Aqui, a história de Irene continua – Parte 2. É Natal! Contudo, quem quiser relembrar o início da história de Irene, é só clicar aqui! Mãe de Selma e avó de Sophia, Irene continua sua história, agora, na cidade.
Após minha infância na roça, finalmente, mudamos para a “rua”. Aliás, rua era como as pessoas chamavam a cidade. Dessa forma, elas iam à rua, compravam coisas na rua. Então, a cidadezinha compreendia a rodovia. Por exemplo, era da rodovia que saía uma rua principal. No final, uma igreja. De um lado e do outro da ruazinha, um grupo escolar, um cemitério e as casinhas. Para mim, era tudo imenso. Desse modo, era bem diferente de onde eu vinha. Por isso, resolvi ficar atenta. Afinal, facilmente eu me perderia ali! Ah, eu mal chegava a medir um metro! Quantas aventuras eu poderia descobrir ali. Estava bastante animada.
E a vida transcorria serena. Eu morava em uma casa antiga, com assoalho e forro de esteira de bambu. Era só andar para começar a ouvir os barulhos. Eles vinham do teto também. Pensando bem, certamente, tudo aquilo abrigava toda uma existência de fantasmas. Ui!!!
Um enorme quintal me treinou para grandes aventuras e descobertas. Eu e meu irmão viajávamos no dorso do maravilhoso alazão: nossa goiabeira. Fizemos maravilhosos passeios. Quanta felicidade.
Aos domingos, era o dia de irmos à missa. Vestíamos nosso melhor traje e íamos de mãos dadas com papai e mamãe. Sempre cantarolando. Ao chegar na igreja, achava lindo e amava todo esse ritual. O padre paramentado com vestes lindas, gestos cronometrados e o sininho coordenando tudo: ora ele se levantava, ora se ajoelhava , ora todos rezavam juntos.
Quando decorei as orações, aí sim, me senti muito importante. Eu participava de tudo com os adultos. Quer dizer, quase tido. No momento da comunhão, o padre desfilava e seus ajudantes desfilavam pelo meio da igreja, distribuindo hóstias. Crianças só podiam comungar após ter feito a “primeira comunhão”. Não tinha importância. Eu me satisfazia só de ver o padre descer do altar, ponto mais elevado da igreja e se aproximar dos devotos. Naquele momento eu me sentia contemplada.
Após o desejo do “ide em paz e que Deus vos acompanhe” saíamos satisfeitos e alegres, cumprimentando os conhecidos. Era um lindo encontro, com muitas vozes e risinhos. Durante a semana, em algumas noites o sino tocava chamando para o terço. Além disso, em certas comemorações havia as procissões. Amava, pois era muito bom acompanhar a caminhada. Todas essas práticas me faziam sentir abençoada e protegida.
Nos finais do ano, até o ar se transformava. As flores desabrochavam, os pássaros cantavam ainda mais e as borboletas apareciam. Era sinal de que o natal se aproximava. Todos se movimentavam com os últimos preparativos para o encontro da família. Assim, a casa era preparada para receber o fim do ano. Era preciso capinar quintal, pintar as paredes e toda uma mexida interminável para as festas. A mexida predileta, para mim, era comprar roupas novas e os presentes. Era um alvoroço só.
Finalmente, era véspera de Natal! O reboliço, agora, era na cozinha. Um fazer de doces, de carnes e nossa casa ficava com o cheiro de coisas gostosas. Mas, ninguém se esquecia, o preparativo todo era para comemorar o nascimento do menino Jesus. A ceia teria que ficar preparada, mas só seria servida após o retorno da “missa do galo”. Era uma missa especial, rezada à meia noite em ponto. Sem dúvidas, o primeiro minuto do dia de nascimento de Jesus.
Portanto, após deixar a ‘comeria’ toda pronta, todos vestiam suas melhores roupas, quase sempre novas. E lá ia toda cidade para a igreja. Ninguém queria faltar. Todos iam, dos bebês aos velhinhos. Era uma festa religiosa, mas acima de tudo, era uma festa dos corações. Todos estavam muito felizes.
Já em casa, agora sim. Era a hora de cear. Não via a hora. Comida boa, comida especial. E as sobremesas! Minhas preferidas, delicias seguindo o gosto da família. E nessa noite até as crianças eram liberadas e podiam dormir só de madrugada. Todo ano, a gente queria surpreender o Papai Noel. Nunca conseguimos. Bem que mamãe nos alertava: o bom velhinho era astuto.
Ao acordar, no dia 25, mesmo tendo dormido tarde, podíamos ouvir a criançada na rua. Elas iam para a frente das casas. A rua se enchia com o riso e os gritinhos da meninada. Afinal, cada uma delas, queria ostentar o seu presente. Hoje sei, crianças tem o dom de enfeitar e encher de vida onde quer que elas estejam. Por isso, enquanto houver crianças haverá alegria na terra!
Sei que os dias de hoje, trouxeram a evolução dos tempos da tecnologia. É verdade, trouxe inúmeras facilidades. Nada contra, é o progresso. Mas os tempos atuais também levaram os sonhos, as crenças a ingenuidade. Não precisava ser assim. Afinal, apesar de tudo, ainda existem corações que vibram e esperam ansiosos pela alegria e sonhos do Natal. E é nesse sentimento fraternal que depositam toda esperança no sucesso e avanço do ano vindouro.
Um feliz e acolhedor Natal a todos!
Irene Maria da Silva é procuradora aposentada. Mãe de 3 filhas, tem 5 netos e 1 bisneta. É também educadora e advogada.
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