Diagnóstico tardio para o adulto autista - O Mundo Autista
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Diagnóstico tardio para o adulto autista

Duas capas do livro Camaleônicos - a vida de adultos autistas, sobre fundo colorido

Adriana Torres: "Estranha demais para ser normal. Normal demais para ser autista. Assim pensa a maioria das pessoas.

Recebi o diagnóstico tardio como autista. Em 2016, quando tornei público o meu diagnóstico sobre o TEA – Transtorno do Espectro do Autismo, fui questionada, retaliada e até acusada de querer aparecer. Eu já havia construído carreira no rádio, como jornalista. Aparecer? Mais?

Mas não ficou só nisso, determinado psiquiatra me aconselhou a não dizer que era autista. Para ele, não me acrescentaria nada. Pelo contrário, só me rotularia. Como se eu já não fosse cheia de rótulos por ser “diferente”. E então, percebi que além de sofrer o preconceito como pessoa neurodivergente, passei a sofrer outro preconceito, o etarismo. Para muitas pessoas, eu já estava velha. E, além disso, para quem é 50+, a vida já se apresentou de uma forma definitiva. Que cabecinhas pequenas. O meu tempo é aqui e agora. O autoconhecimento é bem vindo a qualquer tempo. Liberta e dá asas a quem sabe que a vida é muito mais que uma medida do tempo cronológico. Inventado pelo homem, diga-se de passagem.

A relação do autista com a idade

Tempo, tempo, tempo. Qual idade você tem? O que ainda pode fazer? É uma pessoa velha com espírito jovem? Meus deuses e deusas. Idade é sim, algo muito relativo. Se eu disser que tenho 55 e você me achar com “cara” de 70, já era. Você vai continuar me considerando velha para a idade que eu tenho.

Mas, se ao contrário, eu disser que tenho 55 anos e você me achar com “cara” de 40, eu levo a pior de novo, você vai ficar surpresa e vai passar a procurar os sinais dos 55 anos em mim. Por isso, a relação que tenho com minha idade é íntima e só importa para mim. Portanto, a relação do outro com a minha idade, é dele e não me interessa nem um pouco.

Vida que segue

Foi assim que ignorei as bobagens que ouvi quando recebi o diagnóstico tardio. E mais, resolvi torná-lo público. Aliás, o que a maioria dos seres pensantes (?) não percebe é que se expor é difícil mas é preciso. Pelo coletivo. Por tantas pessoas que estariam sofrendo por não se conhecerem. Dizer “sou autista, diagnosticada tardiamente” abre caminho para a reflexão de muita gente.

Em meu livro, ‘Camaleônicos – a vida de adultos autistas’ eu apresento uma série de autistas que vale conhecer. Pessoas maravilhosas, com histórias bem interessantes. Muitas delas, se reconheceram em minha trajetória e partiram em busca do diagnóstico. Já perdi as contas de quantas vezes ouvi isso vindo de homens e mulheres que hoje, eu admiro pela coragem de buscar o próprio diagnóstico.

Mais uma para o time

Aliás, foi o que constatei de 2016 para cá. E ontem, acordei com a notícia do diagnóstico da deputada @andreawerner_ . Não foi surpresa para mim. Eu descobri o autismo e depois o TDAH. Ela fez o caminho inverso. Mas o importante é que a deputada Andrea Werner, compartilhou sua descoberta com todos nós. Assim, o ativismo dos adultos autistas ganha um peso pesado. A partilha abre portas. Melhores ventos virão. Eu acredito nisso.

Selma Sueli Silva é criadora de conteúdo e empreendedora no projeto multimídia Mundo Autista D&I, escritora e radialista. Especialista em Comunicação e Gestão Empresarial (IEC/MG), ela atua como editora no site O Mundo Autista (Portal UAI) e é articulista na Revista Autismo (Canal Autismo). Em 2019, recebeu o prêmio de Boas Práticas do programa da União Europeia Erasmus+. Prêmio Microinfluenciadores Digitais 2023, na categoria PcD. É membro da UNESCOSOST movimento de sustentabilidade Criativa, desde 2022.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal UAI.

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