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Autismo e Mães Narcisistas

Autismo e mães narcisistas não é regra. Por que não devemos romantizar nem banalizar o papel de mãe? Texto de Sophia Mendonça.

Autismo e mães narcisistas não é regra. Por que não devemos romantizar nem banalizar o papel de mãe? Texto de Sophia Mendonça.

Hoje vamos falar de um tema difícil: autismo e mães narcisistas. É que, recentemente, os casos de atrizes como Larissa Manoela (das novelas “Carrossel” e “Além da Ilusão”) e Jennette McCurdy (da série “ICarly”) têm acendido a discussão sobre esse lado da maternidade. Jennette, inclusive, lançou um livro polêmico e aclamado sob o título “Estou feliz que a minha mãe morreu” (2022).

Esse é um tema delicado para discutir porque eu não tenho uma mãe narcisista. Então, não tenho tanto lugar de fala nesse sentido mais do senso comum do que é lugar de fala. Mas, em minha análise, já achei que minha mãe era narcisista em vários momentos. Ela não é nada disso. Pelo contrário, mamãe é super hiperempática. Ela até se prejudica para tentar ajudar os outros. Inclusive a própria filha.

Por que não devemos romantizar nem banalizar o papel de mãe?

Porém, estou falando isso porque às vezes a gente cria uma regra, um padrão que todo comportamento vai ser fruto de algo narcisista. E não, não estou aqui para romantizar o papel de mãe. Nem para falar que toda mãe é maravilhosa e perfeita. Afinal, existem pessoas e pessoas. E não é diferente com as mães. Claro que a maternidade é um convite para o aprimoramento pessoal e o desenvolvimento de uma responsabilidade por outro ser. E muito amor também. Por isso, tenho certeza que é maravilhoso quando se topa o convite. Mas, nem sempre é o caso.

Voltando a falar de minha mãe, eu a achava muito fria e distante em alguns momentos. Em outros, eu a considerava muito descontrolada. Sem aquela maturidade adulta que me despertasse confiança. Porém, havia situações em que eu percebia esse autocontrole nela. O que me levou a questionar se ela estaria me manipulando. Mas não é nada disso, gente.

Autismo e mães narcisistas não é regra

Afinal, mãe é uma mulher muito vitoriosa na maneira como lida com os desafios dela. Mas ela também é autista, como eu. Então ela também não sabe como demonstrar o afeto da maneira padrão, por vezes. Além disso, ela fica muito nervosa e entra em crise em determinados momentos. E eu tenho que saber lidar com tudo isso.

Então, assim como existem as mães autistas, também há as mães boderline. Este é um outro diagnóstico. Nele, a pessoa pode se mostrar muito emotiva e passional. Além disso, a mãe com essa identificação tende a ser bastante carente e emocionalmente dependente dos filhos. Dessa forma, ela acaba tendo relações difíceis com as pessoas próximas. Porém, isso não significa falta de amor aos filhos.

Não julgue a sua mãe

Enfim, minha mãe é meu grande amor. E eu sei que também sou o grande amor dela. Falo isso não para dizer que toda mãe é perfeita. Afinal, nenhuma é. Aliás, é nas imperfeições que vamos descobrindo a possível utopia. E, claro, há casos em que a pessoa tem até que cortar as relações com a própria mãe. Então, nada do que eu falo se aplica a todas as relações entre mães e filhos. Porém, a gente pede tanto para não ser julgada. Então, não julgue também a sua mãe. No fim, somos todos seres humanos.

Autismo e mães narcisistas não é regra. Por que não devemos romantizar nem banalizar o papel de mãe? Texto de Sophia Mendonça.

Autora

Sophia Mendonça é uma jornalista, escritora e pesquisadora brasileira. É mestre em Comunicação, Territorialidades e Vulnerabilidades (UFMG) e doutoranda em Literatura, Cultura e Tradução (UfPel). Em 2016, tornou-se a pessoa mais jovem a receber o Grande Colar do Mérito em Belo Horizonte. Em 2019, ganhou o prêmio de Boas Práticas do programa da União Européia Erasmus+.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal UAI.

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Priscila
Priscila
3 meses atrás

Sou autista,minha mãe morreu a 4 anos,e sofro até hj, queria q ela fosse autista tmbm, mas infelizmente a realidade é o oposto, o autista era meu pai que era o chamado de louco e agressivo,só me dei conta dos abusos narcisista dela depois de morrer,e me dói o fato dela não ter tido a chance de evoluir pela sua condição narcisista, apesar dos abusos eu tmbm vi ela sofrer pela própria condição, ela morreu de câncer, sofreu muito pelo próprio transtorno,fazia mal,mas era a realidade dela,ela não tinha culpa de ser assim, a rigidez cognitiva do meu pai era um terror p ela e ela p ele,morreu com 54 anos,nunca vi ela feliz