Autismo

Sophia Mendonça lança livro sobre autismo e a relação amorosa

Autismo e a relação amorosa são tema do romance new adult A Morte da Inocência, da escritora autista Sophia Mendonça.

Lancei “A Morte da Inocência“, um romance trans e neurodivergente sobre o primeiro amor, como e-book da Amazon Kindle no último sábado (05 de outubro). Neste novo livro, eu mergulho no universo new adult, com cenas picantes e muitos conflitos na vida do casal de protagonistas. O tema principal da obra, aliás, é a idealização de um primeiro relacionamento amoroso. Porém, mostro essa experiência de uma maneira não-romantizada.

Dessa forma, “A Morte da Inocência” traz dilemas mais maduros sob a ótica de quem ainda está passando por esse processo de chegada à vida adulta. Isso porque, na vivência de muitos autistas, a idade e a maturidade intelectual de alguém podem não ser condizentes com seu amadurecimento emocional.

Autismo e a relação amorosa são tema do romance A Morte da Inocência

Neste livro em particular, há muitas semelhanças entre mim e a protagonista Rebecca, uma autista que sonha em realizar a cirurgia de redesignação sexual. Ou seja, ela é uma mulher trans que tem o desejo de passar pelo mesmo procedimento que eu passsei para modificar a genitália. Porém, no caminho, ela conhece Oliver, que é um homem dez anos mais velho que ela e ainda está descobrindo a própria sexualidade.

Mas, mesmo com a semelhanças entre a minha trajetória e a da personagem, a experiência do autismo e da transexualidade aparece apenas como um pano de fundo para que eu possa falar de sentimentos, experiências e sensações que são muito mais universais. Nesse sentido, este é de longe o meu romance mais afetivo até hoje.

‘Autistas não são anjos’, defende Sophia Mendonça em novo livro

Porém, se comparada à minha percepção sobre o meu lugar no mundo como alguém mais vulnerável, Rebecca é uma jovem muito mais alienada. Isso porque para o centro da narrativa eu não queria uma personagem que levantasse bandeiras. E sim alguém sensível que passa por muita coisa, sem ter muita noção do turbilhão de acontecimentos que estão passando à sua volta. Então, por mais profundas que sejam as transformações que ela passe durante a história, não há garantia nenhuma que ela vai compreender a complexidade de tudo isso que está acontecendo. E está tudo bem!

Nesse sentido, A Morte da Inocência traz exemplos muito práticos e concretos de como autistas nível 1 de suporte podem ser ingênuos e não terem a melhor intepretação do que está à sua volta. E o quanto isso se torna ainda mais desafiador quando eles apresentam uma dificuldade considerável de regular as emoções. Porém, uma coisa eu posso garantir: essa ingenuidade e até inocência exacerbadas está longe de nos colocar como ‘anjos azuis’, naquele sentido estereotipado. Quem ver as cenas de sexo do livro, que passam longe da aberração em algumas pessoas teimam em enquadram as vivências trans, vai se deparar com toda a pureza emocional em meio a um erotismo esplícito.

As inspirações por trás do romance A Morte da Inocência, sobre autismo e a relação amorosa

Minha mãe leu o livro e disse: “como mãe, é uma experiência estranha imaginar que você não tirou isso do nada e que parte dessas situações podem ter acontecido de verdade, coisas comuns às relações entre qualquer casal“. Mas as cenas mais picantes, embora cruas, são carregadas de romantismo e ternura. Você percebe que há muito sentimento entregue ali por parte daquela jovem mulher. Afinal, Rebecca é uma enorme sonhadora e uma romântica incorrígivel. E vê-la atingindo a paz em meio à tempestade de sentimentos e de sensações até mesmo físicas que são imprevisíveis e incontroláveis, é a meu ver um dos movimentos mais bonitos da história.

As minhas principais inspirações para a redação deste romance foram os roteiros de Sofia Coppola, cineasta por trás de obras-primas como Encontros e Desencontros (2003) e Priscilla (2023), e os livros de Collen Hoover, como É Assim que Acaba (2016) e Verity (2019). É que, com a Sofia, aprendi a comunicar muito mais elementos que um simples conjunto de palavras pode trazer sobre as relações humanas e a mente das pessoas.

A Morte da Inocência é romance new adult com protagonismo trans e neurodivergente

Como resultado disso, A Morte da Inocência caminha muitas vezes por um território do que não é falado, não é dito. Mas, está ali e pode ser sentido por quem lê o livro. Já da Colleen, estão a junção de elementos de romance e suspense que podem até soar mal amarrados para alguns, mas conferem complexidade aos personagens e tornam o enredo envolvente.

Há um momento na história em que o clima fica mais pesado: “Nada é mais gostoso do que morar com o Oliver. Os meus sonhos de adolescente, quando ficava em frente à televisão assistindo a comédias românticas tipo A Nova Cinderela entre um episódio e outro de Pretty Little Liars, enfim, tornaram-se realidade. A presença de Oliver me reconforta. Estamos sempre juntos quando ele não precisa sair para consertar o carro, tomar um ar ou quando fica duas horas no banho. Mamãe ficou muito feliz com o nosso relacionamento, mesmo ficando um pouco abismada quando Nicolette, uma amiga nossa que é policial, disse estar muito preocupada com o nosso envolvimento. E é sobre isso que estamos conversando agora!“. O que se segue depois disso é algo realmente alarmante. E convida os leitores a torcerem ou não para o casal e a escolherem compartilhar ou não com os sentimentos da Rebecca.

Prestes a completar uma década de carreira, Sophia Mendonça se reiventa como escritora

Por muito tempo, eu fui rotulada como uma escritora do jornalismo especializado em autismo. Na verdade, eu me aprofundei tanto nessa área que em determinado momento, senti que estava ficando distante das minhas próprias emoções. E das experiências das pessoas comuns. Assim, resgatei o mergulho à criatividade. Este livro integra um projeto de lançar obras de ficção com foco em vivências cotidianas de autistas, do qual também fazem parte “Nem Tudo é o que Parece” (2023) e “Você não é mais aquele garoto” (2024). “A Morte da Inocência” é meu quarto romance, em uma produção que ainda inclui o juvenil Danielle, asperger (2016). Com isso, um ano antes de completar uma década de carreira literária, me vejo de volta ao ponto primordial. Portanto, uso a arte e a criatividade para suscitar reflexões a partir de uma revisitação ao nosso cotidiano. A partir daí, surge um novo olhar.

Link para o livro na Amazon, por R$1,99. Leia e deixe seu comentário!

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