“Educação inclusiva é educação para um mundo sem filtros. Aquele que existe ali fora. Atrás das telas de nossos smartphones.” Então: Educação Inclusiva, uma tendência ou uma pendência?
Educação Inclusiva, uma tendência ou uma pendência? Enquanto a maioria das pessoas perceber a educação inclusiva como uma tendência contemporânea, um modismo de gritos histéricos de políticas de esquerda, ela jamais será compreendida como uma pendência social. E com a urgência que se faz necessária.
Assim, pendência nunca foi, nem será uma tendência. Pois ela se faz nas lutas marginais dos contornos sociais. E, justamente, porque é posta nesse lugar por aqueles que detém e ditam os limites da artificial normalidade humana.
Educação inclusiva e a riqueza da diversidade. Tendência ou pendência?
Tratar de inclusão é trabalhar a pendência que nossa sociedade sobrepôs àquilo que se apresenta como diferença. Entretanto, ironicamente, essa diferença compõe a maior riqueza do que nos faz humano. A nossa diversidade.
Não podemos encarar as especificidades de cada um como se fizéssemos um favor. Certamente, um favor àqueles que são diferentes nas marcas que trazem no corpo, na pele, no gênero biologizado. E mais: na orientação de sua escolha objetal entre outros.
Além disso, favor fazemos, na verdade, ao tolerar aqueles que se opõe a construção de um contexto social. Um todo em que cada sujeito possa existir a partir de si. Desse modo, existir em sua inteireza. É certo que nós devemos compreender a existência humana para além dos contextos em que ela foi produzida. E, como resultado, reproduz um modo viciado e limitado de ser. Assim, vamos compreender essa natureza humana na complexidade das potências que cada ser traz em si.
Educar os diferentes não é educação inclusiva
Educação inclusiva não é para educar os ditos diferentes. Esses se fazem na luta, nas sombras, nas periferias do dito normal. Esses já se fazem humanos dentro do impossível. Talvez, o maior feito da educação inclusiva está na possibilidade de pressionar a corda das tradições excludentes. E isso acontece na contramão do que pensam os extremistas. Assim, ela possibilita às pessoas limitadas e tacanhas, a compreensão que elas são mais do que lhe permitiram ser. E ainda, que essas pessoas também podem ser diferentes. E, consequentemente, trazer ao mundo a sua autoria singular. Que não há nada mais estranho e deficiente que a dita padronização e normalidade do se fazer humano.
Educação inclusiva é educação para um mundo sem filtros. Aquele que existe ali fora. Por exemplo, atrás das telas de nossos smartphones.
´Márcio Boaventura Jr. é doutor pelo Programa de Pós-Graduação da Faculdade de Educação da UFMG. Pedagogo e advogado. Facilitador certificado de Constelação Sistêmica Familiar pelo Hellinger Landshut da Alemanha. Trabalha como consultor para desenvolvimento de pessoas em diversas organizações. Atua, também, como professor associado da Fundação Dom Cabral, além de ser professor efetivo dos anos iniciais pela Secretaria de Educação do Estado de Minas Gerais.
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal UAI.
“Esses já se fazem humanos dentro do impossível”. Excelente texto. Adorei