A Hora do Mal cumpre com maestria o objetivo primário do terror. O filme, dirigido por Zach Cregger consegue instilar um medo genuíno.
“A Hora do Mal” cumpre com maestria o objetivo primário do terror. Afinal, o filme dirigido por Zach Cregger consegue instilar um medo genuíno e duradouro. Isso porque o filme evoca uma sensação de pavor que não eu experimentava desde a infância, ao assistir a clássicos como “O Exorcista” e “Psicose”. E alcança essa proeza não por sustos fáceis, mas por uma construção atmosférica primorosa. Tudo isso gera um clima de angústia crescente tanto durante a exibição quanto nas horas seguintes.
Tecnicamente, o filme é um exercício de precisão. A tensão é cuidadosamente elaborada através de enquadramentos calculados que, paradoxalmente, soam naturais na tela. Além disso, o design de som foge do clichê dos jumpscares. Dessa forma, opta por um silêncio opressor e uma trilha sonora sutil. Mesmo o uso intenso da escuridão, um recurso muitas vezes criticado, aqui funciona para imergir o espectador de forma lenta e deliberada nesse universo aterrorizante. O que se potencializa pelo envolvimento de crianças na trama.
O roteiro, aliás, parte de uma premissa arrepiante. No filme, um grupo de crianças, alunas da mesma professora, deixa suas casas misteriosamente às 2h17 da manhã e desaparece. A narrativa remete ao conto “O Flautista de Hamelin”, que é um arquétipo sombrio do nosso imaginário coletivo e serve como base perfeita para o terror. Essa conexão com um medo ancestral confere ao filme uma camada a mais de profundidade macabra.
Assim, a história é contada sob a perspectiva de cinco personagens distintos. Esta é uma escolha que enriquece a construção do mistério e mantém o espectador engajado. Quando o horror mais explícito surge — ainda que o filme não seja excessivamente gráfico —, ele é mesclado a uma sátira que o torna ainda mais perturbador.
Além do suspense, “A Hora do Mal” explora temas complexos como abuso infantil, abuso policial e o senso de coletividade. A perseguição ao conhecimento, materializada na figura dos professores —que também são retratados como humanos e falhos —, costura a trama. É a fusão bem-sucedida desses elementos que torna o filme arrepiante, não apenas pelos sustos, mas por sua sofisticada e aterrorizante construção psicológica.
Sophia Mendonça é jornalista, professora universitária e escritora. Além disso, é mestre em Comunicação, Territorialidades e Vulnerabilidades (UFMG) e doutoranda em Literatura, Cultura e Tradução (UfPel). Ela também ministrou aulas de “Tópicos em Produção de Texto: Crítica de Cinema “na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), junto ao professor Nísio Teixeira. Além disso, Sophia dá aulas de “Literatura Brasileira Contemporânea “na Universidade Federal de Pelotas (UfPel), com ênfase em neurodiversidade e questões de gênero.
Atualmente, Sophia é youtuber do canal “Mundo Autista”, crítica de cinema no “Portal UAI” e repórter da “Revista Autismo“. Aliás, ela atua como criadora de conteúdo desde 2009, quando estreou como crítica de cinema, colaborando com o site Cineplayers!. Também, é formada nos cursos “Teoria, Linguagem e Crítica Cinematográfica” (2020) e “A Arte do FIlme” (2018), do professor Pablo Villaça. Além disso, é autora de livros-reportagens como “Neurodivergentes” (2019), “Ikeda” (2020) e “Metamorfoses” (2023). Na ficção, escreveu obras como “Danielle, asperger” (2016) e “A Influenciadora e o Crítico” (2025).
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