Intervenção precoce não se restringe a moldar o autista. - O Mundo Autista
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Intervenção precoce não se restringe a moldar o autista.

Intervenção precoce não se restringe a moldar o autista

Victor Mendonça e Ana Flávia Pascotto

Como a intervenção precoce pode ajudar no desenvolvimento da criança atípica? A psicóloga Ana Pascotto fala sobre esse papel na evolução da criança, além do real significado da inclusão.

Ana Pascotto e Victor Mendonça no Programa Na Real

Victor Mendonça: A intervenção precoce é sempre um assunto relacionado ao autismo. O diagnóstico precoce é muito importante para o início dos estímulos necessários à criança autista. Porém muitos pais, ao mesmo tempo ficam com receio de que aquilo seja um rótulo para o filho, sanem também, que na realidade é uma oportunidade de compreender um modus operandi dele, e de fornecer os estímulos necessários para que a pessoa consiga ter uma vida mais autônoma, mais feliz.

Então, eu queria que você falasse um pouco sobre essa intervenção precoce: ela é só focada nos déficits, nos desafios?

Ana Flávia Pascotto: Eu trabalho também na clínica e toda pessoa que chega com um diagnóstico: porque geralmente veio de um psiquiatra, neurologista ou neuropediatra, todos que chegam com diagnóstico de autismo, eu não invalido esse diagnóstico, claro. Entretanto, eu não trabalho com o diagnóstico fechado. Eu vou focar mais nas habilidades que ele não está apresentando, mas também, nas habilidades que ele já apresenta, além das habilidades alternativas.

Se a gente tem um autista que não está desenvolvendo a linguagem, mesmo que ele tenha um ou dois anos, eu não vou me fechar ao fato de que ele nunca vai se expressar na linguagem oral, falada em sociedade. Eu vou explorando outras linguagens não-verbais, como a arte. Porque essa arte dele, que ele consegue pintar, consegue modelar na massinha, essa arte pode ser um estímulo muito forte para que no futuro a criança possa apresentar a linguagem oral-visual. Eu prefiro não focar só nessa questão dos déficits que sabemos que a criança vai apresentar. A pessoa dentro do Transtorno do Espectro Autista (TEA) vai ter suas dificuldades, seu modo de funcionar diferente. Mas isso não quer dizer que por causa desse modo diferente, os outros não vão se adaptar a ele e nem ele aos outros. Eu acho que essa é a verdadeira inclusão. A gente também se adaptar aos modos de inclusão de uma criança ou um adulto com TEA. Eu vejo muitas pesquisas, muitas notícias de alguns que não são verbais mas que conseguem escrever histórias, desenhar livros, escrever livros, fazer vídeos. São comunicações diferentes e é nisso que, com a intervenção precoce, a gente tem que focar, não só nos déficits, porque são pessoas únicas e neurodivergentes. Não há nenhum problema nisso, mas sim, muita riqueza.

Victor Mendonça: Você tocou em um ponto que até me emociona, porque é exatamente isso: é olhar para o indivíduo, para aquele sujeito na sua plenitude e ver o que ele pode oferecer para ser feliz e para contribuir para a sociedade ser mais feliz também. O que eu sempre falo nas minhas palestras é isso: a gente tem de ser feliz e contribuir para o utro ser feliz também. Esse é um convite às diferenças, seja como uma forma. Mesmo aqueles autistas que não tenham essa autonomia maior, eles podem contribuir para esse convívio.

Ana Flávia Pascotto: Eu observo que, no geral, a sociedade tem muito medo do diferente, mas um medo de não saber lidar. Contudo, quanto mais você convive com a diferença, mais você vê que nem é tão diferente assim. É uma maneira apenas diferente da sua. Antes, eu não tinha convívio com os surdos. Quando chegou um funcionário novo e surdo onde eu trabalho , eu pensei: “Meu Deus, como eu vou comunicar? Eu não sei libras. ainda”. Aí, conforme eu fui convivendo, conforme eu fui conversando e aprendendo alguns sinais, eu vi que é tranquilo. É essa convivência com o diferente, com a diversidade, que nos faz vê que a gente não precisa ter esse medo e não precisa achar que não vai dar conta, que não vai dar conta de conversar. É só pensar em pessoas neurotípicas: eu posso ser a pessoa mais afetiva do mundo e minha mãe, não. E não tem problema. Dá para a gente conviver, para a gente viver. E o mesmo vale para o autismo.

Victor Mendonça: Uma coexistência harmoniosa. Eu falava muito isso nas minhas primeiras palestras. Não tem uma disputa velada entre autistas e não-autistas. É a gente junto, construindo um mundo melhor.

Ana Flávia Pascotto: Um mundo mais inclusivo.

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