Filmes de terror: fantasia, medo e realidade - O Mundo Autista
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Filmes de terror: fantasia, medo e realidade

Victor Mendonça e Raquel Romano

É possível ter ludicidade no medo? Victor Mendonça e Raquel Romano falam sobre as lições que o medo podem trazer.

Victor Mendonça: O tema de hoje é algo que amo: filmes de terror. Aliás, muita gente ama, não é só eu não. Os filmes de terror, eu até escrevi sobre isso em um artigo, que foi publicado em uma coletâneaDez anos depois, que foi escrita com a minha mãe Selma Sueli Silva, e que também foi publicada em uma revista cultural chamada Inclusive.com. Nesse artigo, “Metamorfose do medo”, eu descrevo as metáforas dos filmes de terror como elas evoluem dos medos reais das pessoas e se transformam conforme os medos reais de cada época.

A gente sabe que a humanidade não inventa nada de que ela não precise, seja para fins altruístas ou mesquinhos. Um filme de terror vem como uma forma de lidar com os nossos próprios medos e inseguranças. O filme de terror faz isso de maneira mais lúdica e que permite, apesar do caráter mais fantasioso, que as reflexões se abram para mais possibilidades. Algumas pessoas questionam o fato de se gostar de filmes que provocam medo e questionam sobre qual seria o objetivo de se provocar o medo. Raquel, pode haver diversão e ludicidade nesse sentimento no medo?

Raquel Romano: Claro que pode e é muito interessante! Cinema é um lugar da fantasia, é o lugar do lúdico. Pensar sobre isso, me remete à minha infância na fazenda do meu avô. Não havia luz elétrica e a gente brincava de não ter medo. Essa foi uma lição maravilhosa que eu e meus irmão aprendemos a viver, brincando de assombração, de um assustar o outro, de ver figuras na sombra, na árvore. Víamos uma figura mitológica que podia meter medo na gente, mas nunca tivemos medo porque era um momento lúdico. E, esse filme de terror é como você disse, ele vem suprir uma necessidade da pessoa, do telespectador de entrar em contato com o medo. As próprias crianças gostam de filme de terror, os personagens de desenho animado muitas vezes são fantasmagóricos não só no físico.

Victor Mendonça: Para mim, Branca de Neve me causa mais medo do que qualquer filme de terror. A figura daquela bruxa-madrasta é horripilante.

Raquel Romano: Verdade, nós podemos trazer essas analogias dos personagens, da personalidade de cada um para a vida real e entender aqueles medos, aqueles sentimentos que estão dentro da gente, que estão na nossa sociedade. Nós podemos brincar com aquelas ideias. Então, na medida que você sabe que não é real, pronto, você parte para o lúdico, que é brincar com o terror. Você passa a entender que esse terror entra em contato com seus próprios medos e pode sair voando por aí. Você não vai mais se assustar porque vai entender que é fantasia. A fantasia é necessária na nossa vida, desde que seja distinta da realidade. Eu sei o lugar da fantasia, eu sei o lugar da realidade e posso fazer até um diálogo entre esses dois lugares. Entendeu?

Victor Mendonça: É verdade.

Raquel Romano: Você é expert nesse assunto.

Victor Mendonça: Bom, eu sou crítico de cinema, então eu sou suspeito neste tipo de assunto. Já assisti a diversos tipos de filmes de terror, já assisti a filmes de diversas nacionalidades, de diversos lugares e épocas, cada um com sua característica bem específica. O medo é quase uma reação de defesa. Então, para a gente “treinar”o medo se valendo da fantasia, para entender a relação entre o filme de terror e o lúdico, percebemos que a sabedoria dos filmes de terror passa a ser ferramenta para que possamos lidar com nossos medos reais.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal UAI.

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