Selma Sueli Silva
A ONU fez, no dia 17, alerta sobre o abandono das pessoas com deficiência, durante a crise provocada pelo coronavírus. É assim, também, no Brasil?
Coronavírus e pessoas com deficiência
Na última terça-feira (17/3), a Organização das Nações Unidas (ONU) publicou um alerta mundial sobre o abandono e o risco de contaminação de pessoas com deficiência (PCDs) pelo coronavírus. Por causa dessa pandemia, muitos PCDs estão sem seus cuidadores. Essas pessoas têm, também, dificuldade para realizar terapias e atividades diárias, já que muitos precisam de auxílio para se alimentar, se vestir e se higienizar.
O alerta ressaltou que as informações e o apoio sobre como se proteger do COVID-19 não chegaram a essa parcela da população apesar de ela estar no grupo de risco. É que os PCDs apresentam condições coexistentes e baixa imunidade. Além disso, medidas de contenção, como distanciamento social e isolamento pessoal, podem ser impossíveis para quem precisa de apoio para comer, se vestir ou tomar banho.
O que pode e deve ser feito
As empresas devem analisar a possibilidade de permitir que os PCDs trabalharem de casa ou, se ficarem em casa, receberem uma licença remunerada para garantir a manutenção de sua renda e a compra de alimentos, remédios e o pagamento de tratamentos.
Já as pessoas com deficiência devem, na medida do possível, evitar sair de casa, além de restringir visitas e não compartilhar talhares e copos. O cuidador deve estar de máscara e higienizar as mãos constantemente e ficar atento à limpeza das próprias roupas. É importante não alterar horários ou dosagens de medicações sem prescrição médica. Isso pode evitar que o quadro geral de saúde da PCD se altere.
É preciso evitar ao máximo se deslocar para prontos-socorros. Os hospitais só devem ser procurados em situação de emergência, no caso de febre ou complicação no quadro de saúde da PCD.
Fatine de Oliveira
Fatine é uma mulher com deficiência. É também feminista, publicitária e designer. Faz mestrado em Comunicação na UFMG, onde realiza pesquisa sobre corpos de mulheres com deficiência no Instagram. Fatine é autora do blog Disbuga, onde divulga suas reflexões sobre o feminismo, mulheres com deficiência e a experiência com a deficiência. E ela completa: “Nas horas vagas gosto de ver seriados, tomando um bom café”.
“No início do Mestrado tudo era muito novo. Meu corpo havia mudado com a distrofia muscular, me tornando bem mais dependente do que na época da graduação. Eu me sentia muito confusa no primeiro ano, porém as coisas foram se estabilizando. Atualmente, estou estudando muito e esboçando os caminhos das minhas análises. Amo descobrir coisas novas e aprendo tanto sobre ser mulher com deficiência como sobre feminismo. Então, posso dizer que minha experiência está sendo uma delícia”.
O velho e péssimo capacitismo
Fatine está na luta pela causa da deficiência desde 2014, quando criou o Blog Disbuga. Antes disso, fazia apenas alguns posts no perfil pessoal do Facebook com as vivências cotidianas com a deficiência. No blog, ela fala de diversos sentimentos, principalmente aqueles referentes ao feminino.
Agora, para a publicitária a crise “escancara como nosso modo de vida está sendo desigual em todos os sentidos. A situação é preocupante, principalmente por se tratar de uma doença misteriosa. Quando começaram as notícias sobre o grupo de risco, notei a ausência das pessoas com deficiência, acredito que isso é resultado de uma política excludente e capacitista à qual estamos submetidos. Infelizmente, muitas pessoas serão afetadas, especialmente as de baixa renda. É lamentável,” finaliza.
A pessoa com deficiência e os meios de comunicação
Para Fatine, “a internet tem sido fundamental nesse momento, apesar de fake news”. Ela argumenta que as pessoas com deficiência chamaram atenção para o abandono das pessoas com deficiência, durante a crise provocada pelo coronavírus, o que trouxe informações preciosas sobre prevenção, como sobreviver à quarentena. E destaca, “o ativismo digital, como sempre, surge como uma terceira via”.
Em ano de eleição, educação e saúde devem ser lembradas
Para concluir, a feminista, publicitária e designer sugere que, em ano de eleição, os candidatos deem ênfase à saúde e educação. Ela lembra que foram as “áreas que tiveram sérios cortes de verba no último ano”. E, aos meios de comunicação, ela pede que “considerem aprender mais com nossas vozes, temos um histórico de resistência importante que merece ser respeitado. Nossas vidas também importam”.
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal UAI.