Victor Mendonça e Ludmilla Soares
Ludmilla Soares fala sobre o desafio em manter vínculo escola-aluno-família neste momento de pandemia e Victor Mendonça questiona sobre as medidas adotadas para evitar a evasão escolar.
Victor Mendonça: A superintendente de Educação em Contagem, Ludmilla Soares, vai nos contar as estratégias, os projetos para evitar a evasão escolar por causa da suspensão das aulas nesta pandemia.
Ludmilla Soares: Victor, quando tudo isso começou, lá em meados do mês de março, nós imaginamos que seria um tempo curto de isolamento, de 15 dias a um mês. Nós não tínhamos essa expectativa de ficar tanto tempo longe da escola, do nosso ambiente escolar. A pandemia está aí e é um fenômeno mundial. Estamos tendo que nos adequar a essa nova realidade, na perspectiva de manter o vínculo com os nossos estudantes e de alguma forma garantir a continuidade dos processos educativos. Como eu disse, esse momento é um momento de muita humanização do nosso atendimento. E, com relação aos serviços, ao atendimento e ao contato com os nossos estudantes, a gente está trabalhando basicamente em dois eixos: nós enviamos atividades para casa, para as famílias desenvolverem com os filhos: atividades simples e lúdicas, mas que tem todo um processo interventivo, uma intencionalidade, porque esse é um trabalho do atendimento especializado, que é estimular esse estudante do ponto de vista motor, sensorial e cognitivo. São atividades simples, porém tem esses objetivos pedagógicos, essa intencionalidade.
Estamos fazendo também de modo remoto, o atendimento especializado, de maneira individual e coletiva, usando vários ambientes: meet, google class, zoom, várias ferramentas que a gente tem de acordo com a disponibilidade das famílias e o interesse delas em participar, porque a gente sabe que isso exige uma reorganização da rotina doméstica, dos espaços domésticos, do tempo dessa família para desenvolver essas atividades conosco. Hoje, a grande palavra é colaboração. Parceria e colaboração. A família assume o papel protagonista nesse trabalho que a escola está realizando à distância. Se não houver esse apoio mútuo, essa parceria mútua, a gente não consegue entrar nas casas e realizar o nosso atendimento. Então, é um momento muito especial de aproximação dessas famílias, de todos os profissionais da educação, especialmente nós, da educação inclusiva.
Uma outra preocupação que nós temos já nesse momento, mesmo sem previsão de data para o retorno presencial, é já criar uma comissão municipal para discutir os protocolos de segurança para esse retorno. Uma das principais questões que nós estamos discutindo, não só na rede de Contagem, mas até em nível mundial, é a chamada evasão escolar. Eu participei há pouco tempo de uma reunião com 23 países, que já reorganizaram os protocolos de retorno. Nós precisamos garantir estratégias para que os nossos estudantes da educação inclusiva não se percam nesse processo. Nós comemoramos em 2019, no Brasil, o grande avanço na inclusão escolar com 90% dos estudantes com deficiência matriculados na escola regular no país. Nós não podemos retroceder nessa política de educação inclusiva. Então, neste momento da pandemia, já estamos com o nosso “radar” ligado, monitorando e acompanhando essas famílias. Se tem uma criança que não está tendo contato com a escola, que não tem nenhum tipo de vínculo, que não responde as atividades que são destinadas a elas, nós rapidamente realizamos uma reunião de rede com dirigentes, representantes da saúde, da assistência para fazer o que a gente chama de busca ativa. Só para exemplificar, recentemente, tivemos o caso de uma criança surda da educação infantil cujo os pais são surdos. Por causa da falta de conhecimento de libras e estava muito difícil a comunicação dessa família. Nós precisamos acionar a rede de cuidado, para ir ao domicílio e resgatar essa criança através de um trabalho que foi feito em parceria com profissionais da área de libras, da saúde e da assistência social. E, quando possível, no retorno das aulas presenciais, vamos garantir a segurança com todas as medidas sanitárias, de saúde, de prevenção, uso de máscara, a higienização de equipamentos especiais, como cadeiras de roda, bengala ou outro acessório que o nosso público precisa, para estar na escola diariamente.
Investimos muito durante essa pandemia, na formação de profissionais. Criamos um grupo de estudo especial e nos reunimos às sextas-feiras, com vários temas. O autismo é um tema que nós estamos estudando, a fim de qualificar os professores, para que na volta às aulas, o ensino colaborativo, a aprendizagem significativa, o desenho universal sejam práticas pedagógicas efetivas no processo de inclusão social. Neste momento, estamos buscando caminhos para fortalecer o corpo docente, qualificar os profissionais da educação e, juntamente com as famílias, com essa escuta das famílias, buscar estratégias para esse retorno quando possível.
Victor Mendonça: Parabéns pelo trabalho pois a educação é, realmente, para todos, a gente não pode deixar ninguém para trás. E mesmo que surjam circunstâncias adversas, não podemos nos esquecer desse princípio básico, de que educação é para todos.
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