Ninguém vira autista. Mesmo quando o diagnóstico do TEA – Transtorno do Espectro do Autismo acontece somente na vida adulta, o autismo esteve lá o tempo todo. Há quatro anos, recebi meu diagnóstico. Estava com 53 anos, havia construído uma carreira como jornalista, da qual me orgulho e pensei: “Como assim? Eu não sou quem eu era? Eu não era quem eu sou? Meu cérebro deu um nó. Ninguém vira autista. Eu precisava entender o que estava acontecendo comigo. Minha vida passou em minha mente, como um filme que eu registrei em meu livro: Minha Vida de Trás para Frente.”
O diagnóstico de autismo no adulto
Ainda hoje, parece que o autista desaparece depois da infância. Mas não, eles estão crescendo e aparecendo. Muitas famílias passaram a questionar os profissionais da medicina sobre as características de seus filhos adolescentes ou jovens.
Famílias, médicos, profissionais da saúde – os bons – buscaram mais informações para dar conta dessa geração de autistas. Nessa busca, muitos pais passaram a se reconhecer também como autistas. O número de diagnósticos aumentou e, atualmente, 1 pessoa em cada 59 é autista. Um dos principais motivos é o aumento da capacidade diagnóstica.
Dados sobre o autismo segundo o Centers for Disease Control and Prevention (CDC)
Infelizmente, no Brasil, ainda não existem estudos mais aprofundados que apontem dados estatísticos sobre autistas brasileiros.
Autismo e os critérios diagnósticos do DSM 5
A partir de 2013, com o Manual de Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais 5.ª edição (DSM 5), o autismo passou a ser chamado de Transtorno do Espectro do Autismo e abarcou o chamado Transtorno Autista, a Síndrome de Asperger, o Transtorno desintegrativo infantil e o Transtorno Invasivo do Desenvolvimento.
Se o autismo reúne desordens do desenvolvimento neurológico presentes desde o nascimento ou começo da infância, como diagnosticar o autismo no adulto?
A identificação do autismo em adultos é o resultado de um procedimento de investigação sobre sua infância e para reconhecer os sintomas do autismo em adultos, que podem estar camuflados e até serem confundidos com outros transtornos.
O diagnóstico é dado pelo neurologista ou psiquiatra que entenda de autismo ou que receba um paciente com o resultado da avaliação diagnóstica feita por um neuropsicólogo.
Sobre o autismo em adultos: sinais e sintomas
O autismo em adultos existe e é tão comum quanto em crianças. A sociedade precisa entender que o TEA não termina na infância. As características do autismo em adultos também variam conforme o grau de comprometimento funcional que ele apresenta.
Tanto para autistas sem o diagnóstico quanto para aqueles que já conhecem a sua condição, as dificuldades têm a ver com a linguagem, interação social, processos de comunicação e comportamento social.
Os autistas mais leves geralmente sofrem com problemas para concluir um curso superior, trabalhar, manter um relacionamento amoroso e uma vida social regular. Esses desafios ocorrem por causa das barreiras que existem para uma pessoa autista, com cérebro neurodivergente.
Uma dessas grandes barreiras para o autista adulto é a falta de informação da sociedade. Geralmente, quando o adulto comenta sobre o desejo de ficar sozinho, logo ouve que isso é algo que todo mundo tem. A diferença é que, no autismo isso é algo muito maior e a forma de lidar e sentir é bem diferente.
Já os autistas mais severos, que precisam de um grau maior de suporte, eles podem ter uma vida muito limitada, e até mesmo precisar de internamento no momento em que perdem seus cuidadores. Uma realidade que pode ser mudada com a informação correta sobre as características dessas pessoas e, consequente, aparato para suas necessidades específicas.
Alguns sinais para reconhecer o autismo em adultos.
Selma Sueli Silva é jornalista, radialista, youtuber, escritora, cineasta, relações públicas e pós-graduada em Comunicação e Gestão Empresarial. Foi diagnosticada com TEA (Transtorno do Espectro Autista) em 2016. Mantém o site “O Mundo Autista” no Portal UAI. É autora de três livros e diretora do documentário “AutWork – Autistas no Mercado de Trabalho”.
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