Victor Mendonça e Ana Flávia Pascotto
Estreando neste espaço, a psicóloga Ana Flávia Pascotto fala sobre o Transtorno Opositor Desafiador (TOD). Com registro de 150 mil casos por ano, o quadro pode durar por muito tempo ou por toda a vida. Porém, com a intervenção correta, a possibilidade de evolução existe.
Victor Mendonça: Eu estou muito feliz porque é o começo de uma parceria com a psicóloga, pós-graduanda em neurociências aplicadas à educação, Ana Pascotto.
A Ana tem uma experiência muito grande nas áreas das psicologia e da psicologia aplicada à educação. Ela trabalha com autistas desde a infância até a fase adulta. Então, acredito que será uma experiência muito enriquecedora. É uma pessoa por quem eu tenho um muito carinho, respeito pelo trabalho e pela seriedade com a profissão. Estou muito feliz em tê-la aqui com a gente. Uma demanda frequente dos pais é a questão do Transtorno Opositor Desafiador (TOD), que parece até ter intensificado, em alguns casos nesta quarentena. Mas, para deixar claro para as pessoas que estão nos acompanhando, o que é esse Transtorno Opositor Desafiador?
Ana Flávia Pascotto: Conhecido como TOD, pode ser o Transtorno Opositor Desafiador ou Transtorno Desafiador de Oposição. Atualmente, usamos esses dois nomes. E a caracterização desse transtorno se dá principalmente por um comportamento desafiador e desobediente à figura de autoridade. Quando eu falo de figura de autoridade, não se trata de polícia ou algo do tipo, são de pequenos detalhes do dia a dia, como as regras mais comuns: a rotina em escola, clínica, hospital, ambientes que possuem regras. Nesse contexto todo, a pessoa tem dificuldade em obedecer. Por ser uma combinação tanto de fatores genéticos e ambientais, é uma reação dialética, não há algo específico ainda, mas sim uma relação entre esses fatores. Geralmente, ocorre entre 8 e 12 anos e é possível fazer um diagnóstico. A pessoa que tem o TOD tem o humor irritado, intolerância à frustração, comportamento e índole agressiva. Esse comportamento costuma aparecer muito na escola e é aí que começamos a identificá-lo. É necessário atenção porque na fase de desenvolvimento da criança é normal ter intolerância à frustração, é normal ficar mais agressiva. Porém, com o TOD isso passa a ser recorrente por muito tempo, ou seja: se torna bem mais agravante. Não vai ser algo que passa o que leva a prejuízos na vida adulta, como no ambiente de trabalho, onde a pessoa pode não conseguir seguir regras, por exemplo.
Victor Mendonça: O nome desse transtorno é até curioso porque é um desafio para quem lida com isso também. A dificuldade com figuras de autoridade, em qualquer nível, como você apontou, é um desafio para ambos.
Ana Flávia Pascotto: No geral, é muito importante um tratamento multidisciplinar, que é a psicoterapia com toda a família. É interessante, ainda, um suporte escolar e quando a gente fala desse suporte escolar, a gente lida muito com a mediação. Tanto que, a mediação não serve só para quem está no Transtorno do Espectro Autista (TEA). Na mediação, ao invés de a gente apenas impor as coisas, a gente utiliza o discurso da sugestão: Por que você acha que não pode fazer dessa maneira? Isso porque tira um pouco o valor de estar mandando a pessoa fazer. “Olha, a gente pode fazer dessa e dessa maneira: qual você escolhe?”. E o mais importante também é fazer uma psicoterapia, para aprender a lidar com frustração e raiva. Esses são os dois passos mais importantes. Na educação a gente se utiliza da mediação em que, pela comunicação, alteramos alguns comportamentos. O tom de voz é muito importante pois é preciso não ter um tom de voz alto e autoritário e também não castigar, porque a punição não vai resolver o impasse e acaba sendo um reforço do comportamento, o reforço negativo, dentro da perspectiva da Terapia Cognitivo Comportamental (TCC ).
Victor Mendonça: É interessante isso, a punição pode acabar validando o comportamento da pessoa. E, ao mesmo tempo, quando você fala da sugestão, a própria pessoa vai tendo os elementos para construir as próprias ideias e comportamentos.
Ana Flávia Pascotto: É o que a gente chama da reestruturação cognitiva, que permite que a pessoa encontre outras maneiras de lidar com as situações, além daquele comportamento fechado do transtorno em si.
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