Para entender a negritude de nossa gente e a reação do BBB João Luiz - O Mundo Autista
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Para entender a negritude de nossa gente e a reação do BBB João Luiz

Para entender a negritude de nossa gente e a reação do BBB João Luiz

Selma Sueli Silva

No Jogo da Discórdia do BBB21, ao vivo ontem à noite, João Luiz lembrou do comentário de Rodolffo, chorou e foi abraçado por outros brothers. Em sua defesa, o sertanejo argumentou que “se todo mundo observou como era a peruca do monstro” foi possível constatar certa semelhança. João Luiz reafirmou que o cabelo dele não é semelhante ao do homem das cavernas. Mas Rodolffo insistiu que o cabelo de seu pai é “igual” ao de João, como se isso fosse justificativa para tal comparação. A parceira Camilla de Lucas conversou com o cantor goiano, em particular, para explicar o motivo de João ter ficado incomodado com o que escutou: “Talvez não seja a sua intenção, mas isso magoa. Para a gente que ouve, é cansativo”.

É preciso entender que nem todo cabelo é igual, nem mesmo entre os crespos. Os tipos de fios são divididos entre os números 1 e 4, sendo os cabelos de tipo 1, os lisos, 2, os ondulados, 3, os cacheados e 4, os crespos. Dentro da família dos crespos eles são subdivididos em letras, sendo 4A, 4B e 4C, conforme as características de cada um deles.

Cabelo crespo 4A: são cachos abertos e definidos, muito parecidos com os cabelos cacheados de tipo 3C. Tanto que muitas pessoas apresentam fios com curvaturas misturadas entre 3C e 4A na cabeça. Portanto, esse motivo também é possível considerar um cabelo 3C crespo em determinados casos. Apresentam formato espiral e ressecamento nas pontas.
Cabelo crespo 4B: cachos menores, estreitos e apertados, também mesclados com fios em formato ziguezague. Esses fios são extremamente ressecados e suscetíveis a quebra.
Cabelo crespo 4C: nesse caso as molinhas em espiral são quase imperceptíveis, apresentando o formato de “Z” praticamente em sua totalidade, com pouca ou nenhuma definição. Desse modo, são ainda mais ressecados e frágeis do que o fio 4B.

Se diante desses conceitos há ainda, quem acredita na semelhança, vamos lá:
1. O cabelo do João é lavado com regularidade
2. João usa produtos próprios para cuidar de seu cabelo
3. Ele mantém o cabelo crespo cortado a seu gosto
4. Ele não usa ossinho como enfeite

Evidentemente, Rodolffo não sabe de todas essas particularidades sobre os cabelos crespos. Então, com certeza, sua avaliação foi subjetiva, de acordo com sua visão particular sobre cabelos. E ele erra feio pois os cabelos dos homens das cavernas são arrepiados, sujos e descuidados (devido às condições da época), podendo pertencer a qualquer uma das 4 classificações: do liso ao crespo. Portanto, podemos inferir que a comparação que Rodolffo fez, foi com o formato, a aparência e a falta de cuidados dos cabelos dos homens pré-históricos com como o cabelo do João é visto e percebido por ele.

Reforçando, se Rodolffo pensa assim do cabelo do pai dele, ele também está sendo preconceituoso com relação ao pai e não o contrário. E ainda, quando ele se defende dizendo que não falou de maldade, ora, isso significa somente que o racismo está introjetado nele e que ele sequer percebe sobre como as pessoas pretas são obrigadas a conviver, diuturnamente, com comentários preconceituosos de pessoas autodefinidas como sem maldade. Sem maldade pode até ser mas, com certeza, essa postura banaliza as características de cada ser humano e reforça o racismo estrutural.

O professor Milton Santos (1926 – 2001) é reconhecido mundialmente como um dos maiores geógrafos brasileiros. O preconceito racial presente em seu cotidiano foi um tema que, apesar de não ter sido central, também permeou a obra de Milton Santos. Em uma de suas poucas palestras disponíveis em vídeo, ele afirmou que “a luta dos negros só pode ter eficácia se forem envolvidos todos os brasileiros: “Não cabe só aos negros fazer essa luta. Ela tem que ser feita, sobretudo, por todos.”

*Racismo estrutural é um conjunto de práticas discriminatórias, institucionais, históricas, culturais dentro de uma sociedade que frequentemente privilegia algumas raças em detrimento de outras. O termo é usado para reforçar o fato de que há sociedades estruturadas com base no racismo, que favorecem pessoas brancas e desfavorecem negros e indígenas.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal UAI.

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Maria Leticia
Maria Leticia
1 ano atrás

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