Victor Mendonça e Selma Sueli Silva
Hoje é um dia muito especial. O universo feminino sempre nos encantou. Vejam as várias mulheres de “Danielle, Asperger”, o romance infanto-juvenil. “Danielle” é cheio de personagens mulheres marcantes. No livro “Dez Anos Depois”, há um artigo falando, justamente, sobre a evolução do papel na mulher nas séries de televisão dos Estados Unidos e como isso se reflete na sociedade. Afinal, “a arte imita a vida”, já dizia Orson Welles. Esse artigo fala justamente isso, que no começo o papel da mulher era de submissão, como em “A Feiticeira”, que era protagonizado por uma bruxa que poderia fazer e acontecer o que ela queria, só que não, porque vivia submissa à vontade do marido. No mesmo livro são retratadas “As Panteras”, que eram aquelas mulheres todas poderosas que podiam fazer o que quisessem, eram mais competentes que os colegas homens de profissão das séries policiais da época, mas tinham um chefe. Quem, quem? Tinha uma abertura assim: “Mas eu as afastei de tudo isso? E agora elas trabalham para mim”, como quem diz que mesmo as melhores e mais brilhantes mulheres precisam de um homem para tirá-las da mediocridade. Muito triste isso. Embora a série “As Panteras” seja um marco feminista, hoje a gente vê até certo machismo na série: o chefe lá, sempre com belas mulheres, e elas trabalhando e ralando.
A gente se esquece de analisar quando o processo já está mais adiantado. Tanto “A Feiticeira” quanto “As Panteras” estão entre nossos programas. A personagem tinha um marido que era o provedor da casa sim, ele era um publicitário, trabalhava em uma agência de publicidade, mas ela tinha toda a diretriz da administração da casa, e do trabalho dele também. Vários episódios mostram que a grande ideia veio dela. Tudo bem. No processo de transição, ela sempre atrás, nunca na frente ou lado a lado. Mas adorávamos assim mesmo. Virou clássico.
“As Panteras” mostrava um tipo de mulher diferente, uma mulher que podia lutar, podia brigar, podia se defender. Mas, de fato, era um homem todo na dele que comandava. O negócio é o seguinte: se a gente analisar, até pouco tempo a mulher podia pouco na nossa sociedade. Mais recentemente, as séries mostraram as mulheres nos mais variados setores da sociedade, seja em “Pretty Little Liars”, adolescentes envolvidas em uma trama policial, ou a mãe alcoólatra tentando recuperar a vida em “Mom”. Uma série também muito boa. Presidiárias, advogadas… Mulheres dos mais diversos setores da sociedade, que é o que acontece hoje. E isso é muito bom porque mostra que as mulheres estão ganhando cada vez mais espaço.
Mas, qual é o lado bom que a gente pode comemorar? Se olharmos em termos de história, até pouco tempo, porque 100 anos não é nada em termos de história, 80 anos não é nada em termos de história, a mulher era muito mais dependente, sem direito a voto, sem poder escolher uma série de coisas. Aí sim, nós evoluímos, conquistamos muitas coisas, ganhamos as ruas, ganhamos o mercado de trabalho. Mas os homens — não é a maioria — se assustam quando as mulheres dizem que ainda não está bom. É difícil para uma pessoa que tem um privilégio, um homem cisgênero (que é o que se identifica com o sexo masculino) assumir que ele tem sim um privilégio, que não é uma coisa que ele conquistou por mérito.
Muitos homens gostam de bradar em alto e bom som que em seu trabalho há muito mais mulheres. No rádio, eles falam muito disso. Mas ao microfone você conta as mulheres nos dedos de uma mão. Porque ao microfone, em que você tem a relação direta com o ouvinte, estão os homens. As mulheres, na maioria dos casos, ainda estão na produção, na apuração. Não que não seja importante, mas deveria haver os dois elementos. E na hora de selecionar uma estagiária, ainda se opta por uma estagiária mulher, como se produção e apuração não pudessem ser trabalho de um homem. Pode sim! Muitas vezes as mulheres acabam sendo escada para os homens brilharem, e isso não é nada bom.
Outra coisa é que não existe uma mulher que tenha saído de casa uma vez, duas vezes, milhares de vezes, e não tenha sofrido pelo um assédio. Ou assédio moral ou assédio sexual. Ou os dois. Então, assim, a mulher foi tirando isso de letra, então aquela piadinha do homem, aquela gracinha que o chefe faz. Não é gracinha, é constrangedor. Mas a mulher para se defender, acabou não brigando por tudo, ela escolheu as suas frentes de luta e tem que escolher mesmo. Toda vez que a gente está em um momento crítico da economia ou da democracia, falam em cortar “privilégios” da mulher. Quais são os “privilégios da mulher”? Ter filho, gerar? Ficar amamentando em um período em que o corpo dela todo está sendo uma fábrica de criar vidas, de produzir vidas, na hora da amamentação? Nesse período, ela tem tanto hormônio no corpo que não é a mesma pessoa. Mas seria privilégio ela ficar em casa para cuidar de valores que vão ser integrados na sociedade. O que acontece quando uma mãe não cuida do filho, quando a família não cuida do filho? Não tem essa de pai ajudar mãe não, pai e mãe são os dois responsáveis pelo filho.
O que acontece é quando não há esse pensamento, criamos pessoas jovens com pensamentos retrógrados e machistas. E tem muita mulher com pensamento machista também, do tipo que fala: “Quero um homem para me dar tudo do bom e do melhor que eu mereço?”.
O importante é que a mulher, enfrentando vários perigos, várias ameaças, inclusive o perigo de morrer tão cedo quanto o homem, porque quando entra no mercado de trabalho há aquele choque, as três jornadas, e ela também enfrenta outro problema seríssimo. Vejam a Marielle, a vereadora que foi morta. Que país é esse em que uma mulher daquele quilate, uma profissional daquele quilate, morre e não temos a solução sobre o assassinato? O motorista dela foi junto. E aí? Fica nisso mesmo?
Não podemos nos esquecer dessas distorções, mas devemos comemorar muito o Dia da Mulher. A mulher é maravilhosa. A mulher tem seu lugar, o homem tem seu lugar. Vamos nos lembrar das mulheres autistas, também, que buscaram seus diagnósticos. É muito pano para manga. E a sociedade tem que ficar esperta, tem que ficar atenta para verificar a evolução, porque senão a gente compromete as novas gerações que vão chegar ao mundo.
A regra é simples. É só respeitar cada um com o seu jeito, com o seu gênero, que tudo dá certo.
Acessibilidades para uma explosão sensorial no autismo e o Transtorno do Processamento Sensorial (TPS) são…
Sophia Mendonça e o Budismo: “Buda é aquele que consegue suportar” e mesmo o inferno…
Crítica de cinema sem lacração, Sophia Mendonça lança newsletter no Substack. De volta às raízes,…
Conto infantil é metáfora para o autismo? Youtuber e escritora Sophia Mendonça lança contação de…
Nunca Fui Beijada é bom? Drew Barrymore é a alma cintilante de clássico das comédias…
Pensamento lógico e o autismo. O que isso significa? Tenho considerado o peso da ponderação…