Crítica: "Grave" (2017) - O Mundo Autista
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Crítica: “Grave” (2017)

Uma Análise Crítica de Grave: Um Conto de Fadas Macabro e a Redefinição Feminina. Foto: Divulgação.

Uma Análise Crítica de Grave: Um Conto de Fadas Macabro e a Redefinição Feminina. Foto: Divulgação.

Uma Análise Crítica de Grave: Um Conto de Fadas Macabro e a Redefinição Feminina. Foto: Divulgação.

“Grave” revela-se um audacioso conto de fadas do século XXI. Esta produção franco-belga se tinge com a brutalidade dos Irmãos Grimm, ao mesmo tempo em que mantém uma delicadeza tocante em meio a sua visceralidade. O filme marcou a aclamada estreia da cineasta Julia Ducournau em longas-metragens, antes de sua consagração em Cannes com “Titane”. É uma obra que consegue conciliar de forma única a narrativa de amadurecimento com uma sensibilidade inerente ao terror.

Dessa forma, o filme entrelaça o crescimento e a descoberta da autonomia sexual de Justine com um insaciável desejo por poder e sangue. Além disso, mergulha profundamente na dinâmica da transmissão do feminino através das gerações familiares. Com isso, subverte a lógica de poder tradicionalmente atribuída às mulheres no terror. Aqui, elas não temem, mas controlam seus próprios desejos carnais. O que transforma a obra em uma metáfora potente da apropriação da feminilidade.

“Grave”: a peculiar e brilhante estreia de Julia Docournau em longas-metragens

A trama segue Justine (Garance Marillier), uma caloura vegetariana e tímida que, ao ingressar na mesma faculdade de veterinária de sua irmã Alexia (Ella Rumpf), é forçada a comer carne animal durante um trote. Esse ato catalisa mudanças extremas em sua vida. Com isso, transforma-a em uma figura central de um filme de terror corporal e drama íntimo. “Grave” narra a jornada de uma adolescente brilhante, porém ingênua, que gradualmente se liberta e abraça sua verdadeira identidade como canibal. Desse modo, utiliza o canibalismo como uma alegoria para a libertação e auto-afirmação feminina.

A direção de Julia Ducournau é, sem dúvida, um dos pilares do sucesso de “Grave”, especialmente considerando que se trata de sua estreia em longas. Ducournau demonstra uma maestria impressionante ao identificar e retratar os “sustos” presentes no cotidiano, particularmente no universo das mulheres jovens. Afinal, os momentos mais perturbadores do filme não são os eventos monstruosos explícitos, mas sim as cenas mais mundanas e íntimas que ressoam com a experiência feminina. 

Mistura de drama íntimo e terror corporal usa o canibalismo como metáfora para o amadurecimento feminino

“Grave” é recheado de cenas que são, ao mesmo tempo, uma observação poética e sensível da natureza biológica e experiências visualmente desconfortáveis. Assim,, evidencia a habilidade da diretora em manipular o imaginário da audiência. Inspirando-se em mestres como David Cronenberg e David Lynch, Ducournau forja um estilo singular e próprio, conferindo uma identidade única à produção. Através de seu olhar jovem e feminino, ela ressignifica um gênero cinematográfico historicamente dominado por figuras masculinas, injetando uma perspectiva inovadora e necessária.

Avaliação

Avaliação: 4.5 de 5.

Sophia Mendonça é jornalista, professora universitária e escritora. Além disso, é mestre em Comunicação, Territorialidades e Vulnerabilidades (UFMG) e doutoranda em Literatura, Cultura e Tradução (UfPel). Ela também ministrou aulas de “Tópicos em Produção de Texto: Crítica de Cinema “na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), junto ao professor Nísio Teixeira. Além disso, Sophia dá aulas de “Literatura Brasileira Contemporânea “na Universidade Federal de Pelotas (UfPel), com ênfase em neurodiversidade e questões de gênero.

Atualmente, Sophia é youtuber do canal “Mundo Autista”, crítica de cinema no “Portal UAI” e repórter da “Revista Autismo“. Aliás, ela atua como criadora de conteúdo desde 2009, quando estreou como crítica de cinema, colaborando com o site Cineplayers!. Também, é formada nos cursos “Teoria, Linguagem e Crítica Cinematográfica” (2020) e “A Arte do FIlme” (2018), do professor Pablo Villaça.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal UAI.

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