Recebi o diagnóstico tardio como autista. Em 2016, quando tornei público o meu diagnóstico sobre o TEA – Transtorno do Espectro do Autismo, fui questionada, retaliada e até acusada de querer aparecer. Eu já havia construído carreira no rádio, como jornalista. Aparecer? Mais?
Mas não ficou só nisso, determinado psiquiatra me aconselhou a não dizer que era autista. Para ele, não me acrescentaria nada. Pelo contrário, só me rotularia. Como se eu já não fosse cheia de rótulos por ser “diferente”. E então, percebi que além de sofrer o preconceito como pessoa neurodivergente, passei a sofrer outro preconceito, o etarismo. Para muitas pessoas, eu já estava velha. E, além disso, para quem é 50+, a vida já se apresentou de uma forma definitiva. Que cabecinhas pequenas. O meu tempo é aqui e agora. O autoconhecimento é bem vindo a qualquer tempo. Liberta e dá asas a quem sabe que a vida é muito mais que uma medida do tempo cronológico. Inventado pelo homem, diga-se de passagem.
Tempo, tempo, tempo. Qual idade você tem? O que ainda pode fazer? É uma pessoa velha com espírito jovem? Meus deuses e deusas. Idade é sim, algo muito relativo. Se eu disser que tenho 55 e você me achar com “cara” de 70, já era. Você vai continuar me considerando velha para a idade que eu tenho.
Mas, se ao contrário, eu disser que tenho 55 anos e você me achar com “cara” de 40, eu levo a pior de novo, você vai ficar surpresa e vai passar a procurar os sinais dos 55 anos em mim. Por isso, a relação que tenho com minha idade é íntima e só importa para mim. Portanto, a relação do outro com a minha idade, é dele e não me interessa nem um pouco.
Foi assim que ignorei as bobagens que ouvi
quando recebi o diagnóstico tardio. E mais, resolvi torná-lo público. Aliás, o que a maioria dos seres pensantes (?) não percebe é que se expor é difícil mas é preciso. Pelo coletivo. Por tantas pessoas que estariam sofrendo por não se conhecerem. Dizer “sou autista, diagnosticada tardiamente” abre caminho para a reflexão de muita gente.Em meu livro, ‘Camaleônicos – a vida de adultos autistas’ eu apresento uma série de autistas que vale conhecer. Pessoas maravilhosas, com histórias bem interessantes. Muitas delas, se reconheceram em minha trajetória e partiram em busca do diagnóstico. Já perdi as contas de quantas vezes ouvi isso vindo de homens e mulheres que hoje, eu admiro pela coragem de buscar o próprio diagnóstico.
Aliás, foi o que constatei de 2016 para cá. E ontem, acordei com a notícia do diagnóstico da deputada @andreawerner_ . Não foi surpresa para mim. Eu descobri o autismo e depois o TDAH. Ela fez o caminho inverso. Mas o importante é que a deputada Andrea Werner, compartilhou sua descoberta com todos nós. Assim, o ativismo dos adultos autistas ganha um peso pesado. A partilha abre portas. Melhores ventos virão. Eu acredito nisso.
Selma Sueli Silva é criadora de conteúdo e empreendedora no projeto multimídia Mundo Autista D&I, escritora e radialista. Especialista em Comunicação e Gestão Empresarial (IEC/MG), ela atua como editora no site O Mundo Autista (Portal UAI) e é articulista na Revista Autismo (Canal Autismo). Em 2019, recebeu o prêmio de Boas Práticas do programa da União Europeia Erasmus+. Prêmio Microinfluenciadores Digitais 2023, na categoria PcD. É membro da UNESCOSOST movimento de sustentabilidade Criativa, desde 2022.
Você sabia que a música Firework, de Katy Perry, é um hino budista? Confira a…
Enfeitiçados parte de uma premissa inovadora e tematicamente relevante. O filme traz uma metáfora para…
Sophia Mendonça resenha o especial de Natal A Nonsense Christmas with Sabrina Carpenter, com esquetes…
O autismo na série Geek Girl, uma adaptação da Netflix para os livros de Holly…
Os Fantasmas Ainda se Divertem funciona bem como uma fan service ancorada na nostalgia relacionada…
Ainda Estou Aqui, com Fernanda Torres, recebeu duas indicações ao Globo de Ouro e está…