Victor Mendonça

Victor Mendonça lança livro ‘Neurodivergentes – Autismo na Contemporaneidade’

Victor Mendonça e Selma Sueli Silva

“Para Patrícia Piacentini, especialista em desenvolvimento infantil e diretora do Centro de Desenvolvimento Infantil (CDI), também devemos levar em conta as dificuldades sensoriais e motoras que fazem com que a inteligência do autista seja mais testada. ‘A inteligência de qualquer ser humano é desafiada quando o sistema sensorial é desafiado. Portanto, a inteligência do autista não é diferente, mas, sim, desafiada.”

Eis uma parte desse livro recém-saído do forno, escrito por Victor Mendonça, “Neurodivergentes”. Falando não só como mãe, mas como profissional também, acho a história do livro muito bacana. Porque um autista vai à Universidade, e o seu talento é aproveitado para produzir uma obra que fala do Autismo na Contemporaneidade. Inédita, essa obra. O autismo nos dias de hoje, com temas inéditos, que foram pouco ou nada abordados, aqui no Brasil, principalmente.

“‘Neurodivergentes’ busca compreender o funcionamento do cérebro autista e a relação com o mundo ao redor, não apenas no que se refere às características centrais do TEA, mas às nuances que tornam cada autista único”.

Voltamos no ano de 2017. Victor foi fazer uma matéria para o jornal Impressão, do UNI-BH, na época editado pelo seu professor, pós-doutor em Jornalismo Científico, Maurício Guilherme Silva Jr. Maravilhoso, fera, sensacional! Foi paraninfo da turma de Victor. E o Maurício ficou impressionado com o foco de pesquisa de Victor nos temas ligados ao autismo, principalmente nessas nuances que aqui fala, aproveitando conceitos repletos de controvérsias, de complexidade e não se atendo apenas ao lugar comum. O Maurício disse: “Victor, seu hiperfoco de pesquisa neste assunto não é brincadeira não, eu não quero que você escreva só um artigo científico como seus colegas vão escrever não, eu quero que você faça um livro”.

E daí surgiu “Neurodivergentes – Autismo na Contemporaneidade”. É uma obra jornalístico-acadêmica que começa com o prefácio do Maurício chamado “O Signo da Liberdade”, e que Victor vai deixar para vocês conferirem. Depois tem uma introdução da doutora Raquel Del Monde, que já esteve no Canal e no Blog, é uma das grandes parceiras da gente e uma das maiores autoridades em autismo do Brasil, uma pessoa que estuda o autismo há muitos e muitos anos. E olha que ela nem é tão velha assim, pelo contrário, ela é muito jovem.

Depois vêm os três capítulos temáticos. O primeiro capítulo trata sobre autismo, inteligência e neurodiversidade. Ele fala sobre a imaginação dos autistas, como é a inteligência, os diversos conceitos de inteligência; inteligência fluida, inteligência cristalizada. Quem acha que autista não tem imaginação vai ver que isso não é bem assim. Quem acha que autista não tem empatia vai ver que não é bem assim. Tem entrevistas com pesquisadores de alto nível, como por exemplo, Maria Luísa Nogueira e Jeane Mendes, ambas da UFMG; com a própria doutora Raquel Del Monde, com autistas, com o Rodrigo Tramonte, um cartunista autista do sul, vem a Amanda Paschoal, a Fernanda Santana, que é presidente da ABRAÇA – Associação Brasileira para Ação por Direitos das Pessoas com Autismo. Fera também.

Aí vem o segundo capítulo, que conta muitas histórias, porque é um livro jornalístico-acadêmico, mas além de contar histórias de várias mulheres autistas, faz também um resgate histórico, porquê o autismo no feminino é subdiagnosticado, seja por questões culturais, estruturais ou do cérebro mesmo. Aí Victor fez um vasto trabalho de pesquisa acadêmica, concluindo que a proporção de 4 homens para uma mulher está mais do que defasada, que o correto é, mais ou menos, de dois para um, segundo alguns pesquisadores; ou 1,15 para 1.

O terceiro capítulo fala sobre autismo e meios de comunicação. Victor aborda como a mídia relata e nos mostra o autismo, como o autismo nos chega, como espectadores comuns, pela mídia, seja pelas séries de TV, pelos programas de televisão. “O movimento ‘Nada sobre nós sem nós’ existe na prática? Os autistas são ouvidos pela produção dos meios de comunicação’?”. Uma das coisas que ele aborda é justamente o ativismo pelos próprios autistas, que é muito importante. Nada sobre nós sem nós!

E aqui mais um trechinho: “A psiquiatra e pediatra Raquel Del Monde observa que muitas mulheres com autismo de alto funcionamento apresentam maior facilidade para compreender aspectos-chave da interação social e desenvolvem a habilidade de copiar comportamentos socialmente desejáveis, a partir da observação das pessoas”. Não é porque a mulher é falsa. Como são mais cobradas na interação, acabam observando mais esses comportamentos.
Victor lembra sua primeira conversa com Maurício sobre o livro. Ele falou que tinha um cérebro neurodivergente – daí vem esse título, “Neurodivergentes”, e se você não aproveita as potencialidades, se você quer enquadrar esse cérebro neurodivergente num cérebro típico, fazendo um trabalho “normal”, você não vai conseguir extrair dele todas as suas potencialidades. Então, o Maurício comprou a ideia, o convidou para fazer o livro, e Victor topou na hora.

E olha que esse professor, com a sensibilidade acadêmica, didática, profissional, aliada à sensibilidade como ser humano, enfrentou, nesse período, crises do Victor, uma das piores crises que ele teve, com afastamento da faculdade por determinado período, e tudo ali, lado a lado, fazendo, ou melhor, lembrando ao Victor que ele pode, que ele pode sempre. Maurice – como Victor o chama – o emociona.

Claro que a gente não poderia deixar de prestar essa homenagem ao Maurício, que foi o orientador deste projeto, pós-doutor em Jornalismo Científico. Ele vai mediar uma mesa no Simpósio Internacional sobre Educação Inclusiva, promovido pelo Mundo Asperger, em parceria com o Tribunal de Justiça de Minas Gerais e com a Universidade Federal de Minas Gerais, através do grupo Corpos Mistos. Ele vai mediar uma mesa que vai ter o lançamento de três livros: esse livro do Victor; “Camaleônicos”, de Selma Sueli Silva, e o livro do pai do Victor, Roberto Mendonça, “O Menino Artista”. Nessa mesa haverá uma prosa que o Maurício vai intermediar, levando para quem estiver na plateia as curiosidades que todo mundo quer saber e conversa, sobre o livro, sobre o tema, enfim, vários assuntos.

Será dia 22 e 23 de Março, agora, e quem tiver interesse pode achar mais notícias pelo Sympla: https://www.sympla.com.br/simposio-internacional-sobre-educacao-inclusiva—rodas-de-conversa-sobre-a-pratica-da-inclusao__423266. O livro também está na pré-venda, e pode ser adquirido pelo link: https://pag.ae/7UvmuWwga.

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