Eu sei que autista não é tudo igual. Entretanto, há algumas condições que valem para muitos de nós. Por exemplo, nós, pessoas autistas, temos hiperfoco. Aliás, que podem ou não mudar ao longo do tempo. Entretanto, ainda assim, há sempre um que desperta um interesse maior. Quando temos uma família que sabe aproveitar essa característica em nós, podemos nos tornar ‘experts’ no assunto. O mesmo pode acontecer com educadores que passam a usar nosso hiperfoco como acesso à nossa curiosidade para outros assuntos.
Portanto, percebe-se que ao focarmos no autista e em suas habilidades, a construção de uma caminhada vitoriosa fica mais fácil. Embora, muitas pessoas ainda nos tratem como se autista fosse tudo igual, esse é o pior erro que se pode cometer. Aliás, cada ser humano é único, com potencial único, doidinho para se mostrar.
Contudo, como a comunicação não é uma das habilidades das pessoas que estão dentro do espectro, a família e os educadores muitas vezes, se rendem às generalizações sobre aquela pessoa. E então, qual a possibilidade do autista ‘dizer a que veio?’ É preciso conhecê-lo, conquistá-lo para, então, jogar luz em suas habilidades para que elas possam revelar todo o seu potencial.
Aquele padrão de que todo autista gosta de dinossauros, ficou na era desses seres extintos há séculos. Pode até gostar, mas não por regra. Afinal, meus hiperfocos sempre foram o suspense e a investigação. Assim, quando adolescente, li toda a coleção de Agatha Christie, além de ter lido também, nesta época, alguns livros de Maurice Leblanc, sobre Arsene Lupin – o ladrão de casaca.
A partir daí, somei à literatura, os filmes de suspense, investigação policial e as espiãs. Isso mesmo, no feminino, pois no final da década de 70, início dos anos 80, me encantei com a série ‘As Panteras’.
Atualmente, séries que apresentam um desafio que requeira uma solução inusitada também me chama a atenção. Por exemplo, a série ‘Dr. House’, em que um médico (que até parecia autista) era aficcionado por descobrir diagnósticos que outros médicos não conseguiam desvendar.Foram exatamente meus hiperfocos que apontaram a direção profissional que eu deveria seguir. Observem:
1. Sempre gostei de ler
2. A comunicação entre as pessoas me intrigava
3. Sou bastante curiosa
4. Amo investigar e descobrir ‘coisas’
5. Adoro anotar minhas descobertas, ou seja, amo escrever.
Logo:
Optei por ser Comunicadora Social, jornalista e relações públicas. E hoje, me sinto ainda mais feliz, com a tecnologia agregada à minha área. Assim, pude me reinventar como jornalista multimídia. E pensar que tudo começou lá atrás, com a curiosidade de uma garotinha que era muito curiosa, tinha muito tempo para ler pois não conseguia fazer amigos e, ainda assim, amava ‘gente’. A dificuldade para entender pessoas se transformou em minha maior habilidade: contar histórias de gente como a gente!
Selma Sueli Silva é criadora de conteúdo e empreendedora no projeto multimídia Mundo Autista D&I, escritora e radialista. Especialista em Comunicação e Gestão Empresarial (IEC/MG), ela atua como editora no site O Mundo Autista (Portal UAI) e é articulista na Revista Autismo (Canal Autismo). Em 2019, recebeu o prêmio de Boas Práticas do programa da União Europeia Erasmus+. Prêmio Microinfluenciadores Digitais 2023, na categoria PcD. É membro da UNESCOSOST movimento de sustentabilidade Criativa, desde 2022.
Você sabia que a música Firework, de Katy Perry, é um hino budista? Confira a…
Enfeitiçados parte de uma premissa inovadora e tematicamente relevante. O filme traz uma metáfora para…
Sophia Mendonça resenha o especial de Natal A Nonsense Christmas with Sabrina Carpenter, com esquetes…
O autismo na série Geek Girl, uma adaptação da Netflix para os livros de Holly…
Os Fantasmas Ainda se Divertem funciona bem como uma fan service ancorada na nostalgia relacionada…
Ainda Estou Aqui, com Fernanda Torres, recebeu duas indicações ao Globo de Ouro e está…