Educação

Você é uma pessoa inclusiva e empática?

Você é uma pessoa inclusiva e empática? Pois eu leio o desabafo de várias mães nas redes sociais, ansiosas com a professora inclusiva que decepcionou em algum momento na jornada do filho. Ou mesmo em todos os momentos. A maioria que viveu ou vive situações de preconceito, discriminação ou mesmo falta de habilidade afirma que a inclusão só existe no papel.

Pode até parecer que a inclusão escolar é uma falácia. Porém, quando nos debruçamos sobre pesquisas percebemos que já caminhamos muito. Embora, é verdade, ainda há muito a percorrer. Várias iniciativas me encantam. Mães e pais que entraram para a política para lutar pelos direitos de seus filhos e os filhos de outros. Profissionais que abraçaram a causa por amor à humanidade. Pessoas com deficiência que se tornaram ativistas. E muito mais.

Instituto Cauê

Uma dessas iniciativas, em especial, me encanta: o Instituto Cauê, uma rede de redes. Ou seja, é uma rede que apoia a construção e o fortalecimento de muitas outras, nas diversas regiões do país, para juntas, lutarmos por um Brasil anticapacitista e com justiça social.

Os fundadores explicam que “A gente sabe da importância de resistir à ideia de representação da história como se fosse um trabalho de indivíduos heroicos. Não é. A gente quer que as pessoas se constituam e se reconheçam como parte de uma comunidade de luta sempre em expansão. É assim que a gente constrói a mudança sistêmica, que é mais, muito mais, do que ações individuais.”

Se você quiser conhecer um pouquinho mais sobre o instituto, nesta entrevista de uma das fundadoras Mariana Rosa: CLIQUE AQUI

A mestra em Educação pela UFOP e professora de História em escolas públicas da periferia de Belo Horizonte e da região metropolitana, Luana Tolentino, também transformou sua atuação profissional em prova real de que a educação inclusiva é possível. Ela nos conta mais sobre isso em seu livro ‘Outra educação é possível: feminismo, antirracismo e inclusão em sala de aula’ (Mazza Edições) e ‘Sobrevivendo ao racismo: memórias, cartas e o cotidiano da discriminação no Brasil’ (Papirus 7 Mares).

Vale a pena ler o que ela diz sobre como o futebol vai além de ser somente esporte e se torna um mecanismo de inclusão, de reconhecimento mútuo, de superação das diferenças: CLIQUE AQUI.

A empatia é pré-requisito para a inclusão

Dessa forma, percebemos que a sociedade, em suas diversas representações, busca construir um mundo mais justo e inclusivo. Certamente, para isso, há que se ter empatia. Eu desconheço alguém que responda prontamente que não tem empatia, ao ser questionado sobre o assunto. Entretanto, a empatia é a capacidade que uma pessoa tem de sentir e se colocar no lugar de outra pessoa, como se estivesse vivendo a mesma situação. Além de que, é a partir da empatia que se torna possível entender os sentimentos e as emoções do outro. Assim, sentir empatia por quem pensa semelhante a você, vive situações equivalentes, parece ser mais fácil que ser empático por alguém muito diferente de você.

Contudo, é possível pois pessoas empáticas são excelentes ouvintes, costumam ser dispostos a aprender e estão sempre atentos ao outro. Ou seja, conseguem interpretar pessoas observando suas palavras, sentimentos e comportamentos. Desse modo, no caso da exclusão, mesmo que a situação não seja diretamente com você, o sentimento de se colocar no lugar do outro e acolher a dor sofrida por ele são manifestações de empatia.

A pessoa empática é inclusiva?

A pessoa empática tem o pré-requisito necessário para ser também, inclusiva. Afinal, o antônimo da empatia seria a indiferença ao que o outro sofre. Ou mesmo a intolerância e preconceito.

No entanto, o que ultimamente eu questiono é: a empatia e senso de inclusão têm limites? Isso mesmo. À medida que a pessoa com deficiência cresce, ela e a família percebem uma impaciência ou até intolerância de seus pares com elas.

Explico e dou exemplos: Se uma pessoa com mobilidade reduzida está andando na frente de uma pessoa típica na calçada, rapidamente ela é ultrapassada. Até aí, ok. Mas há quem se manifeste para além do suspiro impaciente: “Se sabe que é lento, porque andar no meio da calçada, impedindo a nossa passagem?” O mesmo sentimento pode vir de um educador que se considera empático e inclusivo. Se o aluno responde positivamente aos seus esforços para ensinar de acordo com a necessidade específica, esse aluno é prontamente aclamado. Ao se tornar adulto, então, passa a ser motivo de orgulho para a escola inclusiva com seus educadores inclusivos. Mas…

Se a vida é cheia de mas…

Mas se o aluno com deficiência que necessita de suporte específicos para que atue de maneira equânime com os outros alunos, passe a demandar para além do que o educador espera, aí sim, lá vem problema. O educador, que como o restante da sociedade tem mais dificuldades com o adulto PcD – pessoa com deficiência, passa a se sentir incomodado. Depois passa a se sentir sobrecarregado para enfim, se sentir injustiçado por aquele aluno pelo qual ele fez o possível e até o impossível. A dedicação do professor está sendo retribuída com a ingratidão desse aluno que sempre quer mais e mais.

Mas… (de novo) e a empatia? Aquele aluno PcD não quer mais e mais, não está fora de controle, não persegue o professor. Como pessoa com deficiência, que precisa de um suporte maior para entender algumas circunstâncias, só está agindo conforme ‘suas características’, ‘suas demandas’ que até podem parecer sufocantes, confesso. Mas que, para a pessoa realmente empática e inclusiva, será fácil enxergar; “naquele momento, em que esse aluno demanda mais e mais, ele precisa desesperadamente de alguém que interprete uma realidade típica, que não é a dele, para que ele entenda o contexto que o angustia. Ela não precisa de um julgamento de senso comum que a aponte como um aluno que não conhece limites.

Você está preparado para entender esse lado de uma pessoa neurodivergente?

Selma Sueli Silva é criadora de conteúdo e empreendedora no projeto multimídia Mundo Autista D&I, escritora e radialista. Especialista em Comunicação e Gestão Empresarial (IEC/MG), ela atua como editora no site O Mundo Autista (Portal UAI) e é articulista na Revista Autismo (Canal Autismo). Em 2019, recebeu o prêmio de Boas Práticas do programa da União Europeia Erasmus+. Prêmio Microinfluenciadores Digitais 2023, na categoria PcD. É membro da UNESCOSOST movimento de sustentabilidade Criativa, desde 2022.

Mundo Autista

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