Crítica Wicked - Parte 2. Entenda a mudança de tom do diretor Jon M. Chu e como Ariana Grande redefiniu Glinda no final épico.
“Wicked: Parte 2” transcende a fantasia para se estabelecer como uma potente alegoria sobre desinformação, propaganda e totalitarismo. Então, longe da inocência acadêmica da Universidade de Shiz, o filme mergulha na brutalidade de um regime onde Elphaba deixa de ser apenas uma estudante incompreendida para se tornar o alvo principal do Estado. Dessa forma, o Mágico e Madame Morrible orquestram uma caçada implacável. Eles rotulam-na como a “Bruxa Má” em um cenário de guerra iminente.
Nesse turbilhão, as lealdades são testadas. Fiyero, agora como líder da perseguição, vive o conflito dilacerante entre o dever militar e os próprios sentimentos. Além disso, a escala da produção amplia o contraste entre a pompa artificial da Cidade das Esmeraldas e a dura realidade dos fugitivos. Com isso, prepara o terreno para a chegada de elementos icônicos do clássico de 1939, “O Mágico de Oz”.
Contudo, o coração da trama reside no vínculo inquebrável entre Glinda e Elphaba. Afinal, mesmo em lados opostos da história oficial, a cumplicidade entre elas desafia a narrativa imposta. E prova que, apesar do caos, a amizade é a força transformadora que define seus destinos. Dessa forma, se o filme anterior era mais catártico e alegre, este é mais emocionante ao trabalhar temas como legado, a força dos discursos e dos afetos e o exercício da bondade.
O que há de mais encantador na produção, além da relação entre as protagonistas, encontra-se na performance de Ariana Grande. Isso porque ela consegue o feito complexo de humanizar o arquétipo da “Bruxa Boa”. Com isso, transforma a garota popular em uma líder trágica presa na gaiola dourada que ela mesma ajudou a construir. Sem contar que Ariana domina as microexpressões. Portanto, seu sorriso público esconde o medo visceral de uma sobrevivente. Vocalmente, ela troca os trinados operísticos por um canto mais narrativo e sóbrio.
Tudo isso culmina na vulnerabilidade crua como ela interpreta “For Good”, a melhor música do filme, em dueto com Cynthia Erivo. Ariana constrói a devastação da perda muito antes do fim. Dessa forma, serve como âncora emocional que segura o público enquanto Cynthia Erivo impulsiona a ação.
O diretor Jon M. Chu, que solicitou uma série de regravações de cenas após o sucesso do primeiro longa-metragem, opera uma mudança radical de tom. Isso porque, ao abandonar o deslumbramento do primeiro filme, ele adota uma linguagem urgente e tensa. Então, se a Parte 1 foi sobre escolhas, a Parte 2 é sobre consequências.
Além disso, a decisão de capturar os vocais ao vivo no set revela-se mais uma vez um grande trunfo. Afinal, números como “No Good Deed” tornam-se colapsos psicológicos palpáveis. Dessa forma, Chu utiliza a grandiosidade do orçamento para, surpreendentemente, realçar o drama íntimo. Com isso, transforma um espetáculo de efeitos visuais em um drama humano caloroso e dolorosamente real.
Sophia Mendonça é jornalista, professora universitária e escritora. Além disso, é mestre em Comunicação, Territorialidades e Vulnerabilidades (UFMG) e doutoranda em Literatura, Cultura e Tradução (UFPel). Idealizadora da mentoria “Conexão Raiz”. Ela também ministrou aulas de “Tópicos em Produção de Texto: Crítica de Cinema “na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), junto ao professor Nísio Teixeira. Além disso, Sophia dá aulas de “Literatura Brasileira Contemporânea “na Universidade Federal de Pelotas (UfPel), com ênfase em neurodiversidade e questões de gênero.
Atualmente, Sophia é youtuber do canal “Mundo Autista”, crítica de cinema no “Portal UAI” e repórter da “Revista Autismo“. Aliás, ela atua como criadora de conteúdo desde 2009, quando estreou como crítica de cinema, colaborando com o site Cineplayers!. Também, é formada nos cursos “Teoria, Linguagem e Crítica Cinematográfica” (2020) e “A Arte do FIlme” (2018), do professor Pablo Villaça. Além disso, é autora de livros-reportagens como “Neurodivergentes” (2019), “Ikeda” (2020) e “Metamorfoses” (2023). Na ficção, escreveu obras como “Danielle, asperger” (2016) e “A Influenciadora e o Crítico” (2025).
As metáforas em Um Truque de Mestre 3: crítica do filme aborda os cavaleiros e…
Uma crônica de Sophia Mendonça sobre a garota autista na Bolha, inspirada em Wicked e…
O Livro que Devolveu a Voz ao Autismo no Brasil. completa 10 anos "Outro Olhar:…
O Significado de "Bandaids Over a Broken Heart" e a evolução emocional de Katy Perry…
Presidente da Autistas Brasil debateu o diagnóstico tardio, a mercantilização das terapias e o preconceito…
Crítica de La La Land - Cantando Estações: A Magia do Musical de Damien Chazelle…