Penso ser interessante primeiro falar dos idosos de maneira geral e depois entrar no idoso dentro do transtorno do espectro autista. É que os idosos têm maior risco de desenvolver sintomas ansiosos, além do comportamento suicida. Isso em comparação com o restante da população. Ou seja, as épocas da vida em que a gente apresenta maior risco de comportamento suicida, seja em pensamento ou atitude, são a terceira idade e a adolescência. Então, é muito importante sempre rastrear e observar se o idoso apresenta pensamentos suicidas.
Essa população também tem maior risco de desenvolver fragilidade clínica. Quer dizer, uma dependência para atividades no dia a dia. Principalmente, relacionado à consequência de doenças clínicas. Então, os idosos têm maior risco de desenvolver doenças clínicas. Como, por exemplo, hipertensão arterial, diabetes mellitus e outras. Assim, eles podem ter sequelas de algum problema físico. Isso pode levar até a sensação de que a pessoa estaria perdendo a autonomia.
Além disso, os idosos têm maior risco de alterações cognitivas e quadros demenciais. Por exemplo, uma doença de Alzheimer, doença de Parkinson ou alterações que afetem áreas da cognição, como memória e linguagem, Daí a gente sabe que as pessoas dentro do espectro autista têm maior risco de desenvolver comorbidades psiquiátricas, como os sintomas depressivos e ansiosos. Então, o idoso também vai ter o aumento do risco desses transtornos.
Além disso, existem alguns estudos iniciais que sugerem uma ligação entre autismo e Alzheimer. Ou seja, a gente precisa de mais estudos para realmente comprovar essa possibilidade de relação. Porém, parece que existe sim alguma relação entre o transtorno do espectro autista e a demência inicial, que é a demência de início precoce. Ou seja, pode ser que exista um componente genético que possa levar tanto ao autismo, quanto à doença de Alzheimer de início precoce. Essa manifestação do Alzheimer inicia sintomas antes dos 60 anos.
Assim, hipóteses dessa relação estão ligadas às comorbidades psiquiátricas. Por exemplo, a gente sabe que o transtorno depressivo aumenta o risco de desenvolvimento de demência da doença de Alzheimer. Mas, como os estudos ainda são iniciais, isso não está comprovado.
Uma outra questão interessante é em relação ao isolamento social. A gente sabe que as pessoas que estão dentro do espectro autista têm maior risco de isolamento social. Isso ocorre às vezes pela dificuldade de socialização. Também é muito interessante observar que as pessoas ao longo da vida que estão no Espectro podem se adaptar. Ou seja, modificar o seu comportamento e passar a ter maior relação social. Isso é exatamente o que é feito também no tratamento psicoterapêutico desses indivíduos.
Porém, se existe isolamento social persistente, isso pode ser sim um fator de risco para transtornos demenciais. Afinal, sabe-se que o isolamento social aumenta o risco de demência. Tanto é que nesses últimos anos de pandemia, houve um aumento dos diagnósticos de demência.
Além disso, observo pessoas dentro do espectro que desenvolveram inúmeras ferramentas para lidar com as próprias dificuldades Assim, elas têm um autoconhecimento muito significativo. Quer dizer, são pessoas que perceberam que apresentavam déficit desde muito crianças. Ou seja, tinham dificuldade na compreensão social das regras sociais, ou comportamentos muito repetitivos. Contudo, elas foram desenvolvendo estratégias para lidar melhor com isso. Então, observo que tem muitas pessoas que estão mais abertas aos próprios sentimentos. Portanto, idosos autistas podem ter mais clareza daquilo e conseguir se desenvolver de uma forma mais profunda. Isso ocorre na idade com mais de 60 anos.
Por outro lado, observo pessoas que não tiveram acesso ao diagnóstico. Ou até não tiveram condições nem apoio psicológico. Então, até ao perceber as próprias limitações, elas intensificaram o isolamento social. Portanto, intensificaram as dificuldades no relacionamento. Com isso, desenvolveram maior nível de solidão. Inclusive, pelo medo da interação social.
Giovana Mol é psiquiatra e psicogeriatra. Além disso, é terapeuta focada na compaixão. Tenho tem o mestrado em neurociência e é professora da Faculdade de Ciências Médicas para o curso de Medicina.
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Descobri recentemente que sou autista. Acabei de completar 60 anos e não tinha ideia que eu era portador de TEA e TDAH, isso tem se tornado um grande transtorno na minha cabeça, apesar de ser professor e trabalhar com alunos autistas estou em "extase". O diagnóstico explica muita coisa do meu passado, mas sinto desamparado no meu presente. Como profissional da educação sinto a obrigação de incluir, só que me vejo como excluído.
A lei ampara crianças com autismo, isso é excelente, mas não fala nada a respeito de adultos com os mesmos sintomas.
Como incluir se não me sinto incluso?
Difícil.
Ola Alexandre, que legal ler seu comentário. Sou Psicóloga e Gerontóloga e tenho pensado muito sobre isso. Os suportes a crianças e adolescentes c TEA são, em geral, mais acessíveis, mas e aos adultos e idosos principalmente? Estamos envelhecendo e as pessoas c TEA, sejam as q receberam o diagnóstico ainda criança/adolescentes e estão envelhecendo, sejam os q recebem já na fase adulta ou no envelhecimento contam com qual suporte? Eu como profissional me sinto muito instigada por esse questionamento até pq, desconheço estudos sobre essa população c TEA... Se quiser, podemos conversar mais sobre isso...
Meu email é valeriafreitaspsicologa@gmail.com