Arte e entretenimento

Crítica: Emily (2022)

Autora de O Morro dos Ventos Uivantes, Emily Brontë foi uma escritora de primeira grandeza. Porém, pouco se sabe sobre a artista durante o curto tempo de vida dela. Dessa forma, resta-nos especular sobre os motivos que levaram-na a se tornar alguém tão hábil com as palavras. Algumas das poucas pistas que temos para isso estão nas cartas da irmã, a escritora Charlotte Brontë.

Assim, com base em um exercício de imaginação sobre a personalidade de Emily, a diretora Frances O’Connor cria a própria narrativa acerca da romancista neste longa-metragem. Tudo isso é feito de modo a desvelar aspectos não apenas da vida pessoal de Emily Brontë, mas principalmente como meio de se entender as motivações literárias dela.

Emma Mackey e Frances O’Connor criam narrativa sobre autora de O Morro dos Ventos Uivantes

Neste sentido, a diretora apresenta uma parceria perfeita com Emma Mackey, que encarna Emily com sensibilidade e liberdade. Isso porque a atriz não se prende a uma pré-concepção engessada e limitada pela falta de registros de quem seria Emily Brontë. Assim, a Emily que vemos aqui é alegre, mal-humorada, ansiosa, rebelde e apaixonada. Tudo isso em uma composição crível, que não aparece como desrespeitosa à figura real.

Esta é uma interpretação com os elementos que temos sobre Emily e que faz sentido. Ou seja, pode de fato se assemelhar a quem ela era concretamente. Além disso, na versão de Emma Mackey, Emily Brontë é uma figura vista como estranha, que tem dificuldades em fazer contato visual e manter relações mais próximas. Então, quando ela conhece Michael Weightman (Oliver Jackson-Cohen), ela o percebe como uma figura masculina agradável e não opressora.

Filme é uma leitura coerente da p ersonalidade e da arte da escritora

Assim, o filme Emily vai fundo em sequências extraordinárias que, com natureza especulativa, convencem tematicamente e emocionalmente. Com isso, revela uma narrativa instigante sobre a relação entre os Bronte. E, em meio a tantas figuras femininas fortes e peculiares, Branwell (Fion Whitehead) é o único irmão homem. A relação entre ele e Emily, como uma dupla de rebeldes que se apoiam, é o coração do filme. Inclusive, Branwell tinha a sensibilidade artística das irmãs. Porém, não evidenciava a mesma motivação e disciplina que elas.

No mais, Emily envolve com uma fotografia enérgica e um senso de humor flexível, que conferem calor humano à história de paixão proibida. O filme sabe muito bem trabalhar essa noção de narrativa, que não necessariamente será fiel aos fatos como no caso de uma biografia. Porém, o mérito está em como a obra consegue aguçar a imaginação e a reflexão do espectador em uma leitura coerente do que pode ter acontecido.

Avaliação

Avaliação: 4 de 5.

Trailer

Emma Mackey e Frances O’Connor criam narrativa própria sobre Emily Brontë, em uma leitura coerente da personalidade e da arte da escritora.

Autora da Crítica

Sophia Mendonça é uma youtuber, podcaster, escritora e pesquisadora brasileira. Em 2016, tornou-se a pessoa mais jovem a receber o Grande Colar do Mérito em Belo Horizonte. Em 2019, ganhou o prêmio de Boas Práticas do programa da União Européia Erasmus+.

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