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Autismo na Terceira Idade

Victor Mendonça e Irene Maria da Silva

Victor: Hoje é um programa muito maravilhoso e especial, estamos recebendo aqui a Irene Maria da Silva.

Irene: A vovó.

Victor: Isso mesmo. E esse é um programa muito especial, uma sugestão da Cássia Oliveira, internauta. Nós falamos sobre autismo e adolescência, eu e minha mãe. E a Cássia nos perguntou como seria a questão do autismo na terceira idade. Então, após o diagnóstico da minha mãe, você se identificou com várias características, não é vovó?

Irene: É.

Victor: Eu queria saber como foi esse processo para você.

Irene: Foi um processo longo, complicado, a gente foi se apropriando e entendendo aos poucos. Hoje eu entendo muito das atitudes da minha filha e depois do meu neto; depois do diagnóstico eu entendo bem melhor. Porque eu ficava totalmente desnorteada, atitudes que eu não entendia, eu pensava “porque é tão claro para mim e eles não entendem?”. E isso foi acontecendo, no início, apalpando, tateando na família para procurar um jeito de viver melhor, procurando o amor, para viver dentro dessa visão. Depois do diagnóstico eu já tive um norte para me colocar, mas fiquei bastante assustada com a revelação do diagnóstico da minha filha já depois dos 50 anos, eu percebi e cheguei até a expressar isso quando li um livro que ela fez, “Minha vida de trás para frente”. Eu falei: “Essa não é minha filha não, essa filha não teve mãe”. Porque todo sofrimento que ela narrou no livro, todas as vivências, em casa ela segurava. Eu não percebia, ela procurava adequação. O que acontece com o autismo é que na fase mais adulta a gente percebe que na infância, principalmente se é o autismo no sexo feminino, elas camuflam soluções tão grandes que acabam se fechando com todo o sofrimento. E eu só fui perceber isso quando eu estava com a minha filha depois do diagnóstico. Com meu neto, nós vivemos no início uma fase em que eu, a minha filha e a família achávamos que ele era diferente, mal educado…

Victor: Os rótulos…

Irene: Grosseiro, esquisito e muito inteligente.

Victor: Ah! Tinha uma coisa boa aí.

Irene: Ele tinha foco nas coisas, então depois que tem o diagnóstico e sabemos que isso tem uma causa, a gente vê os dois lados, tem que se adequar, tem que vivenciar, colocando nas entrelinhas um lugar que a falta de compreensão da minha parte, tinha que corrigir e suprir isso, colocando amor, menos críticas, perguntas e explicações.

Victor: Meu amor, uma palavra que define bem algumas coisas que você falou durante a entrevista, até agora, é “Rigidez”. De ter uma rigidez de entender o ponto de vista do outro, tanto do seu lado em relação à minha mãe quanto do dela em relação ao seu. Você se identificou com muitas características próprias. Como é lidar com isso, com essa personalidade forte quando não é o esperado de uma pessoa idosa, mas sim ser dócil e submissa?

Irene: Submissão nunca foi meu tipo, eu sou mais do tipo rebelde, e essa rebeldia estourou muito no relacionamento com a minha filha e com meu neto. Depois de vivenciar, também, alguns anos conhecendo o diagnóstico dele e dela, eu vejo que cada característica batia muito de frente, e era porque eu tinha igual. Nós geralmente implicamos com aquilo que geralmente somos. Fui percebendo que isso tudo só pode ser minimizado com atitude de ambas as partes, mas principalmente daquele que tem a boa sorte de entender isso primeiro. Então eu procurei ser mais compreensiva, amigável, e me pautar sempre, eu acho que não há erro, no carinho e no amor.

Victor: É verdade, você acertou muito e acerta até hoje. Você gosta muito de ficar sozinha às vezes e isso é até um problema na família, pois acham que tem que ter alguém cuidando da vovó, e você gosta de ficar sozinha. Como é isso?

Irene: A idade chega, e o corpo às vezes pede que a gente tenha um acompanhante. Mas a minha mente quer ficar só, quer ser independente, e adora companhia também, no horário certo e na hora certa, principalmente se planejado.

Victor: Isso mesmo. Parabéns vovó, por trazer esse tema à tona, ter aceitado o convite, pois sabemos que não é fácil nem para eu falar e nem para você falar, é um tema difícil, e você se saiu muito bem. Estou muito orgulhoso de você.

Irene: Eu tenho muito orgulho de você, da evolução que você conseguiu. Toda criança, quanto mais novo descobre, tem que ter as atividades que façam crescer o lado maravilhoso do autista e minimizar o lado em que ele tem dificuldade.

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