Uma pergunta recorrente é se é possível diagnosticar autismo em idosos. Bem, é muito mais difícil realizar um diagnóstico de transtorno do neurodesenvolvimento nessa população. Isso porque a gente vai contar com a memória daquela pessoa. Porém, como se passou muito tempo, nem sempre ela vai se lembrar de detalhes importantes da infância. Desse modo, é mais difícil saber quando esses sintomas se iniciaram.
Também, o idoso autista foi desenvolvendo outras estratégias para lidar com as próprias dificuldades ao longo da vida. Então, pode ser que ele tenha se adaptado bem em relação a alguns déficit e não se recorde bem como era essa dificuldade na infância. Sem contar que a gente tem um viés de memória. Ou seja, podemos estar em frente ao idoso com uma alteração de memória significativa. Por exemplo, em uma fase de demência. Portanto, é mais difícil a gente acessar o passado.
Além disso, é frequente que não haja a presença dos pais dessa pessoa para a entrevista clínica. Porém, os pais têm maior condição de trazer alguns detalhes da infância que a própria pessoa talvez não se recorde ou nem consiga saber. Por exemplo, o tempo em que essa pessoa andou. Ou o tempo em que essa pessoa falou. Ou ainda, os marcos do desenvolvimento. Além disso, as próprias condições do parto e da própria gravidez podem direcionar algumas situações que levem a gente pensar em algum transtorno do neurodesenvolvimento.
Também, alguns detalhes na relação dessa pessoa com as outras já na infância são relevantes para o diagnóstico. Afinal, é preciso conhecer como era essa socialização dessa pessoa. Ou seja, a relação dela com a mãe e com as outras crianças, por exemplo. Outro ponto é a alimentação dessa pessoa desde pequenininha. Isso para verificar se ela tinha alguma dificuldade com algumas texturas ou regras na alimentação que a levavam a se alimentar sempre da mesma forma.
Há regras em relação à própria vida, em alguns outros aspectos. Por exemplo, é preciso verificar se a pessoa tinha algumas rotinas e dificuldade em quebrá-las. Ou, se era muito difícil para essa pessoa sair daquela rotina. Ou ainda, se era difícil para essa pessoa se enturmar com os colegas e ela preferia brincar sozinha, por exemplo. E os pais vão ter essa observação um pouco maior. Afinal, é frequente que a escola comente com os pais ou a própria família fale sobre algumas situações que possam chamar a atenção deles.
Por exemplo, há as próprias estereotipias (stims). Afinal, são movimentações que podem estar mais presentes na infância do que nos idosos. Isso porque ao longo da vida esse tipo de movimento pode se reduzir. Além disso, há o próprio hiperfoco em determinadas situações e manias.
Enfim, os pais costumam ajudar. Porém, isso não significa que não é possível o diagnóstico de autismo em idosos. Isso porque o idoso pode sim se recordar desses aspectos. Além disso, podemos também contar com a ajuda de outros familiares. São o caso de irmãos, tios e até cônjuges. Também, amigos podem ajudar a trazer alguns sintomas que sugiram o transtorno do neurodesenvolvimento.
Assista ao podcast Vozes da Maturidade, sobre o autismo na Terceira Idade
Giovana Mol é psiquiatra e psicogeriatra. Além disso, é terapeuta focada na compaixão. Tenho tem o mestrado em neurociência e é professora da Faculdade de Ciências Médicas para o curso de Medicina.
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