"Nada sobre nós, sem nós"

Autismo e Sofrimento

É surpreendente como, para uma pessoa autista, enxergar o lado bom da vida se tornou um ato subversivo. Eu conheci a infelicidade profunda e cheguei a acreditar que minha vida seria sempre assim. Contudo, escolhi um caminho diferente, que rejeita a visão 100% médica e fatalista da minha condição.

Devo essa perspectiva, principalmente, à minha mãe. Ela jamais aceitou os prognósticos de que eu seria dependente para o resto da vida ou incapaz de concluir uma graduação. Hoje, felizmente, estou no doutorado, e o autismo é o foco central de minhas pesquisas.

A mudança de percepção sobre Autismo e Sofrimento na última década

O que me dói é a mudança de percepção. Quando comecei a produzir conteúdo sobre autismo em 2015, ser uma autista considerada “bem-sucedida” era motivo de admiração. Agora, parece ser motivo de raiva. Muitos influenciadores — incluindo mães e profissionais de saúde — alegam que, ao celebrar nossas vitórias, estamos invalidando a perspectiva médica de que o autismo só existe se trouxer prejuízo.

A lógica imposta é que, se outros autistas não conseguiram o que eu consegui, eu deveria me esconder para não “romantizar” o autismo. Palavras como “psiquiatria” e “ciência” tornaram-se chavões para descredibilizar qualquer autista que ouse desafiar prognósticos ruins. A máscara cai: atacam sem dó quem, mesmo tendo prejuízos reais, se recusa a focar neles.

Autismo e Sofrimento vindo dos ataques de influenciadores, o que fazer com isso?

Eu escolho romper esse ciclo de violência, que ataca pessoas reais, não uma abstração. As ciências, que são muito mais amplas que a medicina, não existem para me sentenciar, mas para me oferecer possibilidades. Sou grata por ter uma equipe médica que potencializa minha força e lamento que nem todos tenham esse acesso.

Sinto muito, mas não vou me entregar a comportamentos autolesivos, que já me levaram à depressão profunda, apenas para validar a percepção ideológica de terceiros. Prefiro seguir sendo autista — o que não é uma escolha — e, acima de tudo, humana, fazendo da minha existência a melhor experiência possível.

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Autora

Sophia Mendonça é jornalista, professora universitária e escritora. Além disso, é mestre em Comunicação, Territorialidades e Vulnerabilidades (UFMG) e doutoranda em Literatura, Cultura e Tradução (UFPel). Idealizadora da mentoria “Conexão Raiz”. Ela também ministrou aulas de “Tópicos em Produção de Texto: Crítica de Cinema “na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), junto ao professor Nísio Teixeira. Além disso, Sophia dá aulas de “Literatura Brasileira Contemporânea “na Universidade Federal de Pelotas (UfPel), com ênfase em neurodiversidade e questões de gênero.

Atualmente, Sophia é youtuber do canal “Mundo Autista”, crítica de cinema no “Portal UAI” e repórter da “Revista Autismo“. Aliás, ela atua como criadora de conteúdo desde 2009, quando estreou como crítica de cinema, colaborando com o site Cineplayers!. Também, é formada nos cursos “Teoria, Linguagem e Crítica Cinematográfica” (2020) e “A Arte do FIlme” (2018), do professor Pablo Villaça. Além disso, é autora de livros-reportagens como “Neurodivergentes” (2019), “Ikeda” (2020) e “Metamorfoses” (2023). Na ficção, escreveu obras como “Danielle, asperger” (2016) e “A Influenciadora e o Crítico” (2025).

Mundo Autista

Ver Comentários

  • Eu mesmo sou autista, nível 1... e isso "explica" dos porquês de ter sido humilhado, ofendido, roubado, zoado e batido (fisicamente); em excesso, e das partes de pessoas que já me conheciam ao vivo! Viu só?

    Procure no Google por um livro meu, Desventuras Aventuradas: ele explica a "trama" por trás disso aí! Está ligada?

    E você falou em concluir uma graduação... eu ainda não sei se devo cursar: Artes Plásticas, Artes Visuais ou Letras – Português! Sou ilustrador, quadrinista, escritor, pintor, letrista, poeta, youtuber, blogueiro e cosplayer... tem disso, sabe?

    Ah, sim: meus parabéns pelo seu trabalho... ele é fruto de bastante esforço e honestidade! Pode crer aí?

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