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Diagnóstico de autismo na vida adulta

Livro sobre autismo na vida adulta de Selma Sueli Silva, Minha Vida de Trás pra Frente.

Livro sobre autismo na vida adulta de Selma Sueli Silva, Minha Vida de Trás pra Frente.

Ninguém vira autista. Mesmo quando o diagnóstico do TEA – Transtorno do Espectro do Autismo acontece somente na vida adulta, o autismo esteve lá o tempo todo. Há quatro anos, recebi meu diagnóstico. Estava com 53 anos, havia construído uma carreira como jornalista, da qual me orgulho e pensei: “Como assim? Eu não sou quem eu era? Eu não era quem eu sou? Meu cérebro deu um nó. Ninguém vira autista. Eu precisava entender o que estava acontecendo comigo. Minha vida passou em minha mente, como um filme que eu registrei em meu livro: Minha Vida de Trás para Frente.”

O diagnóstico de autismo no adulto

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Sophia Mendonça e Selma Sueli Silva, autistas adultas.

Ainda hoje, parece que o autista desaparece depois da infância. Mas não, eles estão crescendo e aparecendo. Muitas famílias passaram a questionar os profissionais da medicina sobre as características de seus filhos adolescentes ou jovens.

Famílias, médicos, profissionais da saúde – os bons – buscaram mais informações para dar conta dessa geração de autistas. Nessa busca, muitos pais passaram a se reconhecer também como autistas. O número de diagnósticos aumentou e, atualmente, 1 pessoa em cada 59 é autista. Um dos principais motivos é o aumento da capacidade diagnóstica.

Dados sobre o autismo segundo o Centers for Disease Control and Prevention (CDC)

  • A porcentagem estimada de crianças com TEA tem crescido desde o ano de 2014. Cerca de 1,7% (1 em 59 crianças) foram identificadas com TEA, com base em dados relatados de 11 comunidades nos Estados Unidos em 2014. Estimativas anteriores da Rede ADDM variaram de 1 em 150 (0,66%) a 1 em 68 (1,5 %). Além disso, a porcentagem de crianças identificadas com TEA variou amplamente pela comunidade, nas 11 comunidades analisadas pela Rede de Monitoramento de Incapacidades do Autismo e do Desenvolvimento da CDC.
  • A porcentagem de TEA entre crianças negras e hispânicas aproxima-se da porcentagem em crianças brancas
  • Para o diagnóstico é necessário que sejam apresentados registros preocupantes sobre o seu desenvolvimento das crianças na primeira infância. Quanto mais cedo uma criança é avaliada por atrasos no desenvolvimento, mais cedo ela pode receberá estímulos de acordo com esses atrasos, mesmo que a criança ainda não tenha fechado um diagnóstico de autismo.
  • Em 2017, foi sancionada a Lei nº 13.438, que obriga o Sistema Único de Saúde (SUS) a adotar protocolos padronizados para a avaliação de riscos ao desenvolvimento psíquico de crianças de até 18 meses de idade.

Infelizmente, no Brasil, ainda não existem estudos mais aprofundados que apontem dados estatísticos sobre autistas brasileiros.

Autismo e os critérios diagnósticos do DSM 5

Autismo: Selma Sueli Silva, aos quinze anos e as irmãs Sol e Sandra.

A partir de 2013, com o Manual de Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais 5.ª edição (DSM 5), o autismo passou a ser chamado de Transtorno do Espectro do Autismo e abarcou o chamado Transtorno Autista, a Síndrome de Asperger, o Transtorno desintegrativo infantil e o Transtorno Invasivo do Desenvolvimento.

Se o autismo reúne desordens do desenvolvimento neurológico presentes desde o nascimento ou começo da infância, como diagnosticar o autismo no adulto?

A identificação do autismo em adultos é o resultado de um procedimento de investigação sobre sua infância e para reconhecer os sintomas do autismo em adultos, que podem estar camuflados e até serem confundidos com outros transtornos.

O diagnóstico é dado pelo neurologista ou psiquiatra que entenda de autismo ou que receba um paciente com o resultado da avaliação diagnóstica feita por um neuropsicólogo.

