A violência do sonho americano em Anora, de Sean Baker, ganhador da Palma de Ouro em Cannes e favorito ao próximo Oscar.
Anora é uma comédia dramática encantadora sobre uma garota de programa e dançarina de striptease que, de maneira inusitada, se vê casada com um playboy bilionário. O mais interessante do longa-metragem, além da interpretação formidável de Mikey Madison, é o modo como o diretor e roteirista Sean Baker transforma a história em uma montanha-russa de gêneros e tons. Isso vai do conto de fadas juvenil a comédia caótica no estilo dos anos 30.
Todo esse caos ocorre para revelar toda a violência que a história esconde. Afinal, a obra mostra as contradições do sonho americano de mobilidade social quando este se encontra com o preconceito. Além disso, Anora humaniza a figura daquela prostituta. Aliás, Madison a encarna com a antítese da força e da impotência. Essa humanização também se dá porque a personagem, que acredita estar vivendo um conto de fadas, logo se percebe na armadilha de se notar como apenas mais uma na vida do rapaz que verdadeiramente amou.
Outro destaque do elenco é o ator Yuti Borisov, cujo personagem desperta a fúria de Anora. E, embora ela tenha razão em se sentir ultrajada com a sua presença, ele faz isso justamente por ser quase tão vítima da situação quanto ela. Não à toa, ele é o único que demonstra empatia pela protagonista. Isso acontece, inclusive, por ele evidenciar a admiração de ver aquela mulher lutando contra as circunstâncias para preservar a própria dignidade.
Anora é um filme caótico e extremamente engraçado, com um ritmo alucinante, mas jamais deixa de soar autêntico. Essa qualidade se deve tanto à ótima direção de atores por Sean Baker quanto pela fotografia de Drew Daniels, que sabe trabalhar as cores e a luz para criar uma atmosfera realista. Além disso, o final é chocante. Afinal, ele frustra as expectativas de redenção que costumamos esperar de uma narrativa como essa. Porém, também sugere belos caminhos de uma maneira poética.
Sophia Mendonça é jornalista, professora universitária e escritora. Além disso, é mestre em Comunicação, Territorialidades e Vulnerabilidades (UFMG) e doutoranda em Literatura, Cultura e Tradução (UfPel). Ela também ministrou aulas de “Tópicos em Produção de Texto: Crítica de Cinema “na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), junto ao professor Nísio Teixeira. Além disso, Sophia dá aulas de “Literatura Brasileira Contemporânea “na Universidade Federal de Pelotas (UfPel), com ênfase em neurodiversidade e questões de gênero.
Atualmente, Sophia é youtuber do canal “Mundo Autista”, crítica de cinema no “Portal UAI” e repórter da “Revista Autismo“. Aliás, ela atua como criadora de conteúdo desde 2009, quando estreou como crítica de cinema, colaborando com o site Cineplayers!. Também, é formada nos cursos “Teoria, Linguagem e Crítica Cinematográfica” (2020) e “A Arte do FIlme” (2018), do professor Pablo Villaça.
A amizade em Miss Simpatia, assim como o carisma reluzente de Sandra Bullock em papel…
Cuidado! Autistas podem perder dinheiro? é um vídeo do canal do YouTube Mundo Autista, publicado…
No Dia Internacional da Mulher, optei por transcender a mera celebração. Assim, transformei a minha…
A experiência feminina no filme Barbie e os detalhes sonoros e visuais que tornam essa…
Resenha do livro Danielle, asperger (2016), da autora autista Sophia Mendonça, pelo podcast Escritores em…
O cinema independente no filme Saneamento Básico, assim como a leveza e a profundidade na…