As mulheres em Emília Pérez - O Mundo Autista
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As mulheres em Emília Pérez

As mulheres em Emília Pérez e seus efeitos colaterais, a disruptura como Esperança e a abordagem do narcotráfico no Mèxico.

As mulheres em Emília Pérez e seus efeitos colaterais, a disruptura como Esperança e a abordagem do narcotráfico no Mèxico.

As mulheres em Emília Pérez e seus efeitos colaterais, a disruptura como Esperança e a abordagem do narcotráfico no Mèxico.

Fui assistir ao filme Emília Pérez despida de expectativas. Estava disposta a receber o que viesse independentemente de o filme ter ido de super indicado a super desprezado numa velocidade estonteante. Também não queria julgar a atriz Karla Sofia Gascón e, tampouco o diretor Jacques Audiart. Fui despretensiosamente ao cinema com minha filha, num sábado qualquer.

Quando terminou, após duas horas, eu sabia: gostei. Simplesmente, gostei. Apesar de não gostar de filmes escuros que parecem pesar no tom para conduzir o espectador ao sentimento de menor valor.

O México e As Mulheres em Emília Pérez

Falavam do México, que eu pouco conheço. E, assim sendo, poderia ou não ter reforçado estereótipos. Do narcotráfico que comanda, manda e desmanda e destroi com a conivência da elite, de políticos, instituições que sequer enxergam a minoria (maioria, na verdade) que sofre dia após dia. Do espanhol, também não posso falar, consegui acompanhar, apesar do meu estudo abandonado, há anos, no meio do caminho.

Mas das mulheres… ah, essas fizeram eco em mim, na parcela que guardo de cada uma delas em toda a minha jornada. A advogada, o orgulho da família, talentosa que, ao escolher trilhar o caminho antes sonhado, só encontra desafios. Homens que se apropriam de seu talento, outros que pagam por isso, uma ‘advogada’ extraordinária’, que perde o brilho e se mistura ao povo para tentar ocupar o parco espaço que lhe é dado. E dá-lhe risinhos e olhares superiores furtivos.

A disruptura como esperança

A esperança vem exatamente na contramão do que se espera. Da disruptura, do impensável. Entra em cena, uma outra mulher, concebida em corpo masculino. O que poderia ser um detalhe interfere em suas escolhas, em sua vida e afeta todos à sua volta. Como conceber a mulher que iria, ainda assim, clamar por sua existência, quando não suporta mais viver pela metade, alijada do desejo, da inteireza, da vida.

Por mais que pudesse parecer, não era mais um caso de cansei, tenho dinheiro e quero mudar. Não, era o grito pelo direito à vida. Um grito que só outra mulher silenciada poderia entender. E mais, lutar pela causa. Nessa hora, temos o único homem que não se perde, no que o senso comum possa apontar como palco para superegos. Que não se perde por termos que se revelam somente termos, retirados da alma que os habita. Foi, vi e fiz o que devia ser feito.

As mulheres em Emília Pérez e seus efeitos colaterais

Ao contrário, mais uma vez, do luxo ascendido pela condenação e morte do desajuste, Londres não foi grande o suficiente para o que havia sido compactado junto com a dignidade dessas mulheres. Foi preciso voltar e dar ao dinheiro manchado não por um, mas por todos, um destino mais racional. Devolver a dignidade ao povo desconsiderado. Não numa tentativa de reparação ao mal que se causou, mas na ação da verdadeira vocação: fazer mais por todos. E não somente por alguns e depois construir uma fortaleza em torno de si.

Diante de tudo isso, uma pausa, para só então, perceber os efeitos colaterais de mulheres, com possibilidades menores, mas que ainda assim, se calam e sufocam ao colher as migalhas oferecidas por quem faz a história. Não é por acaso que, ao conversar com Jessi (personagem de Selena Gomez), a desde sempre Emília, se liberta do papel exigido a Manitas (Também Sofia Gascon) e para além de enxergar pela primeira vez a ex-esposa, sente empatia por ela.

Conclusão

O restante, para mim, foi pano de fundo, de uma coreografia louca, numa composição clara, de como a sociedade nos impõe papeis pré-definidos. Isso mesmo, para depois, covardemente, quando finalmente nos encontramos em contato com nossa essência – o amor – nos roubar nossa conquista e computar a perda na conta da vida. É a vida!

Avaliação

Avaliação: 3.5 de 5.

Autora

Selma Sueli Silva é criadora de conteúdo e empreendedora no projeto multimídia Mundo Autista D&I, escritora e radialista. Especialista em Comunicação e Gestão Empresarial (IEC/MG), ela atua como editora no site O Mundo Autista (Portal UAI) e é articulista na Revista Autismo (Canal Autismo). Em 2019, recebeu o prêmio de Boas Práticas do programa da União Europeia Erasmus+. Prêmio Microinfluenciadores Digitais 2023, na categoria PcD. É membro da UNESCOSOST movimento de sustentabilidade Criativa, desde 2022. Como crítica de cinema, é formada no curso “A Arte do Filme”, do professor Pablo VIllaça.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal UAI.

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