Pedir para Sandra Bullock devolver Oscar é uma violência sexista e etarista. Eu fui uma das pessoas que vibraram quando Sandra Bullock venceu o Oscar de Melhor Atriz pela atuação no filme Um Sonho Possível (2009). Afinal, ela teve uma abordagem minimalista. E com isso, conseguiu transformar uma personagem que seria fácil de se tornar uma caricatura cômica ou vilanesca em um papel verossímil. Assim, a atriz coroou a transição de mocinha adorável e adorada de comédias românticas para uma intérprete dramática e madura.
Porém, lembro-me que à época a comemoração pela vitória dela não foi unanimidade. Então, cheguei a assistir a um vídeo em que a própria Sandra Bullock lia críticas falando que a interpretação dela no filme era comum e que ela estaria velha demais para ganhar o prêmio aos 47 anos, visto que desde os anos 2000 a maior parte das vencedoras da principal categoria de atuação feminina está entre os 20 e 30 anos. Inclusive, em alguns casos, interpretando papéis de mulheres mais velhas.
Um Sonho Possível, mesmo antes das polêmicas que envolvem a descoberta recente de que a história de adoção vendida aos produtores não era exatamente daquele jeito, não agradou tanto as plateias brasileiras quanto as estadunidenses. Afinal, lá nos EUA a plateia formada por um público mais conservador e distante das mazelas da pobreza, se viu na transformação maternal por um desejo de compaixão ético evidenciado pela personagem real vivida por Bullock.
Assim, ver parte desse público vendo a magia do filme se esvair fortemente, como também aconteceu comigo, é algo que só valida a qualidade da interpretação complexa de Sandra Bullock. Isso porque ela conseguia trazer uma dimensão humana e de fácil identificação a um papel de dondoca que ou seria visto como alívio cômico ou estaria na posição de vilã.
Além disso, se hoje sabemos que a personagem fictícia se construiu sobre alicerces não tão fiéis aos fatos, isso se deve aos acordos que aconteceram para a venda da história. Ou seja, não é algo que passa pelo elenco. E pelo que andei acompanhando, o sentimento de frustração e traição parece se estender à própria Sandra Bullock, que é uma das atrizes mais queridas pelos pares em Hollywood também pela personalidade e jeito de tratar os outros.
Ou seja, é como se o público ansioso por ter alguém para descontar a própria raiva e a frustração, buscasse a figura mais visível dessa história como forma de retratação. Ou seja, além de não fazer nenhum sentido, é uma maneira de penalizar quem, em algum grau, também é vítima da situação. E com isso, impedi-la o fruto do reconhecimento pela própria obra, que não está ligada ao fato que incomoda em si.
Sophia Mendonça é uma criadora de conteúdo, escritora e desenvolvedora brasileira. É mestre em Comunicação, Territorialidades e Vulnerabilidades (UFMG) e doutoranda em Literatura, Cultura e Tradução (UfPel). Em 2016, tornou-se a pessoa mais jovem a receber o Grande Colar do Mérito em Belo Horizonte. Em 2019, ganhou o prêmio de Boas Práticas do programa da União Européia Erasmus+.
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