Sobre o autismo em adultos: sinais e sintomas

O autismo em adultos existe e é tão comum quanto em crianças. A sociedade precisa entender que o TEA não termina na infância. As características do autismo em adultos também variam conforme o grau de comprometimento funcional que ele apresenta.

Tanto para autistas sem o diagnóstico quanto para aqueles que já conhecem a sua condição, as dificuldades têm a ver com a linguagem, interação social, processos de comunicação e comportamento social.

Os autistas mais leves geralmente sofrem com problemas para concluir um curso superior, trabalhar, manter um relacionamento amoroso e uma vida social regular. Esses desafios ocorrem por causa das barreiras que existem para uma pessoa autista, com cérebro neurodivergente.

Uma dessas grandes barreiras para o autista adulto é a falta de informação da sociedade. Geralmente, quando o adulto comenta sobre o desejo de ficar sozinho, logo ouve que isso é algo que todo mundo tem. A diferença é que, no autismo isso é algo muito maior e a forma de lidar e sentir é bem diferente.

Já os autistas mais severos, que precisam de um grau maior de suporte, eles podem ter uma vida muito limitada, e até mesmo precisar de internamento no momento em que perdem seus cuidadores. Uma realidade que pode ser mudada com a informação correta sobre as características dessas pessoas e, consequente, aparato para suas necessidades específicas.

Selma Sueli Silva na formatura de sua mãe Irene. Ela está fazendo um stim, estereotipia, movimento repetitivo do TEA

Alguns sinais para reconhecer o autismo em adultos.

  1. Dificuldade para compreender regras sociais que não são óbvias, como por exemplo sinais usados para comunicação, (gesto, olhar, careta), o que pode ser interpretado, no senso comum, como: ele é frio, não liga para nada, não se envolve. A linguagem corporal, porém, pode ser desenvolvida e é uma habilidade social que deve ser ensinada ao autista.
  2. É comum que a pessoa tenha problemas para entender metáforas, ironias e piadas que têm duplo sentido ou uma mensagem subliminar.
  3. A pessoa pode parecer ingênua, não ver maldade ou malícia em situações que outras pessoas normalmente perceberiam rapidamente.
  4. Os autistas podem ter dificuldade para demonstrar empatia com o outro, quando não percebem sinais emocionais sutis como tristeza, raiva, tédio e até de alegria, a menos que sejam bastante óbvias.
  5. Dificuldade de socialização, o que leva a um desconforto ou estranheza na hora de cumprimentar alguém, com a proximidade, toque ou abraços de pessoas que não sejam muito íntimas.
  6. Autopercepção corporal pobre.
  7. Parecem encarar a vida de forma muito prática e objetiva.
  8. Preferência por assuntos muito específicos, por muito tempo, e como tem dificuldade para perceber sinais sutis, muitas vezes não conseguem perceber quando as outras pessoas não estão mais interessadas no assunto.
  9. Uso de linguagem muito formal e inadequada ao ambiente.
  10. Dificuldade em falar de seus sentimentos ou emoções
  11. Podem passar por pessoas inconvenientes devido ao uso de linguagem direta porque são extremamente honestas com seus pensamentos e não percebem que podem chatear o outro.
  12. Apresentam muita resistência para fazer as coisas fora do planejado e sair da rotina, ficando ansiosos e irritados com isso.
  13. Interesse centrado (hiperfoco) em ferramentas, instrumentos, mecanismos tecnológicos ou outros objetos.
  14. Alguns autistas também podem ter um desempenho acima do comum em determinadas atividades, e serem considerados extremamente talentosos em suas áreas de interesse. Mas ao contrário do que se possa imaginar, apenas uma parte pequena dos autistas (cerca de 10%) está deste lado do espectro.
  15. Alto nível de ansiedade que pode levar a diagnósticos equivocados, como depressão, por exemplo.
Selma Sueli Silva

Selma Sueli Silva é jornalista, radialista, youtuber, escritora, cineasta, relações públicas e pós-graduada em Comunicação e Gestão Empresarial. Foi diagnosticada com TEA (Transtorno do Espectro Autista) em 2016. Mantém o site “O Mundo Autista” no Portal UAI. É autora de três livros e diretora do documentário “AutWork – Autistas no Mercado de Trabalho”.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal UAI.

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