Meu primeiro contato com o cinema de Sarah Polley, que é umas grandes roteiristas e diretoras da contemporaneidade, aconteceu por meio de um trabalho dela como atriz. E muito antes de a cineasta ganhar o Oscar por “Entre Mulheres” (2022), na cerimônia de 2023. Ou seja, a primeira vez em que me encantei com a sensibilidade da artista aconteceu ao assistir a “Minha Vida Sem Mim” (2003). Afinal, esse belo e doloroso drama trazia Sarah Polley como protagonista. Depois disso, ela dirigiu outrss pérolas, como “Longe Dela” (2006) e o documentário “Histórias que contamos” (2012). E em meio a tantas obras delicadas e fortes dessa filmografia encontra-se “Entre o Amor e a Paixão” (2011).
O filme gira em torno de Margot (Michelle Williams), cujo casamento com Lou (Seth Rogen) tem momentos alegres, como se vê pelas brincadeiras que eles vivem fazendo. Porém, ele acabou tornando-se desgastante devido à repetição das mesmas coisas sempre. Por exemplo, o marido só cozinha frango. Por isso, quando conhece Daniel (Luke Kirby), ela o vê como uma novidade em sua vida. E para complexificar a situação, a moça apaixona por ele. Tudo isso se complica quando ela descobre que o rapaz é vizinho do casal.
“Entre o Amor e a Paixão” não tem a mesma originalidade e ousadia das outras obras de Sarah Polley. Isso ocorre, principalmente, porque o tema já foi explorado por uma grande quantidade de produções. Mesmo assim, a narrativa recebe um tratamento diferenciado por causa da delicadeza e sensibilidade de Polley ao escrever o roteiro. Dessa forma, até os momentos de humor surgem de maneira natur al, por meio de gracinhas feitas pelos personagens e que são comuns em conversas cotidianas. Um exemplo disso envolve a personagem de Sarah Silverman, que faz uma participação interessante como uma alcóolatra.
Assim, com diálogos poéticos e reveladores, percebemos o quanto a falta de novidades faz mal a qualquer pessoa. Isso porque Margot e Lou se amam. Porém, o amor não é suficiente para evitar uma crise no casamento dos dois quando a rotina do casal se torna enfadonha. Então, quando Daniel surge como algo novo na vida da protagonista, ela fica dividida. Será que vale a pena correr o risco de se envolver com ele? E mais: como diz uma figurante, o novo também não se torna velho?
Aliás, ficar dividida é outra sensação desagradável explorada por Polley. Afinal, Margot passa a maior parte do filme perdida, sem saber o que fazer. O que causa angústia não apenas na personagem, mas também no espectador, que tenta imaginar o que faria numa situação como esta e dificilmente encontra a resposta. Então, é como a própria protagonista diz: ela tem “medo de sentir medo”. Claro que a intepretação da talentosa Michelle Williams (“Os Fabelmans“), que comove e convence no papel, ajuda no envolvimento com os dilemas da personagem.
Sophia Mendonça é uma influenciadora, escritora e desenvolvedora brasileira. É mestre em Comunicação, Territorialidades e Vulnerabilidades (UFMG) e doutoranda em Literatura, Cultura e Tradução (UfPel). Em 2016, tornou-se a pessoa mais jovem a receber o Grande Colar do Mérito em Belo Horizonte. Em 2019, ganhou o prêmio de Boas Práticas do programa da União Européia Erasmus+.
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