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Como orientar crianças autistas sobre o coronavírus

Victor Mendonça

Na infância do autista, rigidez de pensamento e o pânico das outras pessoas podem levar a hiperreações. Saiba como prevenir.

No texto de ontem, abordei a maneira como tenho lidado para evitar a crise durante o processo de transição. De fato, cenários de instabilidade

costumam ser bastante problemáticos para autistas. Portanto, os pais ficam “pisando em ovos” na hora de passar determinadas informações que podem ser difíceis de assimilar por aquele menino ou menina. O alarde em torno do coronavírus é um exemplo recente. Mesmo que o vírus seja mais comum em pessoas idosas, o cuidado com crianças e adolescentes também é importante. A questão é: como orientar o filho ou a filha a tomar os devidos cuidados, sem que tenha uma hiperreação ou crise?

Afinal, ninguém gosta de se sentir inseguro. Estar em um ambiente de pânico generalizado pode ser ainda mais prejudicial a autistas, por causa de características comuns à condição, como a ansiedade, uma condição coexistente bastante presente, e a rigidez de pensamento ligada ao TEA. Por mais que o autista às vezes não demonstre verbalmente seu incômodo, mesmo no caso daquele que é oralizado, ele pode perceber a inquietação na fala ou postura de outras pessoas e não conseguir elaborar isso com clareza. Daí, pode ficar mais irritadiço, aparentemente “do nada”, o que o torna um alvo fácil para o julgamento alheio. Importante lembrar que nada é “do nada” no autismo, mas que nós temos formas diferentes de autopercepção e comunicação.

O primeiro aspecto a ser trabalhado, portanto, são os próprios medos dos pais com relação ao assunto. Sabe-se que a melhor forma de prevenir a doença é lavar bem as mãos e evitar esfregar os olhos ou colocar a mão no rosto, nariz e boca. As notícias confiáveis e o senso crítico com relação a informações que circulam acerca deste tema são a maior prevenção para controlar o receio. Quando eu era criança, precisava entender muito logicamente o porquê de tomar determinadas atitudes. Então, sempre que havia algo assim, fazia várias perguntas aos meus pais, que deveriam buscar se informar sobre isso. São os filhos como agentes, inclusive, para que os pais tomem maior consciência cidadã.

Outro ponto a ser lembrado é a rigidez de pensamento, que nas crianças autistas ainda não foi tão bem trabalhada e pode levá-las a ter pensamentos alarmistas, do tipo: “se alguém viajou para a China, com certeza estará infectado.” Ou pior: dependendo de como orientamos, a criança pode ter comportamentos xenofóbicos que são inaceitáveis para qualquer pessoa. Neste caso, é importante lembrá-la que não podem discriminar ninguém por causa da doença, especialmente os asiáticos, que constituem o maior número de afetados.

É óbvio que acolher e validar os sentimentos da criança são atitudes essenciais. O medo é uma reação natural. Ao mesmo tempo, é importante que seja trabalhado para não se tornar excessivo ou problemático. Se o percebermos logo quando se inicia, ainda pequeno, conseguimos afastá-lo com maior sabedoria e tomar as melhores decisões.

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