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Interações sociais de autistas idosos

Interações sociais de autistas idosos. Na foto, uma jovem, preta, cabelo preso, abraça, por trás, uma senhora preta que sorri, olhando para a câmera.

O afeto é necessário ao longo de toda a nossa vida.

Para a psiquiatra Giovana Mol, os idosos, de uma forma geral, têm maior risco de desenvolver sintomas ansiosos e também o comportamento suicida. Tal fato, muitas vezes, acontece devido à forma como passam a acontecer as interações sociais de autistas idosos. Afinal, nesta fase da vida é que a gente apresenta maior risco de comportamento suicida. Tudo porque envelhecemos e não sabemos o que virá imediatamente depois. Doença, abandono, morte?

Então, a médica adverte que é muito importante sempre rastrear e observar se o idoso apresenta tais comportamentos de auto extermínio. Certamente, essa população também apresenta maior risco de desenvolver fragilidade clínica. Em outras palavras, possui uma dependência para atividades do dia a dia. Principalmente, aquelas relacionadas às consequências de doenças clínicas.

Autistas idosos, as interações sociais e doenças clínicas

Mas o que são as doenças clínicas? Dra. Giovana lembra que são, por exemplo, hipertensão arterial e diabetes mellitus. Por isso, podem ficar com sequelas de problemas físicos. Isso, para o idoso e familiares, traz a sensação de que a pessoa estaria perdendo a autonomia. Além disso, os idosos também têm maior risco de alterações cognitivas e quadros demenciais. Por exemplo, doença de Alzheimer e Parkinson. Ademais, estão sujeitos a outras alterações que afetem áreas da cognição. Ou seja, memória e linguagem.

Neste cenário, temos o paciente dentro do TEA. Pessoas dentro do espectro, de forma geral, independente da idade, têm maior risco de desenvolver comorbidades psiquiátricas. Como por exemplo, os sintomas depressivos, ansiedade, dentre outros. O idoso também terá maior risco desses transtornos, alerta Giovana Mol. Aliás, a área da psicogeriatria conhece alguns estudos iniciais sobre uma possível relação entre o TEA e a demência inicial, a demência de início precoce. Principalmente, doença de Alzheimer. Ou seja, pode ser que exista um componente genético que possa levar tanto ao autismo quanto à doença de Alzheimer de início precoce, cujos sintomas iniciam antes dos 60 anos.

Entretanto, algumas hipóteses dessa relação também podem ser oriundas das comorbidades psiquiátricas. Por exemplo, é certo que o transtorno depressivo aumenta o risco de desenvolvimento de demência da doença de Alzheimer. Contudo, os estudos ainda são iniciais. Ou seja, isso não está comprovado cientificamente, ainda.

O isolamento de autistas idosos

Aliás, outra questão interessante é em relação ao isolamento social. A gente sabe que as pessoas que estão dentro do espectro autista têm maior risco de isolamento social. Isso ocorre, às vezes, pela questão da dificuldade de socialização, das interações sociais. Mesmo assim, é muito interessante observar que as pessoas autistas, ao longo da vida, podem se adaptar, modificar o seu comportamento e passar a ter maior relação social. Isso é, exatamente, o que é apresentamos como tratamento para esses indivíduos. Ou seja, o tratamento psicoterapêutico.

Contudo, quando existe isolamento social persistente, isso pode sim, ser fator de risco para o aparecimento dos transtornos demenciais. É certo que o isolamento social, realmente, aumenta o risco de demência. Tanto é que nesses últimos anos de pandemia, houve um aumento considerável dos diagnósticos de demência.

A psicogeriatra Giovana explica ainda que além das interações sociais, devemos considerar que a bagagem de vida dos autistas idosos, é muito interessante. O que não é muito diferente das outras pessoas no aspecto geral, quando investem no autoconhecimento. Na acepção da médica, há pessoas no espectro que desenvolveram inúmeras ferramentas para lidar com as próprias dificuldades. Por isso, adquirem alto conhecimento de estratégias. Em outras palavras, são pessoas que perceberam que apresentavam déficit desde cedo.

Dessa forma, tinham, por exemplo, dificuldade na compreensão das regras sociais. Ou havia a própria questão de alguns comportamentos repetitivos, comuns dentro do espectro. Assim, essas pessoas percebiam que tinham essas questões limitantes. No entanto, desenvolveram, ao longo da vida, estratégias para lidar melhor com isso. Então, chegam à velhice mais abertas aos próprios sentimentos.

A construção das interações sociais de autistas idosos começa antes da velhice

Por isso, esses pacientes têm mais clareza de quem são e conseguem se desenvolver de uma forma mais profunda. Isso, mesmo que tenham mais de 60 anos. Todavia, ela também observa pessoas que não tiveram acesso ao próprio diagnóstico, ou até que não tiveram condições de acompanhamento, nem apoio psicológico para perceber as próprias limitações. Tudo isso traz consequências para a vida da pessoa.

Portanto, essas pessoas, na velhice, intensificaram o isolamento social, assim como as dificuldades no relacionamento com o outro. Logo, tornam-se pessoas com maior nível de solidão, pelo medo mesmo dessa interação social.

Redação do Mundo Autista

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal UAI.

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Clara Lúcia Delage Lemos
Clara Lúcia Delage Lemos
1 ano atrás

Gratidão profunda e eterna!
Glória a Deus através da Natureza (Ar que respiramos, Água…….), das Artes, das Ciências,das Criaturas!
Deus abençoe vocês a todo instante!