Segundas Intenções - O Mundo Autista
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Segundas Intenções

Sophia Mendonça comenta o clássico adolescente dos anos 1990 Segundas Intenções, que tem uma atuação icônica de Sarah Michelle Gellar.

Sophia Mendonça comenta o clássico adolescente dos anos 1990 Segundas Intenções, que tem uma atuação icônica de Sarah Michelle Gellar.

Lançado em 1998, “Segundas Intenções” é uma versão adolescente de “As Ligações Perigosas”, romance epistolar da autoria de Choderlos de Laclos publicado em 1782. Aliás, obra original retrata as relações de um grupo de aristocratas por meio das cartas trocadas entre si, na época imediatamente anterior à Revolução Francesa. Assim, eram nobres ociosos e sem escrúpulos que dedicam-se prazerosamente a destruir as reputações de seus pares.

Segundas Intenções e Ligações Perigosas

Por isso, quando lançado, o livro foi considerado calunioso. Afinal, ele tratava de outro modo a nobreza francesa, mostrando a história de personagens vis, sem as idealizações da literatura anterior. E mais do que uma crítica à nobreza francesa, o livro é uma obra-prima do gênero. Dessa forma, adentrou muito a fundo a mente dos personagens, mostrando seus temores, desejos e malícias.

Assim, nesta versão moderna, em Manhattan, Kathryn Merteuil (Sarah Michelle Gellar) e Sebastian Valmont (Ryan Phillippe), pertencem a uma rica família e vivem como irmãos, desde o casamento do seus pais. Ele tem a fama de ser um incrível sedutor e gosta de manter tal reputação, enquanto que Kathryn, apesar de ser ainda mais imoral que ele, prefere fazer o gênero da jovem boa e comportada.

Qual é a história de Segundas Intenções?

Mas, quando seu namorado a troca pela inocente Cecile Caldwell (Selma Blair), Kathryn decide se vingar e desafia Sebastian a um jogo, em que ele teria que seduzir e acabar com a reputação de Cecile. Sebastian por sua vez propõe mais um desafio. Ou seja, deflorar a bela e virgem filha do diretor, Annette Hargrove (Reese Witherspoon). Porém, Kathryn termina lhe propondo um novo jogo. Assim, se ele não conseguir levar Annette para a cama até o final do verão, seu carro, um magnífico Jaguar 56, será dela. Mas, se vencer, poderá fazer o que quiser na cama com a única mulher que não pode possuir: ela mesma.

Por sinal, a força e a profundidade do texto encontram reflexo no elenco de alto nível. E apesar de não ser Glenn Close, dona da melhor versão do papel em “Ligações Peirigosas” de Stephen Frears, é Sarah Michelle Gellar quem mais se destaca numa brilhante interpretação. A atriz, que na época era extremamente famosa no cinema e na televisão cria uma vilã tão odiosa quanto humana.

Sarah Michelle Gellar é icônica em Segundas Intenções

Aliás, a Kathryn de Gellar é, simultaneamente, sensual e cruel. E chega a ser divertido acompanhar suas maldades. Ao mesmo tempo, a personagem também funciona como crítica ao machismo já que, por ser mulher, seus hábitos sexuais devem ser realizados na surdina, ao contrário do que ocorre com os homens cuja devassidão não é vista socialmente como defeito grave. Inclusive, a inteligência da personagem e a maneira como ela lida com isso é um dos vários pontos interessantes da obra.

Enquanto isso, Ryan Phillipe constrói um personagem que é assumidamente um cafajeste, mas não menos hipócrita em suas estratégias para seduzir mulheres. Porém, o personagem dele, Sebastian, é o que mais se transforma ao longo da trama. O que poderia revelar-se um artíficio fútil e inverossímil, mas que é bem conduzido por Phillipe.

Segundas Intenções é clássico adolescente dos anos 1990

Outra surpresa é ver Selma Blair (de “Tudo Para Ficar com Ele”, do mesmo diretor) como a garota inocente. Afinal, a atriz é conhecida por papéis com um quê mais erotizado e aqui não é diferente, pois sua escalação e performance também apresentam um caráter irônico. Ou seja, a personagem dela, Cecile, não é assim tão pura. Aliás, ela só não tem estratégias para entrar nos jogos de sedução embora seja este seu desejo. E fechando o elenco principal, Reesee Whiterspoon (que mais tarde viria a ganhar o Oscar por “Johnny e June”, de 2005) é a mais insossa do elenco. Porém, tal característica combina com a personagem.

Assim, o grande mérito de “Segundas Intenções”, e que acaba tornando-se o grande diferencial desta para tantas outras adaptações Hollywoodianas do clássico romance, é a forma como o cineasta Roger Krumble adentra no submundo dos adolescentes ricos. Ou seja, aqueles que vivem uma vida de fachada. E que passam uma imagem de puros quando a realidade passa bem longe disto. Assim, Krumble aproveita-se da atemporalidade do texto e cria obra ágil, inteligente, moderna, com ótima trilha sonora e capaz de envolver fortemente o espectador durante toda a projeção.

Avaliação

Avaliação: 4 de 5.

Trailer

Trailer do filme Segundas Intenções

Autora da Crítica

Sophia Mendonça é uma youtuber, podcaster, escritora e pesquisadora brasileira. Em 2016, tornou-se a pessoa mais jovem a receber o Grande Colar do Mérito em Belo Horizonte. Em 2019, ganhou o prêmio de Boas Práticas do programa da União Européia Erasmus+.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal UAI.

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