Minha neta nasceu. Um bebezinho lindo. Encheu a família de alegria! Era esperta, imitava sons, adorava meu colinho. Com o tempo, a inteligência chamava a atenção de todos. Era sorridente e adorava me ouvir cantando para ela. Foi uma criança feliz, embora rodeada de adultos. Adorava sair no fusquinha vermelho da vovó. Foi assim, até os 5 meses. Depois disso, não demorou a me chamar de Gogó e pedir para passear no ‘Baluio’. Era o que mais chamava atenção de minha neta. Aliás, ela ficava atenta e já reconhecia o barulho do fusca 69. Começava aí, um hiperfoco, fusquinhas. Eu estava feliz. A neta e a vovó. Alguns anos depois, seríamos a neta, a vovó e o autismo.
O autismo em nossas vidas
À medida que minha neta crescia, eu me preocupava. Por exemplo, ela era geniosa. Coloquei isso na conta da história de mulheres fortes da família. Entretanto, quando ela foi para o ensino fundamental, a doçura deu lugar à ansiedade, manias como lavar as mãos toda hora. Além disso, minha neta passou a ter crises ‘nervosas’ em casa. Num momento era o docinho e no outro estava mais nervosa, dando pulos, chorando.
Minha filha logo perceber que tudo que havíamos aprendido sobre educação, não adiantava com minha neta. Assim, procurou um psicólogo para orientá-la nessa tarefa. A família se afastou dos parentes que criticavam o comportamento da menina.
O diagnóstico de autismo
Confesso que, eu também, estranhava aquele comportamento. Ou seja, eu me perguntava se não seria por ela ser mimada pelos pais. Muito tempo e vários médicos depois, enfim o diagnóstico. Minha neta era autista. Certamente, sabíamos pouco sobre esse espectro. O TEA traz uma variedade grande. Então, vai do autismo que precisa de mais suporte, ao que precisa de menos suporte. O caso de minha menina.
Desde então, passamos a entender melhor o porquê das crises. Aliás, começamos, também, a identificar os gatilhos que levavam a elas. Os sofrimentos de minha neta e de toda a família eram visíveis. Contudo, acendeu também uma luzinha de que, com tratamentos específicos e especializados a vida poderia se suavizar.
Assim, nosso foco passou a ser n o suporte e no apoio para que nossa menina se transformasse em um grande valor humano para a sociedade. Ela sempre foi muito inteligente e se dedicava, totalmente, na busca de uma vida, mesmo com, ou até por causa, da diferença, pode ser de total vitórias.
O amor, a neta, a vovó e o autismo
Quando há convicção, amor e união a vitória está garantida. Minha menina terminou o ensino médio. Apesar de ter tido fobia social, durante todo o curso. Passou no vestibular, formou-se em jornalismo pelo Centro Universitário UNI-BH e, agora está finalizando o mestrado. O próximo passo será o doutorado.
Além disso, minha menina é decidida e meiga. É escritora, com 7 livros publicados, além dos artigos acadêmicos publicados. É convidada aqui, no Brasil e no exterior, para dar palestras. Afinal, como toda a família, ela contribui para a construção de uma sociedade com justiça, inclusiva, democrática e humanizada.
E o melhor: eu e minha neta somos grandes amigas e nossa troca faz parte da coeducação entre gerações. Não existe discriminação onde o amor e o humanismo são cultivados.
Irene Maria da Silva é procuradora aposentada. Mãe de 3 filhas, tem 5 netos e 1 bisneta. É também educadora e advogada.
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal UAI.
Sempre estou dando as minhas espiadas neste espaço. São casos que nos levam a entender um pouco melhor a pessoas e seus “problemas”. Gosto sempre de ressaltar essas pessoas pela coragem em expor os seus problemas com os parentes. Parabéns pela coragem e por nos fazer enxergar a vida de uma maneira melhor. Um grande abraço do Chestão.
Que alegria em saber. Se quiser algum assunto especial, gentileza sugerir. Grande Abraço.