Qual é a história de Malévola? E qual a fraqueza desta vilã? Sophia Mendonça comenta a obra-prima da Disney.
Malévola inteligentemente vira do avesso os clichês dos contos de fadas da Disney. Dessa forma, resgata a figura da bruxa má de A Bela Adormecida e confere a ela profundidade e motivação. O filme se destaca por narrar a jornada de uma fada benevolente que se entrega à dor e à raiva, uma decisão narrativa que ressoa profundamente com as experiências de muitas mulheres. Há até uma cena impactante, que simboliza um estupro, e ganha uma conotação ainda mais emocionante e relevante quando revisitada na vida adulta.
Baseado no clássico A Bela Adormecida, o filme acompanha a história de Malévola (Angelina Jolie), a guardiã do reino dos Moors. Desde a infância, essa garota com chifres e asas mantém a paz entre dois reinos distintos. No entanto, ela se apaixona por Stefan (Sharlto Copley). Ele é um jovem ambicioso que a abandona em busca de poder, almejando o trono do reino vizinho. Ferida e traída, Malévola se transforma em uma mulher vingativa e amargurada. Portanto, decide amaldiçoar Aurora (Elle Fanning), a filha recém-nascida de Stefan. Contudo, a convivência com a doce e pura Aurora, gradualmente, desperta nela sentimentos de amizade e afeto.
O roteiro tem a grife de Linda Woolverton, que é a mente por trás de clássicos como A Bela e a Fera e O Rei Leão. A roteirista sempre demonstrou sua genialidade ao equilibrar personagens femininas fortes com os arquétipos tradicionais de princesas, tudo isso com uma sensibilidade ímpar para as nuances do universo contemporâneo. Dessa forma, a habilidade de Woolverton em extrair o melhor de cada elemento inspirador da trama é notável. Com isso, ela transforma uma figura aterrorizante em alguém por quem o público sente afeição.
Além disso, Angelina Jolie entrega uma performance magistral. Isso porque ela percorre com maestria um arco dramático rico em nuances. Sua Malévola transita da pureza ao rancor e desejo de vingança, sentimentos que se transformam graças a uma experiência próxima à maternidade. Ela também é, simultaneamente, a figura que amaldiçoa e abençoa Aurora. Essas transições são um dos pontos mais belos do filme, conectando-o às vivências femininas reais e culminando em uma reviravolta tocante para quem conhece a história original. Ademais, Jolie é brilhantemente acompanhada por Elle Fanning
, uma Aurora adorável, e por Sharlto Copley, que entrega um desempenho vilanesco intenso.A complexidade do filme é aprofundada pela familiaridade com o universo mágico de A Bela Adormecida, inteligentemente recriado por uma direção de arte competente e um trabalho impressionante de figurino e maquiagem, que imergem o espectador na história. Além disso, as referências ao clássico são cuidadosamente inseridas. Nesse sentido, a bela trilha sonora, composta por James Newton Howard, é um elemento fundamental. Por fim, o diretor Robert Stromberg acerta no ritmo e na emotividade, evitando que a trama se perca em cenas de luta excessivas.
Sophia Mendonça é jornalista, professora universitária e escritora. Além disso, é mestre em Comunicação, Territorialidades e Vulnerabilidades (UFMG) e doutoranda em Literatura, Cultura e Tradução (UfPel). Ela também ministrou aulas de “Tópicos em Produção de Texto: Crítica de Cinema “na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), junto ao professor Nísio Teixeira. Além disso, Sophia dá aulas de “Literatura Brasileira Contemporânea “na Universidade Federal de Pelotas (UfPel), com ênfase em neurodiversidade e questões de gênero.
Atualmente, Sophia é youtuber do canal “Mundo Autista”, crítica de cinema no “Portal UAI” e repórter da “Revista Autismo“. Aliás, ela atua como criadora de conteúdo desde 2009, quando estreou como crítica de cinema, colaborando com o site Cineplayers!. Também, é formada nos cursos “Teoria, Linguagem e Crítica Cinematográfica” (2020) e “A Arte do FIlme” (2018), do professor Pablo Villaça.
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