Transformação e bondade em Cinderela e os símbolos da animação clássica da Disney de 1950 são discutidos por Sophia Mendonça.
Outro dia, postei um meme nos stories do Instagram que dizia: “se a Cinderela não tivesse olhado para trás, ela não teria se casado com o príncipe”. Então, um colega escritor me perguntou se isso não seria um reforço da mensagem de que a mulher só pode ser feliz se for casada com um homem rico.
Penso que não. Aliás, a meu ver, Cinderela vai muito além de um conto sobre casamento com o príncipe encantado. É uma história repleta de simbologias e acho triste que hoje em dia muita gente reduza a narrativa do clássico de 1950, que salvou os estúdios Disney da falência, ao matrimônio. Percebo em Cinderela temas como força feminina, dedicação e compaixão que vêm independentemente de qualquer circunstância.
Tudo isso se torna ainda mais especial porque a princesa não mudou apenas o próprio destino com o próprio comportamento. Ela também direcionou os caminhos da família, que vinha marcada por tragédias como a perda do pai e da mãe, para um lugar mais produtivo que ela e os descendentes pudessem desfrutar. Então, quando vejo por essa ótica, o casamento vira um mero símbolo para a transformação.
Portanto, o que Cinderela ensina é que, não importa o ódio que a vida traga para nós, só conseguiremos alcançar nossos sonhos e colocar nossa vida em uma órbita de felicidade se reagirmos com compaixão e sabedoria. E fico triste que, para muita gente, a mensagem não seja mais adequada aos dilemas sociais. Penso que o mundo precisa exatamente dos valores que Cinderela retrata.
Há outros aspectos importantes na história, como o sapatinho de cristal que simboliza o a passagem do tempo; o vestido, que materializa a transformação; e os ratinhos, que tomam o lugar das pessoas comuns e o modo como tratamos a quem não nos trará recompensa imediata. Então, aparece a Fada-Madrinha, que personifica as pessoas bondosas que surgem em nossa vida e nos ajudam a sobrepor nossos desafios.
Porém, a Fada-Madrinha só pode agir porque Cinderela tem esse cuidado com o outro e desperta nas pessoas o desejo de retribuir. Além disso, a moça sabe aproveitar a oportunidade quando vem. Ela não fica lamentando o tempo todo nem descontando o sofrimento sendo grosseira com alguém.
Dessa forma, a carga simbólica de Cinderela aparece na construção da jornada da personagem e se torna mais envolvente graças aos carismáticos coadjuvantes. E mesmo sem ser um musical ao estilo Broadway, o filme apresenta uma trilha sonora comovente e marcante. Além disso, a cena da transformação dos trapos em vestido de baile é belíssima e impressionante.
Sophia Mendonça é jornalista, professora universitária e escritora. Além disso, é mestre em Comunicação, Territorialidades e Vulnerabilidades (UFMG) e doutoranda em Literatura, Cultura e Tradução (UfPel). Ela também ministrou aulas de “Tópicos em Produção de Texto: Crítica de Cinema “na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), junto ao professor Nísio Teixeira. Além disso, Sophia dá aulas de “Literatura Brasileira Contemporânea “na Universidade Federal de Pelotas (UfPel), com ênfase em neurodiversidade e questões de gênero.
Atualmente, Sophia é youtuber do canal “Mundo Autista”, crítica de cinema no “Portal UAI” e repórter da “Revista Autismo“. Aliás, ela atua como criadora de conteúdo desde 2009, quando estreou como crítica de cinema, colaborando com o site Cineplayers!. Também, é formada nos cursos “Teoria, Linguagem e Crítica Cinematográfica” (2020) e “A Arte do FIlme” (2018), do professor Pablo Villaça.
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