Crítica: "Bela Vingança" (2023) - O Mundo Autista
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Crítica: “Bela Vingança” (2023)

Vencedor do Oscar de Roteiro Original, Bela Vingança (2020) é um longa-metragem forte e necessário. Com isso, mostra-se capaz de levar a uma reflexão crítica refinada acerca da misoginia socialmente ainda bastante naturalizada e enraizada. Isso porque a diretora e roteirista Emerald Fennell vai muito além de uma representação na superfície do machismo estrutural e nos convida, com muita firmeza, a uma viagem envolvente pela trajetória da protagonista interpretada por Carey Mulligan.

A importância do feminino em Bela Vingança, de Emerald Fennel

Durante o percurso, experimentamos desde a calmaria estranha e momentos que passam uma falsa sensação de conforto e segurança até uma pretensa esperança, passando pela raiva em suas diversas manifestações, as quais vão da energia extrema à impotência frustrante. Então, por meio de uma narrativa que é muito mais sobre resistência do que empoderamento, a cineasta revela os intensos desafios de ser mulher em uma sociedade como a que vivemos.

Muito do impacto da obra vem do desempenho magistral de Carey Mulligan, que confere nuances e paradoxos à construção de uma personagem tridimensional. Com isso, a atriz vai da força à impotência e transita de uma aparente indiferença a um turbilhão de emoções. Outro ponto forte está nas interações da protagonista com o interessante romântico interpretado Bo Burnham, hábil ao trabalhar com a ideia de estabilidade e do “porto seguro” masculino na relação.

Emerald Fennel ganhou o Oscar de Roteiro Original por Bela Vingança

Na direção, Emerald Fennell trabalha elementos estéticos da feminilidade na cultura pop. Dessa forma, ela cria uma simbologia visual que revela a ameaça que paira sobre as mulheres em um contexto patriarcal. Então, a cineasta extrai tensão e humor de situações que podem parecer pesadas ou absurdas em um primeiro momento, mas tocam por possuírem ligação forte com a realidade cotidiana. Além disso, a acidez dos diálogos revela nas entrelinhas a misoginia difundidas. Isso ocorre às vezes por meio da cumplicidade e do medo de exposição partilhados pelos homens.

Avaliação

Avaliação: 5 de 5.
Autismo e mães narcisistas não é regra. Por que não devemos romantizar nem banalizar o papel de mãe? Texto de Sophia Mendonça.

Autora

Sophia Mendonça é uma jornalista, escritora e pesquisadora brasileira. É mestre em Comunicação, Territorialidades e Vulnerabilidades (UFMG) e doutoranda em Literatura, Cultura e Tradução (UfPel). Em 2016, tornou-se a pessoa mais jovem a receber o Grande Colar do Mérito em Belo Horizonte. Em 2019, ganhou o prêmio de Boas Práticas do programa da União Européia Erasmus+

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal UAI.

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