão “gentileza gera gentileza”, disseminado em prol de mudanças de comportamento para o bem comum e não individual.
Tão mais fácil ser gentil cotidianamente, com pequenos gestos despretensiosos de delicadeza! Ou ser mais leve, tratar o outro como gostaria também de ser tratado! É muito agradável ser respeitoso consigo e com os demais. Mesmo se for um desconhecido! Validar o outro pela humanidade que há nele sem medi-lo pela própria régua. Será que algum dia deixaremos de usar lentes monocromáticas? Ainda nos permitiremos enxergar o arco-íris? E mais: Será que vamos tirar a bandeira do umbigo e levantá-la bem alto para ser de fato um norte?
Roberta Colen Linhares, natural de Belo Horizonte – MG, casada, mãe de Arthur e Isis, contadora de histórias pelo Instituto Aletria, e atualmente é graduanda do Curso de Letras na PUC Minas.
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal UAI.
Infelizmente concordo com cada palavra da Roberta. Que possamos nos expressar de fato e principalmente, respeitar a Palavra que nos permite conectar, comoreender, e somar uns aos outros.
Isso!